M.S. tinha 3 anos de idade e sentia vontade de estar na cama com seu pai, para ocupar o lugar de sua mãe, num impulso indesejado que lhe atormentava a alma e que ele não conseguiu decifrar, mesmo após diplomar-se psicólogo, na maturidade.
Esta inversão sexual se acentuou, dirigindo-o para a homossexualidade. Ainda jovem, despontaram nele percepções espirituais variadas e ele iniciou atividades medicinais, integrando-se no Espiritismo. Conheci-o num Centro Espírita. Eu dirigia sessões de apoio e esclarecimento e ele era um dos médiuns, exercendo suas funções com disciplina, disponibilidade e fidalguia espiritual.
Em um período de dificuldades financeiras foi residir em minha casa por alguns anos, estabelecendo um convívio de muita amizade e respeito, com minha esposa e meus dois filhos.
Contrariando sua postura austera e refinada, tinha preferência sexual por parceiros de origem humilde, que desenvolvessem atividades essencialmente braçais.
Fez muitas tentativas para sair do domínio desse processo instintivo, sem êxito. Numa época, resolveu se casar, tendo se comprometido com uma amiga nossa, também espírita. Dessa relação, nasceu um filho, hoje um belo e talentoso rapaz. O casamento, no entanto, se desfez logo.
Apesar de todo conhecimento espiritual e científico, tornou-se soropositivo.
Estive com ele, antes dele deixar o corpo físico. Internara-se num hospital numa cidade do interior, onde residia com uma irmã. Era muito conhecido por lá, onde desenvolvia atividades de apoio espiritual e psicológico para criaturas humildes. Estava, no entanto, definhando sem grande resistência física. Conversamos muito e o deixei com a certeza de que tinha cumprido sua missão. Aqui em São Paulo poucos souberam de sua homossexualidade e de suas dores, mas todos, sem exceção, guardam até hoje a lembrança de suas atitudes carinhosas e inteligentes.
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Num Centro Espírita onde atuei por vários anos, convivi com L.T. Nessa época, uma amiga minha, a Jacira, desenvolvia uma tarefa de apoio aos aidéticos e ele se incluía entre os assistidos. Sua generosidade e tenacidade, no entanto, transcendiam e ele se tornou um líder no grupo, passando a integrar nossa equipe de amparadores e também participava das atividades espirituais, doando energias e muito mais que isso, transferindo a todos sua alegria e paz. Disponibilizava todo seu tempo aos necessitados de toda ordem, sem esquecer dos seus pais.
Quando a doença entrou na sua fase mais crítica, minha esposa passou a cuidar dele, permanecendo durante o dia, em seu apartamento, enquanto outras pessoas se revezavam, para estar com ele a noite.
Para a Maria, minha mulher, ele sempre foi e é até hoje, uma referência de luz. Aprendeu muito sobre a vida, com ele. Num final de semana, quando estávamos visitando meus pais em Monte Sião, veio a noticia de que deixara o corpo carnal. E naquele dia, todos do grupo estavam ausentes. Aconteceu exatamente do jeito que ele queria, quando dizia que ninguém ficasse apegado a ele, que a vida continua e que ele queria alegria, em nossos semblantes. Pois bem, ele se foi para a outra dimensão, sem ninguém por perto. Livre e sozinho, como sempre vivera. Atualmente, tem estado em conexão conosco, em ações de apoio no mundo extrafísico, sempre com aquela mesma coragem e carinho que se destacavam em sua personalidade terrena.
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No Hospital da Penitenciária do Estado, conhecemos o “Tomate”, era assim que o chamavam e nunca soubemos seu nome de nascimento. Era um rapaz forte, tez amorenada, despojado e alegre. Nas visitas que fazíamos, estava sempre por perto, ouvindo atencioso e conversando com inteligência. Era casado, pai de dois filhos. Um sábado, ele não compareceu ao encontro semanal, ficamos preocupados. Disseram que ele estava doente. O motivo certo, ninguém sabia, era do conhecimento do grupo que a família deixara de visita-lo e um grande amigo seu falecera. Na semana seguinte encontramos o “Tomate”, estava enfraquecido, pele e osso, como se diz popularmente. Evitara conversar, ficando de lado, acabrunhado. Na semana seguinte deixou o corpo, para tristeza de todos que o admiravam.
A AIDS é assim, ainda uma doença misteriosa, fatal. Atualmente há o coquetel que permite ao soropositivo uma vida mais longa. No entanto, como ela tira a imunidade e com isso a defesa do organismo, todo e qualquer acontecimento que abale mais profundamente o emocional, possibilita o enfraquecimento e a morte. Alguns pesquisadores dizem que ela se instalou por causa da promiscuidade; religiosos chegam a afirmar que é uma punição divina e ainda outros estudiosos do assunto esclarecem que ela veio para tornar a atividade sexual mais seletiva, requerendo do homem e da mulher mais fidelidade e respeito nos relacionamentos sexuais.
As campanhas, tanto de iniciativa privada como do governo pedem o uso sistemático da camisinha, como um recurso indispensável para que a pessoa se proteja. De minha parte, entendo que um dos elementos mais perigosos, nesse processo, é o preconceito. Ele impede que a criatura se proteja, deixando de usar o preservativo e também isola o doente, dificultando que o tratem com compreensão e amor.
por Wilson Francisco
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Sobre o autor
Wilson Francisco é Terapeuta Holístico, escritor e médium espírita. Desenvolve o Projeto Mutação, um processo em que faz a leitura da alma da criatura e investigação do seu Universo, para facilitar projetos, sonhos e decisões, descobrindo bloqueios, deformidades e medos que são reprogramados energeticamente.
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