Francisco Cândido Xavier é hoje uma marco na história do Espiritismo no Brasil e mais do que isso, é uma referência para a nossa sociedade, independente da crença que se tenha. Um cidadão cuja vida foi toda ela voltada para o bem das pessoas, não só dos oprimidos, indefesos e doentes. Seu universo abrangia tantos quantos dele se aproximassem, sem distinguir a situação social. Interexistente, porque conseguia coabitar em duas dimensões, a terrena e a espiritual. Tornou-se, desde a juventude, um instrumento eficaz, dócil e inteligente de seres habitantes do mundo extrafísico. Sua vida simples atestava sua incompatibilidade com os bens da terra, não se favorecendo dos bens que poderia possuir se abrisse seus cofres às dádivas daquelas criaturas que tinham seus sonhos realizados, suas dores amenizadas e suas dúvidas dirimidas. Nasceu pobre e deixou o corpo sem bens materiais.
Conheci pessoalmente o Chico Xavier em 1993, mais precisamente no dia 1º, em sua casa lá em Uberaba. Acompanhado do Dr. Eduardo, da Dra. Aldeide e de minha mulher a Maria, almoçamos juntos num momento de grande felicidade para todos nós. Sua presença é confortadora, esclarecedora. Conversávamos sobre a vida e tantas outras coisas. Ele falava pouco, sua voz era quase ininteligível, porque estava enfraquecido. Em dado instante minha mulher perguntou o que ele poderia dizer sobre a atividade de assistência aos aidéticos em centros espíritas. Como que dominado por uma força estranha, transfigurando-se para melhor, com uma expressão firme e clara ele disse: nesse trabalho a isenção do emocional é imprescindível. Fazer com o coração, sem estabelecer clima de medo, piedade ou qualquer outro sentimento fragilizador. É preciso segurança, equilíbrio e paz interna para realizar essa tarefa.
Dito isso, acomodou-se de novo na cadeira, retornando ao estado de apatia e quase incomunicabilidade de antes. Ficamos em silencio, entendendo que naquele instante alguém de algum lugar passara por ali, deixando aquela mensagem. Uma estrela esteve entre nós, fazendo brilhar ainda mais aquele homem singelo, nascido em Pedro Leopoldo. E o brilho da estrela se mantinha em nossa mente e coração. Emocionamo-nos.
Naquele época estivemos também, de passagem, no Hospital do Pênfigo Foliáceo ou Fogo Selvagem, também em Uberaba. A fundadora e mantenedora da Instituição, Dona Aparecida estava lá, com seu chinelo simples e o seu jeito gostoso de conversar e sorrir. Esta mulher fez história em Minas Gerais e no Brasil, pode-se dizer. Ela conta que fez o que fez, por ódio. Sim, ela bem cedo odiou a atitude da sociedade e dos hospitais que não cuidavam e até destratavam os doentes do fogo selvagem. E ela odiou tanto que resolveu, em represália, cuidar ela mesma deles e os trouxe para sua casa.
Hoje, o que era sua casa se transformou num hospital modelo, com fábrica, padaria, creche, ambulatório e outras coisas mais, dando assistência para milhares de criaturas.
E a Dona Aparecida contou que tempos atrás estava numa situação muito delicada, sem dinheiro e a saúde prejudicada. Ficou pensando em uma saída e não encontrava. Duas horas depois, o Chico Xavier bateu em sua porta. Ela atendeu muito feliz, poucas vezes se encontravam. E o Chico a abraçou, disse algumas palavras confortadoras e alegando pressa, deixou com ela um embrulhinho e as pessoas que estavam com ele trouxeram alimentos e roupas que dariam para muitos dias.
Ficou olhando o Chico ir embora, com a certeza de que Deus tinha mandado esse emissário do Bem, socorrê-la. Só mais tarde, abriu o pacotinho. Era um par de sandálias, de tamanho grande. Ela sorriu, dizendo para si mesma. E não é que ele sabe que eu tenho um pé bem grande, pro meu tamanho ? E lá se foi, cuidar dos seus doentes, com um sorriso nos lábios, esquecida das dificuldades e da dores dela própria.
O Chico era não só um talentoso instrumento do Mundo Espiritual, porque como um ser social ele conspirava contra a dor, a miséria e a injustiça, levantando sempre a bandeira da paz e do amor.
Um outro encontro significativo que tive com ele foi por volta de l975, quando ele visitou a Penitenciária do Estado. Eu integrava o grupo que dava assistência espiritual e social, dirigido pelo inesquecível Gilberto Aielo, marido da Dona Geni. Naquela época eu era um crítico contumaz das pessoas que ficavam querendo dominar, abraçar, enfim tomar o Chico para elas. E falava isso em palestras e artigos. No dia da visita, fiquei ansioso, querendo ver de perto o Chico. Era a primeira oportunidade, uma rara chance de estar com ele. Fiquei pensando, como sou da equipe, vou ter um lugar privilegiado, esquecendo-me das criticas que eu próprio fazia. No entanto, antes do Chico chegar, o Gilberto me chamou de lado e disse: Wilson, você vai ficar lá na portaria da Penitenciária, para selecionar as pessoas que podem entrar e só entra quando todo pessoal estiver acomodado. E no final, você volta lá para coordenar a saída de todos. Conclusão: eu não ia nem chegar perto do Chico. Entendi a
lição, mas fiquei contente, porque a visita do Chico foi um presente de Deus para todos que lá estiveram. Sua presença irradiou paz e alegria para os detentos, deixando também a mensagem da justiça para todos.
Nos encontros que se sucederam após a visita do médium mineiro, os presos traziam cada um a sua experiência no encontro com aquele homem de luz. Muitos casos e uma certeza geral: uma alma abençoada por Deus passara por ali, deixando as marcas da vitória do Amor.
Hoje, o Chico não está mais entre nós, seres terrenos. Habita outra dimensão. E deixou o corpo do jeito que queria, segundo dizem. Ele queria sair sem ser notado e não queria que o povo ficasse triste, com sua partida. Ele deixou o corpo no dia que o Brasil comemorava a conquista da copa do mundo, o Penta. Muitos choraram diante do Chico, mas no fundo o povo estava feliz. O Brasil fora campeão. O Chico foi sempre assim. Ele queria ver o coração do povo feliz. E sua vida toda, seja como um ser interexistente, seja como um ser social foi um apologia do Bem e da Paz.
Obrigado, Chico.
Especial para a Fernanda Coimbra, para o Sergio Scabia e todos do Somostodosum
por Wilson Francisco
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Sobre o autor
Wilson Francisco é Terapeuta Holístico, escritor e médium espírita. Desenvolve o Projeto Mutação, um processo em que faz a leitura da alma da criatura e investigação do seu Universo, para facilitar projetos, sonhos e decisões, descobrindo bloqueios, deformidades e medos que são reprogramados energeticamente.
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