Será que estamos vivendo numa simulação? Em algo criado pra nos enganar, ou nos prender / proteger de algo que existe para além?
A idéia não é nova. Já havia sido aventada por Buda, Sócrates e até mesmo Jesus (na sua críptica descrição do "Reino de Deus" para seus apóstolos), mas ela sempre ficou no aspecto religioso ou filosófico; Na última década está ganhando contornos mais acadêmicos com o avanço da computação, da realidade virtual e após o filme The Matrix ter jogado todas essas hipóteses na nossa cara de uma só vez.
Estar imerso numa simulação já não parece uma teoria tão louca assim. Assistam a este vídeo do "Fatos Desconhecidos" (se quiser pular a introdução chata vão pra 2:59) e depois continuem a ler o post.
Eu gosto muito da analogia com a música digital, porque foi uma tecnologia que eu vi nascer e crescer, até se tornar sinônimo pra música. Explico para os millenials e futuras gerações: antigamente nós tínhamos os LPs e fitas cassetes para tocar nossas músicas. Ninguém discutia a qualidade do som do LP: era infinitamente superior a qualquer nova tecnologia existente. Aí veio o CD, que era a digitalização de toda a frequência do sinal de áudio que o ser humano é (teoricamente) capaz de escutar, mais do que o LP inclusive. Só que nos primeiros anos os CDs eram transcrições literais das fitas gravadas analogicamente pra um formato digital, e o som, apesar de cristalino, era sem vida, "flat", e por isso até hoje tem gente que prefere o "brilho" do LP por ser algo com nuances, camadas. Só que essas "nuances" não são um problema do FORMATO CD (hardware) em si, e sim das TRANSCRIÇÕES DIGITAIS, ou seja, do software que roda a simulação do som. No começo a tecnologia era cara, mas com o passar do tempo os estúdios foram adquirindo equipamentos BONS capazes de, primeiro: converter o som analógico para o digital (ou seja, digitalizar aquilo com precisão e fidelidade) e a indústria foi colocando no mercado talvez o mais importante salto tecnológico que AINDA estamos vivendo no mundo da música, que são os DACs (Conversor digital-analógico), ou seja, como INTERPRETAR os dados frios e matemáticos e trazê-los o mais próximo possível de uma experiência que passe por "real", ou seja, nos engane com perfeição. Este vídeo aqui é absolutamente técnico mas instrutivo de como é criada essa "Matrix" do som matematicamente, e como isso volta para o mundo real.
Só que os arquivos digitais do CD eram grandes demais numa era onde o armazenamento de dados era caríssimo. O MP3 surgiu como uma resposta a isso: os alemães do Instituto Fraunhofer se perguntaram: e se nós jogássemos fora desse arquivo tudo aquilo que a maioria dos seres humanos não escuta direito? Então eles analisaram padrões de como o cérebro processa o som (uma ciência chamada de psicoacústica) e inseriram esses modelos no computador, além de aplicar uma compactação no que sobrar. Resultado: Um arquivo com apenas 10% do tamanho do original. Vamos meditar nessa informação por uns minutos: ao invés de descrever a realidade (ou uma parte dela, ao menos) matematicamente (como faz o CD) você pega esses dados, faz uma triagem de "como posso enganar você de que você está ouvindo esses sons?" e aí então cria um modelo matemático pra descrever uma realidade aproximada, mas que é muito boa pra que você estranhe e que hoje é a REALIDADE OBJETIVA para quem ouve música.
Eu acompanhei a infância desses modelos de perto, a partir do MP2 (que tinha som de fita cassete) até os primeiros anos do MP3 que, com 128kbps soava muito como os primeiros CDs, ou seja, sons médios, sem nenhum brilho, nem graves. Isso mudou com a entrada do grupo LAME, uma comunidade aberta de entusiastas que desenvolveu seus próprios modelos psicoacústicos pra melhorar o som percebido do MP3, e superaram até mesmo os criadores. Eu mesmo tenho meu modelo de compactador preferido que é um LAME v3.96 de 2004 que, embora inúmeras outras versões digam que são melhores e mais fiéis, eu prefiro este "sabor" sonoro desta versão em particular e estou muito satisfeito com ela. Hoje um MP3 possui um som indistinguível de um CD nos aparelhos "normais" de reprodução que temos no nosso dia a dia.
Esta é a Mona Lisa. Nossa audição e visão funcionam de forma diferente, mas possuem semelhanças na forma de que o cérebro pode ser enganado pra assimilar uma informação digitalmente simulada. Abaixo temos a imagem em sua qualidade "máxima" (vamos dizer assim), com todos os seus detalhes preservados:
Agora temos a mesma imagem com 10% do tamanho da original. Vejam como o compactador descarta nuances de cores e detalhes pra poder se concentrar no que realmente importa pro cérebro: contorno, contraste e cores principais.
Pergunte a qualquer um o que é esta imagem e ele responderá "Mona Lisa" e, se ele for criado acostumado a esse tipo de imagem, essa será a realidade para essa pessoa. Aliás, essa foi a "realidade" da internet pra quem pegou ela no começo.
Nós ouvimos uma música e pensamos: "Ei, esses são os Beatles", e nunca paramos pra pensar que estes não são os Beatles, apenas uma gravação com qualidade limitada pela tecnologia da época de um grupo que JAMAIS ouvimos ao vivo (pelo menos minha geração em diante) e que tomamos aquele som pela banda. É uma forma inocente de "auto-enganação" porque só quem pararia pra apontar isso pra alguém seria um Sheldon, um sem noção, porque é uma obviedade a qual nos acostumamos porque NASCEMOS MERGULHADO NELA. Uma pessoa nascida em 1800 que fosse transportada pra nossa Era apontaria essa característica com assombro e deleite. Só que tomar a gravação pela realidade pode causar um tipo mais elaborado de enganação, que é o playback: Você paga (caro) pra ver e ouvir o seu artista favorito, e ele usa uma gravação de um show que ele fez ESPECIALMENTE pra enganar você de que ele está cantando aquilo naquele momento. Muita gente ao descobrir isso pela primeira vez ficou muito P da vida. Hoje talvez nem tanto, até porque o limite entre a realidade e o simulacro está cada vez mais difuso: com o uso de processadores de som em tempo real, hoje é possível cantar desafinado ou desanimado e o resultado sair do jeito que o fã quer ouvir. O que isso significa? Que, por conveniência, expectativa, falta de interesse ou simplesmente por hábito nós NÃO QUESTIONAMOS A REALIDADE SONORA, e a pessoa que fizer isso provavelmente vai ser chamada de "P#u &%C*" e com razão, porque com a música nós só queremos CURTIR O MOMENTO. Mas é aí que entra a pegadinha: e se nossa realidade objetiva for tão difusa e simulada como a música? A filosofia do Budismo fala isso há milênios, e as pessoas tratam como uma religião, um escapismo, enquanto dizem DEIXA EU CURTIR O MOMENTO. É aí que podemos começar a questionar o "sistema".
Hoje em dia vivemos em "bolhas" de informação. Essas informações definem nossa visão de mundo, não apenas subjetivamente, mas OBJETIVAMENTE, moldando nosso caráter e o que seremos da vida. Essas informações são digitais, ou seja, a veracidade delas nem sempre pode ser comprovada, mas é o nosso mundo hoje em dia. Assim como na música, hoje temos ferramentas para misturar o real com o virtual e fazer uma pessoa aparecer em vídeo falando e fazendo coisas que ela objetivamente não fez. Ora, se o digital hoje é a realidade objetiva para toda uma geração, o que será que o futuro nos reserva? E os pensadores começaram a se questionar: E SE ESSE FUTURO JÁ ACONTECEU E NÓS ESTAMOS JÁ NA SIMULAÇÃO PERFEITA QUE ESTAMOS PREVENDO QUE VAI ACONTECER? É a premissa do filme Matrix, só que levado a sério academicamente.
A versão mais atual da hipótese de simulação foi introduzida por Nicholas Bostrom, um filósofo britânico, em 2003. Ele afirma que existe a probabilidade de que civilizações avançadas estejam executando simulações computacionais de civilizações passadas. Então, da mesma forma como nós jogamos videogames sobre populações antigas (como Civilization), eles podem fazer algo parecido, mas muito mais tecnologicamente avançado. Bostrom acredita que existem três possíveis caminhos para o nosso futuro, sendo eles:
- A humanidade será evaporada antes de conquistar o poder tecnológico necessário para criar suas próprias simulações;
- A civilização pós-humana não se interessará em reviver ancestrais por simulação;
- Se as outras duas não se concretizarem, significa que nós já estamos vivendo em um universo simulado controlado pelas civilizações futuras, e não no mundo real.
Apesar de parecer uma teoria muito louca, muitas pessoas vêm se declarando favoráveis a ela, como o criador da Tesla e SpaceX Elon Musk:
"O argumento mais forte para nós em uma simulação, é a seguinte: Há 40 anos tivemos Pong, dois retângulos e um ponto. Foi isso que os jogos foram. Agora, 40 anos depois, temos simulações 3D fotorrealistas com milhões de pessoas jogando simultaneamente, e está melhorando todos os anos. E logo teremos realidade virtual, realidade aumentada. Mesmo se levarmos em consideração qualquer proporção de evolução, os games vão se tornar indistinguíveis da realidade. Mesmo se essa proporção cair mil vezes se comparada com o que temos agora." Elon Musk
Para dar suporte a isso existe a teoria da Física de que nosso Universo é uma holografia, ou seja, uma projeção de uma realidade única, escondida dos nossos sentidos. O físico teórico James Gates encontrou em seus estudos de Quarks e elétrons "códigos de correção de erros", ou seja, algo que NÓS fazemos para leitores de Blu-Ray e comunicação via internet está presente na NATUREZA! "Isso me levou a pensar que pessoas como Max não são malucas" disse. Ele se referia a Max Tegmark, cosmologista do MIT, cuja maior parte de seu trabalho trata do conceito de universos paralelos. Neil deGrasse Tyson, conhecido cientista que apresenta a nova série "Cosmos", acredita que há 50% de chances de estarmos vivendo numa simulação de computador. Rizwan Virk, cientista da computação do MIT e designer de games, lançou o livro The Simulation Hypothesis (A Hipótese da Simulação), que exemplifica sua teoria sobre vivermos numa realidade virtual: "A verdade é que há muito que nós simplesmente não entendemos sobre a nossa própria realidade, e eu acho que é mais provável que nós estejamos em algum tipo de universo simulado".
Acid é uma pessoa legal e escreve o Blog www.saindodamatrix.com.br "Não sou tão careta quanto pareço. Nem tão culto. Não acredite em nada do que eu escrever. Acredite em você mesmo e no seu coração." Email: Visite o Site do Autor