Desde os primórdios da civilização, a crença religiosa tem sido um elemento central na experiência humana. No entanto, entender por que se acredita na existência de Deus é uma questão que transcende o campo das refutações conceituais. Muitos podem argumentar que Deus não existe. Ainda assim, a crença persiste. Por quê?
Este artigo é parte de minha visão pessoal das razões emocionais e psicológicas que sustentam a crença religiosa, mas sem a pretensão de compreender as profundas raízes humanas dessa experiência.
A emoção como pode ser a raiz da crença
Penso que a crença religiosa não tem base racional, mas em sentimentos. Esses sentimentos, muitas vezes incomunicáveis, só se tornam acessíveis através da racionalização ou na transformação de experiências pessoais em explicações que podem ser compartilhadas com outros.
No entanto, essa tradução nem sempre consegue captar a essência do que é sentido e como resultado, quem nunca vivenciou experiências semelhantes pode permanecer alheio ao verdadeiro significado dessas explicações.
Nesse sentido, a religiosidade não está naquilo em que se acredita, mas nos sentimentos que dão origem à crença.
A função psicológica da crença
A crença religiosa funciona como um dos mecanismos para lidar com a solidão, o vazio e a incerteza existencial. Deus, sob essa perspectiva, atua como uma espécie de amigo muito pessoal. Para muitos, a presença Divina oferece uma sensação de segurança, de sentido para a vida e de proteção contra o vazio.
Esse conforto emocional é comparável ao que experimentamos em relação às amizades ou ao amor. Assim como essas relações humanas, a crença em Deus pode ser motivada mais pelo bem-estar que proporciona do que pela validade de suas explicações sobre o mundo. Desta forma, não importa se existem justificativas racionais para a existência de Deus. A verdadeira base da crença está no que o indivíduo sente.
Ter empatia para entender
Para quem não compartilha dessa experiência religiosa, a empatia pode ser um caminho para entendê-la. Ao considerar os sentimentos conhecidos, como o amor ou a amizade, é possível perceber que a crença religiosa emerge de mecanismos semelhantes. Uma pessoa que defende a existência de Deus porque encontra sentido na vida através Dele e está, sinceramente, expressando o prazer emocional que essa crença proporciona.
Enquanto as explicações religiosas podem ser cientificamente refutadas, sua essência emocional permanece intacta e profundamente verdadeira para quem crê.
As explicações racionais que damos para nossos sentimentos são, em grande parte, tentativas de justificar algo que não entendemos completamente. No caso da crença religiosa, essas explicações simbolizam algo mais profundo: o mundo interior do indivíduo.
Quando um religioso afirma que Deus existe, ele acredita estar falando sobre um ente exterior. No entanto, o que realmente descreve é uma espécie de diálogo sobre sua própria vida interior. As explicações para esse sentimento têm menos a ver com entender o mundo e mais com proteger o objeto de afeto e a sensação de conforto que Deus oferece.
Assim, a religião não é apenas uma tentativa de explicar o mundo, mas também uma forma de explicar a si mesmo. Ao compreender isso, é possível pensar que a religião tem simultaneamente pretensões objetivas e significância subjetiva.
No final, a crença religiosa nos lembra que, em grande parte, nós não entendemos nossas próprias vidas - e talvez seja justamente essa busca que nos torna humanos.