Quem já não se cansou da própria preguiça? Quando sentimos preguiça, estamos presos em duas possíveis armadilhas: adiamos para o futuro nossa evolução pessoal ou nos contentamos com prazeres imediatos. Ambas atitudes consomem nossa energia vital. Ficamos atolados, presos à nossa própria inércia. O mais grave é que assim não cultivamos uma base de sustentação para nossa energia futura.
O budismo tibetano afirma que existem duas formas para sair do sofrimento: ou por meio da sabedoria ou do próprio sofrimento, que, quando atinge níveis insuportáveis, mobiliza o desejo sincero de saná-lo. Ter sabedoria é o melhor método, mas para desenvolvê-la precisamos nos mover: abandonar a preguiça.
Por toda parte, presenciamos o sofrimento. Portanto, temos muitas oportunidades para despertar o desejo sincero de querer sair do sofrimento e ajudar os outros a fazer o mesmo. Mas enquanto estivermos entregues ao hábito da inércia, estaremos desencorajados e sem forças para movermos em direção ao novo.
Coragem é a habilidade de mover-se para o futuro, sem olhar para trás: desapegar-se do passado. No entanto, é imprescindível saber para onde estamos indo!
Para ir em frente, precisamos conhecer nossa vocação: o que temos de particular para oferecer ao mundo. Não seguir nossa vocação representa um problema para nós e para os outros. Pois, quando nos entregamos à inércia da vida, tornamos-nos um peso também para aqueles que estão à nossa volta.
Ao descobrirmos nossa vocação, surge em nós, simultaneamente, um profundo sentimento de coragem. Sentimo-nos tão próximos de nós mesmos que assumimos uma verdade interior que não pode mais ser mais negada. E, então, tornamos-nos profundamente compromissados com a idéia de abandonar o que nos impedia em seguir rumo ao nosso destino.
A astróloga Márcia Mattos escreve em O Livro das Atitudes Astrológicamente corretas (Ed.Campus): “Ir de encontro ao destino é realizar plenamente o potencial que está desde sempre em nós. É como ouvir um chamado e responder a ele. Ou desabrochar todas as nossas potencialidades e seguir uma vocação. E estranhamente, o mundo costuma nos corresponder quando fazemos assim. Uma das formas de saber que se está no bom caminho e que estamos fazendo aquilo para o qual nascemos é que o mundo nos abre as portas”.
Joseph Campbell em “Reflections on the Art of Living” (Harper Collins Publishers) nos dá uma dica de como descobrirmos nossa vocação: lembre-se de quando você era pequeno – qual era a brincadeira na qual você perdia a noção do tempo? Através dela você já estava se preparando para o seu destino!
Seguir nosso destino requer coragem até mesmo para superarmos o medo de assumir nossa própria grandeza e as exigências que dela decorrem. Ao acolhermos nossa fragilidade, descobrimos nosso real tamanho. A percepção de nossa vulnerabilidade nos estimula a crescer, pois ela nos informa a natureza da força e do conhecimento que precisamos buscar.
Ter coragem não significa “lançar-se às cegas no labirinto”, o que seria ser imprudente. O primeiro ponto para despertar a coragem é ter responsabilidade pessoal, construindo uma estrutura interior equilibrada e ao mesmo tempo audaz.
Agir sem considerar os limites de uma situação é ser imprudente, enquanto que ser audaz é saber quando agir ou ficar quieto. No entanto, muitas vezes protelamos o que queremos fazer em nome da prudência, mas, na realidade, estamos evitando a situação porque temos medo de assumir a responsabilidade de realizá-la.
Cada vez que formos capazes de interiorizar e de escutar nossos medos, estaremos amadurecendo nosso potencial de coragem. Ao reconhecer o medo, diga a si mesmo: “Eu já o conheço, sei para onde você me leva, não quero mais segui-lo”. Concentre-se, então, na sua intenção de expressar sua vocação. E finalmente lembre-se: nem tudo que é aflitivo acontece – noventa por cento de nossos medos são hábitos ou idéias pré-concebidas. Mova-se para o futuro, confie nele!
por Bel Cesar
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Sobre o autor
Bel Cesar é psicóloga, pratica a psicoterapia sob a perspectiva do Budismo Tibetano desde 1990. Dedica-se ao tratamento do estresse traumático com os métodos de S.E.® - Somatic Experiencing (Experiência Somática) e de EMDR (Dessensibilização e Reprocessamento através de Movimentos Oculares). Desde 1991, dedica-se ao acompanhamento daqueles que enfrentam a morte. É também autora dos livros `Viagem Interior ao Tibete´ e `Morrer não se improvisa´, `O livro das Emoções´, `Mania de Sofrer´, `O sutil desequilíbrio do estresse´ em parceria com o psiquiatra Dr. Sergio Klepacz e `O Grande Amor - um objetivo de vida´ em parceria com Lama Michel Rinpoche. Todos editados pela Editora Gaia. Email: [email protected] Visite o Site do Autor