O psicólogo trabalha com a Consciência e esta é um PROJETO EM EVOLUÇÃO, portanto ela não está pronta e concluída e, sim, em transformação e desenvolvimento.
Muitas forças podem atuar para bloquear esta fluidez e soltura (da consciência em crescimento - lembremos das crianças, por exemplo) e então ocorrem bloqueios, censuras, traumas e obstáculos que a impedem de fluir na direção de sua expansão e crescimento. Mesmo assim, o desejo (da CONSCIÊNCIA) de fluir e de expandir não desaparece.
Além de devolver à CONSCIÊNCIA DE VIGÍLIA a fluência e a capacidade de evoluir, a outra missão do Psicólogo junguiano é a de integrar esta renovada FUNÇÃO PSICOLÓGICA ao INCONSCIENTE mais profundo.
Ele trabalha, por assim dizer, para integrar o funcionamento do cérebro moderno (mais periférico) ao cérebro antigo (mais profundo).
As funções conscientes mais recentes compõem a capa mais externa da CONSCIÊNCIA DE VIGÍLIA e elas desenvolvem uma autonomia com relação às funções cerebrais mais antigas. A conseqüência é o problema psicológico, o desequilíbrio e o conflito. (Todos sabemos o quão ditatoriais podemos nos tornar em nossos assuntos mais pessoais).
A partir desta autonomia, as funções conscientes desenvolvem a capacidade de CORTAR e de OBSTRUIR as ações e influências das funções mais antigas. Todos conhecemos os prejuízos de não atender uma intuição ou um pressentimento que se mostrou adequado, pertinente e sábio aos nossos olhos e ouvidos; porém, só depois que a gente fez a burrada de não atende-lo...
Neste sentido temos que dizer que existe uma consciência mais periférica, superficial, dura e rígida que se separa do todo da Natureza, do qual um dia emergiu como uma consciência autônoma.
Em uma tentativa de assegurar a autonomia e a independência da CONSCIÊNCIA DE VIGÍLIA, fica, em nós, afastada (ou reprimida) a noção daquilo que DESCONHECEMOS, e então se instala uma pretensiosa noção de que “sabemos muita coisa a respeito de nós mesmos”. (Sobre esta questão sugiro a leitura do meu artigo Cyborgs versus Humanos aqui mesmo no portal Vidanova)
De fato, tudo que sabemos de nós mesmos, dos outros e/ou do mundo compõe apenas a parcela do CONHECIDO (familiar, dominado, controlado, assimilado, plano consciente etc.) e não importa quão grande seja esta parcela, não importa quanta especialização e sofisticação tenha sido atingida, tudo que se pode dizer sobre ela é que esta parcela (maior ou menor) é a fronteira delimitada do CONHECIDO e além dela reside, sempre, uma outra área, sempre mais vasta, de DESCONHECIDO.
O objetivo e o sentido maior do trabalho psicológico junguiano está em restabelecer a ponte de conexão entre a CONSCIÊNCIA DE VIGÍLIA e o INCONSCIENTE. (aprofundando um pouco esta questão sugiro ver também o meu artigo A ponte de conexão com o Inconsciente aqui mesmo no Vidanova).
Na medida em que o fluxo nesta ponte se intensifique e também, na medida em que os seus conteúdos sejam mais bem aceitos pela CONSCIÊNCIA DE VIGÍLIA, a pessoa se torna mais fluída, mais leve, mais solta, mais criativa, mais democrática e mais madura. Cria-se assim uma abertura à vivência do plano espiritual, sentimental, intuitivo, religioso, criativo, artístico e assim por diante.
Pois bem, não há nada de mais espontâneo e confiável para se trabalhar do que os nossos sonhos. Eles se originam quando nossa CONSCIÊNCIA DE VIGÍLIA está descansando (no repouso do sono) e as experiências vividas nos sonhos não são intencionadas ou manipuladas pela CONSCIÊNCIA DE VIGÍLIA. Nisto reside a sua confiabilidade e também o seu maior valor prático, pois os símbolos e representações aparecidas nos sonhos freqüentemente surpreendem o próprio sonhador que, muitas vezes, chega ao consultório dizendo que “lembrou de um sonho que não tem nada a ver com nada” e sai surpreso dizendo “Puxa! Esse sonho tem tudo a ver comigo!”.
Gostaria até de afirmar neste momento, para todos os gentis leitores que ainda estiverem me acompanhando nesta reflexão, que a melhor atitude perante os sonhos é a da ABERTURA à EXPERIÊNCIA enquanto VIVÊNCIA.
Portanto, com relação aos conteúdos de seus sonhos, esqueçam as explicações convenientes e deixem de limitar a qualidade e a intensidade desta experiência, especialmente através de uma verdadeira BARRAGEM de intelectualizações defensivas... Devido a isto, muitas pessoas supõem que a análise dos sonhos seja uma intelectualização racionalizadora; a estes informo que a atitude do psicólogo que trabalha com sonhos não é uma atitude intrusiva, controladora e manipuladora. Não é uma atitude intervencionista e sim compreensiva, pois o que mais vale a pena é a experiência e a vivência dos sonhos, fazendo descobertas e vivendo experiências marcantes através dos sonhos e, então, associando estas percepções e compreensões à vida diária. Esta caminhada guarda muitas surpresas.
Esta possibilidade é imediata e independente de qualquer explicação para o sonhar (se é a galinha que CAUSA o ovo ou se é o ovo que CAUSA a galinha!!!).
É importante que você, sonhador, veja os seus sonhos como algo parecido com MENSAGENS pessoais (e intransferíveis) dirigidas à CONSCIÊNCIA DE VIGÍLIA, ou, dito de outro modo, como um convite aberto a um diálogo entre a “MENTE INTELECTUAL” e o INCONSCIENTE.
Tenho que concordar que é um desafio, pois a linguagem analógica e representacional dos sonhos é mesmo um intrincado mundo, cheio de possibilidades e de alternativas de entendimento.
No entanto, e justamente por isto, as pessoas que “sonham” intensamente e que, sobretudo, acolhem os significados e conteúdos dos sonhos em sua vida diária sofrem uma espécie de “upgrade” no seu processador, podendo ter, a partir desta experiência, uma vida mais rica, mais cheia de sentido e de intensidade existencial.Quando o sonhador se dispõe a tentar entender o sonho, mas não se sente capaz disto, o mais provável que esteja acontecendo, é que ele esteja aplicando pontos de vista racionais e lineares aos conteúdos dos sonhos, e isto pode ser fatal, pois os sonhos não se submetem, de modo algum, à lógica racional, nem estão circunscritos aos planos de referência conscientes.
Eles seguem, por assim dizer, uma OUTRA lógica (mais próxima da linguagem artística, da metáfora, da analogia, da lenda, do mito e assim por diante). Devido a esta surpreendente característica, suas representações são cheias de sentidos e significados que, muitas vezes, passam desapercebidos à CONSCIÊNCIA DE VIGÍLIA do sonhador... Os sonhos se servem de “cenas” para representar uma “experiência” ou uma “atitude” e a tarefa de decifra-los é de resgatar o SENTIDO (pertinência, aplicabilidade) destas representações para a consciência de quem sonha.
A fronteira DELIMITADORA do CONHECIDO é um “muro” que tem que se tornar mais permeável e só pode ser atravessado através da prática com esta OUTRA LÓGICA e RACIONALIDADE. Com o tempo (e o exercício), os significados se tornam mais compreensíveis e os sonhos pessoais passam a ser entendidos dentro do seu contexto simbólico / analógico / representacional e, ainda assim, perfeitamente aplicável à vida real.
A experiência de sonhar é comum a todos os homens, desta e de todas as épocas passadas ou futuras. Do mesmo modo, a possibilidade de VIVER os sonhos, de entrar no mérito deles e de fazer descobertas através deles, está sempre presente para qualquer um; mas o principal pode nos escapar, na medida em que falhemos em desenvolver a capacidade de COMPREENDER e de ACOLHER na CONSCIÊNCIA DE VIGÍLIA os conteúdos e representações inconscientes aparecidos em nossos sonhos.
Acreditem! A experiência de sonhar vai mesmo além dos limites do CONHECIDO. Aceitem este fato. Partam deste princípio e, quem sabe, mais dia menos dia, passem a compreender melhor o sentido dela. O melhor efeito que a compreensão dos sonhos tem sobre a CONSCIÊNCIA DE VIGÍLIA é o de promover a renovação e a descoberta na área delimitada da Consciência do sonhador e eles fazem isto na medida em que decidamos aprender com eles.
Eu reconheço a dificuldade de lidar com o novo ou o desconhecido, pois somos treinados desde criancinhas a confiar, de modo irrestrito e indiscutível, que a lógica linear de nossa CONSCIÊNCIA DE VIGÍLIA é a única confiável e a única segura. Pois bem, não por outra razão, ocorre que, com o nosso crescimento, a ponte de conexão com o INCONSCIENTE vai ficando menos fluída e quando esta ponte de conexão está enfraquecida e cheia de ruídos, ocorre da pessoa se tornar mais previsível, repetitiva, racionalmente linear, presa a hábitos estritos e estreitos de pensar, de agir, de sentir, de explicar e; naturalmente, muito menos livre, leve e espontânea.
A pessoa não individualizada vive uma ilusão de liberdade e não percebe, mas está tendo uma só escolha (de ser, de sentir, de pensar, de agir etc.) ou não tendo escolha alguma.
O psicólogo trabalha para que a ponte (de conexão da mente consciente com a natureza inerentemente humana) seja experimentada em sua plenitude e que as influências emanadas do “plano desconhecido em nós” sejam tomadas como “determinações e recomendações (dicas e toques)”. Melhor ainda, se forem “seguidas” (as sugestões) pela mente consciente com mais alegria, soltura e desprendimento.
As pessoas mais fluídas e abertas estão despertas para a existência do plano Desconhecido Pessoal e se aventuram nele com apetite e disposição sempre renovadas, ao sabor de crises, descobertas e conflitos; mas também, na busca de encontrar soluções apropriadas à retomada do crescimento e à superação dos obstáculos e desafios.
Estas são as marchas e as contramarchas da consciência em sua caminhada na direção do conhecimento de si mesma.
Para contatar ligue:
São Paulo (11) 5571-6435 e 5549-3867
por Luís Vasconcellos
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Sobre o autor
Luís Vasconcellos é Psicólogo e atende
em seu consultório em São Paulo.