Publicado dia 11/29/2001 8:12:33 PM em Corpo e Mente
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Dança Espontânea
Sensibilização, expressão e auto-conhecimento
A dança, em suas origens, esteve ligada às necessidades vitais do homem e da coletividade, cumprindo a função transcendente de alimentar-lhes o espírito.
Já o homem ocidental moderno, mergulhado no cotidiano de uma vida cada vez mais alienada de suas necessidades anímicas, privou-se de exercer seu poder criativo e de expressar-se autenticamente. Para nos ajustarmos à vida social, ao padrão cultural dominante, tivemos que abandonar muito de nossos anseios pessoais. Nos desligamos da vontade íntima. Nos desassociamos de nós mesmos. São raras as pessoas que fazem ou trabalham com o que gostam, ou que podem expressar naquilo que fazem, todo o seu potancial íntimo de realização.
Nós sabemos que a não realização pessoal, a incapacidade de expressão, de criatividade, de produção, é uma grande fonte de distúrbios psicológicos, emocionais e mentais.
É importante se compreender como somos absorvidos pelos valores sociais e culturais dominantes. Não apenas intelectualmente, mas sentindo como se instalaram em nosso corpo, na nossa maneira de se expressar, comunicar, falar e se movimentar.
O corpo retrata a nossa história. Quando crianças, nós nos colocamos inteiros em qualquer situação. O corpo atua espontaneamente, sem a mediação da nossa capacidade mental, ainda em formação. Ambos, corpo e mente, crescem juntos. É através de atividades lúdicas que, quando crianças, absorvemos e apreendemos a realidade. A experimentação e o uso dos sentidos são de fundamental importância para o desenvolvimento motor e psicológico.
A criança experiencia de tudo: ela vive cada personagem que cria em sua imaginação. Ela dramatiza a sua experiência, ela se coloca de corpo e alma na brincadeira, vive intensamente suas emoções. Nela, tudo flui espontaneamente.
Infelizmente essa fase não dura muito tempo. Cedo a criança começa a ser tolhida em suas potencialidades: em casa, na escola, na vida social. A socialização da criança é um processo de adaptação a um determinado molde cultural, um padrão de conduta. Logo a sua espontaneidade é tolhida.
A espontaneidade é o livre fluir, em todos os seus aspectos. Da respiração aos gestos corporais. Da expressão das emoções e sentimentos íntimos à forma como se utiliza o corpo e suas possibilidades expressivas.
A dança, quando espontânea, recupera este potencial adormecido. Ela se mostra um maravilhoso caminho para lidarmos com nosso próprio corpo, nosso próprio ritmo, emoções e capacidade expressiva. Com a dança nós desenvolvemos uma linguagem corporal subjetiva, que pode tornar-se objetiva, consciente, à medida que nos aprofundamos neste processo. Partimos de uma concepção integrada do homem na qual, corpo, mente, sentimentos, gestos, posturas, constituem diferentes aspectos interdependentes de uma mesma individualidade.
Exercícios de respiração e vivências para os sentidos são utilizados com o objetivo de colocar a pessoa em contato consciente com suas sensações internas. A respiração e os sentidos fazem a ponte entre todo o mundo interior e o exterior. O toque e a massagem contribuem para a percepção do próprio corpo e para a dissolução dos pontos de bloqueios, condicionamentos de gestos e posturas. O enfoque do esqueleto como suporte estrutural imprime novas qualidades e possibilidades de movimento. Estas técnicas se integram e dão suporte para a manifestação expressiva e espontânea das pessoas que buscam a dança como um caminho para o auto-conhecimento.
Integrando os dois percursos: o da interiorização (busca de contato consigo mesmo) e o da exteriorização (expressão através de movimentos livres), a Dança Espontânea proporciona resgatar a integridade e a espontaneidade no modo de ser, bem como o desenvolvimento do potencial criativo, tão necessário para a harmonia e crescimento pessoal.