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O Medo de Perder Status

O Medo de Perder Status
Publicado dia 9/30/2002 12:23:35 PM em Psicologia

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Conheço pessoas que vivem sob um verdadeiro pânico: não conseguem imaginar a hipótese de se conformar com uma posição social abaixo da que têm. Para elas, a idéia de conviver com um carro inferior ao que possuem é extremamente dolorosa, e seria preferível a morte a mudar para uma casa pior ou um bairro de menor status. Não querem nem pensar em usar roupas sem grife, deixar de sair de férias ou de freqüentar seus restaurantes favoritos, onde são conhecidas e tratadas com deferência.

Não é difícil entender que nossa relação com o dinheiro é muito mais complicada do que seria se o víssemos apenas como um meio para sobreviver. A vaidade, que em tudo se intromete, participa ativamente do processo. Ter acesso a determinadas coisas ou situações passa a ser mais importante pela nossa "posição" do que pela coisa em si. Por exemplo: pessoas que não têm paladar para apreciar um bom vinho tenderão a pedi-lo quando estiverem num ambiente mais requintado. Não querem ser chamadas de vulgares por preferir cerveja ou caipirinha. Muitas das coisas que fazem visam mais à imagem que querem transmitir do que a seus gostos pessoais.

Com a vaidade entrando no jogo, nossa tendência de fazer comparações aumenta. Passamos a nos sentir humilhados – agredidos, inferiorizados – quando nos vemos abaixo de alguém. Obviamente, isso desemboca na inveja: desejo de nos vingarmos daquele que nos agrediu com a sua superioridade! A humilhação é, junto com a sensação de abandono, uma das grandes dores a que estamos sujeitos. A rejeição, que é talvez nossa dor maior, é a associação de ambas: fomos abandonados porque a pessoa perdeu o interesse por nós, já que deixou de nos valorizar.

A idéia de perder nossa condição econômica produz, então, a humilhação e a rejeição. Temos medo (e com razão) de que muitas pessoas nos abandonem caso baixemos de posição social. A dor é percebida como brutal e a sensação é a de que viveremos humilhados e deprimidos pelo resto de nossos dias.

Ainda bem que essa impressão não é verdadeira. Nossa capacidade de adaptação é muito maior do que podemos imaginar. Na prática, a dor é forte, mas de duração limitada. Só existe durante o processo de transição. Depois de um curto período, adaptamo-nos à nova posição e a dor vai embora. Isso porque passamos a nos identificar com as pessoas de condição idêntica. Só sofreríamos se, inábeis, insistíssemos em freqüentar os antigos ambientes.

Um exemplo esclarecedor: ao observar alguém numa cadeira de rodas, experimentamos em nós a dor que imaginamos que a pessoa sinta. Se ela, porém, for deficiente física desde o nascimento, ou há vários anos, sofrerá bem menos do que supomos. Só terá passado por grandes frustrações nas primeiras semanas, ou meses, após o fato que a deixou paralítica. Ora, se o ser humano é capaz de se adaptar a uma limitação tão dramática, porque não o faria com a perda de status, que afeta mais a vaidade que as necessidades básicas da vida?

Nesse aspecto, como em vários outros, somos traídos por nossa capacidade de imaginar. Inventamos dores maiores que as que sofreremos, da mesma forma que imaginamos prazeres maiores que os que teremos quando antevemos uma viagem, um novo relacionamento afetivo ou uma casa nova, por exemplo.

Assim como a dor está presente só na transição, o prazer também só existe, por tempo limitado, quando saímos de uma situação pior para outra melhor. Pouco tempo após estrearmos nosso relógio novo, ele perderá a capacidade de nos dar prazer, deixando-nos tão indiferentes quanto o velho – que, por isso mesmo, quisemos trocar. Como diz o ditado popular, não há mal que sempre dure e nem bem que nunca se acabe!


por Flávio Gikovate

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Sobre o autor
flavio
Flávio Gikovate é um eterno amigo e colaborador do STUM.
Foi médico psicoterapeuta, pioneiro da terapia sexual no Brasil.
Conheça o Instituto de Psicoterapia de São Paulo.
Faleceu em 13 de outubro de 2016, aos 73 anos em SP.
Email: [email protected]
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