O NAVIO DE TESEU - Templo do Pavilhão Dourado em Kyoto
Então, quantos anos ele tem? Será ainda o mesmo edifício?
Aqui está o que Douglas Adams, autor de O Guia do Mochileiro das Galáxias, disse sobre isso:
Lembrei-me de uma vez, no Japão, ter ido visitar o Templo do Pavilhão Dourado em Kyoto e ter ficado ligeiramente surpreendido com a forma como resistiu à passagem do tempo desde que foi construído, no século XIV. Mas disseram-me que não resistiu nada bem e, na verdade, foi totalmente queimado duas vezes só neste século XX.
- Então não é o edifício original? - eu perguntei ao meu guia japonês.
- Mas sim, claro que é - ele insistiu, bastante surpreso com minha pergunta.
- Mas ele foi queimado?
- Sim.
- Duas vezes.
- Muitas vezes.
- E reconstruído.
- Claro. É um edifício importante e histórico.
- Com materiais completamente novos.
- Mas é claro. Estava tudo queimado.
- Então, como pode ser o mesmo edifício?
- É sempre o mesmo edifício.
Tive de admitir para mim mesmo que este era de fato um ponto de vista perfeitamente racional, apenas partia de uma premissa inesperada. A ideia do edifício, a intenção do mesmo, o seu Design são todos imutáveis e são a essência do edifício. A intenção dos construtores originais é o que sobrevive. A madeira com a qual o Design do edifício é construída se deteriora e é substituída quando necessário. Estar excessivamente preocupado com os materiais originais, que são apenas lembranças sentimentais do passado, é deixar de ver o próprio edifício vivo.
Então essa era a opinião de Douglas Adams - que um edifício "original" realmente não tem nada a ver com a idade real de seus materiais e quando eles foram montados, mas é definido pela forma que eles assumem e quando foi decidido organizar dessa forma, independentemente de quão recentemente tenham sido fabricados e instalados.
Assim, mesmo que reconstruamos um edifício antigo com novos materiais - como aconteceu no Templo do Pavilhão Dourado depois de ter sido incendiado na década de 1950 - ele ainda será um edifício autenticamente antigo.
É surpreendente saber quantos edifícios "antigos" foram, de fato, reconstruídos desta forma. Alguns exemplos incluem a Igreja de Nossa Senhora (em Dresden), o Campanário de São Marcos em Veneza, as cidades antigas de Varsóvia e Frankfurt, a Torre do Grou Amarelo em Wuhan e até o Grande Zigurate de Ur no Iraque.
Esta é essencialmente uma versão arquitetônica do enigma da Grécia Antiga do Navio de Teseu. Imagine um velho navio num porto. Se todas as suas partes separadas fossem substituídas, uma por uma, ao longo de cem anos, ainda seria o mesmo navio? Se não, quando se tornou um navio diferente? E, em ambos os casos, quantos anos teria o navio depois de decorridos cem anos?
Geralmente pensamos que um edifício antigo, uma vez destruído, está certamente perdido para sempre - e que reconstruí-lo seria de alguma forma inautêntico ou artificial. Talvez este não seja o caso. Talvez possamos reconstruir, tijolo por tijolo, qualquer estrutura antiga e importante que tenha sido perdida na guerra e na catástrofe sem perder a sua idade ou autenticidade.
Então, o Templo do Pavilhão Dourado foi construído em 1397 ou em 1955. ou ambos?
Pra mim o mais importante é que ele existe. Fisicamente. E se não existisse fisicamente, existiria na cabeça de milhares de pessoas que o visitaram ou, como eu, somente viram fotos e sonharam estar lá. É um pouco como aqueles que nos deixaram. Eles não estão conosco, mas suas idéias, pensamentos - e às vezes até a "presença" - se fazem sentir e reverberam, seja em nossas vidas, famílias ou sociedade. Quando li isso lembrei de algo que li num livro, dos "mantenedores", espíritos responsáveis por sempre renovar o pensamento que mantém e sustenta as formas das cidades espirituais.
E da mesma forma, na Magia uma pessoa é responsável por manter com seu pensamentos (e rituais, vai de cada um) um círculo de defesa contra alguma ameaça ou, se usado pro mal, sustentar algum ataque. Na depressão temos o mesmo mecanismo em ação. Os remédios atuam quando o problema é físico / hormonal / cerebral, mas o componente mental precisa atuar ao NÃO SUSTENTAR "vivo" com seus pensamentos aquilo que te bota pra baixo. Essa é uma lição que está embutida no Budismo, de que não somos nossos pensamentos, que se apenas observarmos nossos pensamentos (sem nos identificarmos com ele) conseguiremos a cessação do sofrimento mental criado pelo apego (é mais fácil de escrever do que de fazer, pode apostar).
Abaixo um TED Talk de João, psiquiatra e psicoterapeuta que é facilitador do CEBB (Centro de Estudos Budistas Bodisatva) e fala um pouco sobre depressão:
O que aprendi com a depressão | TEDxUFPE
Mas, ainda falando sobre a presença daqueles que nos deixaram, preciso esclarecer que poder ser muito similar ao pavilhão dourado ou o Navio de Teseu: o quanto REALMENTE os espíritos são aquela pessoa com quem costumávamos viver? O quanto de nós "sobra" como unidade autônoma no "Éter espiritual"? Se vocês acreditam em reencarnação precisam pensar a respeito do fato de que a pessoa renasce em outro lugar, com outros valores familiares, expostas a outras experiências e mesmo que a pessoa mantenha um "núcleo" de personalidade da outra vida, ele provavelmente vai mudar com a experiência. Afinal, em nossas próprias vidas, será que somos os mesmos de quando adolescentes? São os velhinhos os mesmos de quando adultos? Às vezes até são, mas existe uma tendência à mudança. E, se acreditarmos que "a magia", a forma é mantida com o pensamento, então quando esse pensamento muda a "casca" que fomos em outra encarnação se desfaz, como o coelhinho da Duracell que vai parando de bater os pratos. E o que sobra? Aquilo do qual lembramos, cultivamos, como falei lá em cima, as idéias, a "presença". Mas não será mais a presença mantida pelo núcleo DAQUELA pessoa, que seguiu seu caminho, seu fluxo na Ordem das coisas. como tem de ser. Então talvez se preocupar tanto com a personalidade que fomos e a que "somos" seja uma perda de tempo, a menos que nos preocupemos mais com os APRENDIZADOS e EXPERIÊNCIAS que vieram, nessa ou em outras reencarnações, e que servem como um mero trampolim para o hoje, para o agora. Um guia para não repetir o erro, para melhorar, para se inspirar, mas não para nos atrasar. Se o que você acha que foi é hoje uma pedra para você, abandone essa pedra e caminhe adiante. Use o que for necessário pra isso.
Gurudev Sri Sri Ravi Shankar - Don't forgive and never forget
Referências: Fonte do texto do Pavilhão - The Cultural Tutor; Saindo da Matrix - Planos Vibratórios; Saindo da Matrix - Pensamentos.
por Acid
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Sobre o autor
Acid é uma pessoa legal e escreve o Blog www.saindodamatrix.com.br "Não sou tão careta quanto pareço. Nem tão culto. Não acredite em nada do que eu escrever. Acredite em você mesmo e no seu coração." Email: Visite o Site do Autor