Nós, humanos, somos seres complexos. Temos necessidades a serem satisfeitas que, em muitos aspectos, se conflitam. Como um quebra-cabeça montamos nossa personalidade e precisamos que todas as partes deste quebra-cabeça, daquilo que chamamos “Eu”, tenha espaço para se expressar na nossa vida.
Os papéis que representamos no decorrer da vida, dando expressão para uma parcela do nosso Eu, são também necessidades a serem supridas. A mulher é filha, mãe, esposa, namorada, amiga, profissional e dona-de-casa. O homem também tem seus diversos papéis a desempenhar.
A Mitologia Grega nos legou um presente precioso: os diversos Mitos e que são, na verdade, representações das mais variadas facetas humanas que vivenciamos no nosso dia-a-dia durante toda a nossa existência.
Todos nós, homens ou mulheres, temos uma Deméter, um Marte, um Zeus ou uma Vênus dentro de nós, além de todos os outros deuses e deusas também.... Entretanto, como cada pessoa “satisfaz” cada um desses deuses e deusas internos e harmoniza as suas expressões depende de seus valores e crenças.
Imaginemos que a vida é feita de “departamentos”. Cada “departamento” vai precisar que um deus ou deusa se responsabilize e tome frente para organiza-lo e coloca-lo em funcionamento efetivo, proporcionando à pessoa sensação de satisfação e realização dentro daquele “departamento” da sua vida.
Embora um deus ou uma deusa possa ser responsável por um “departamento” específico isto não significa que os outros deuses estão excluídos e isentos de participarem e colaborarem.
Por exemplo, no “departamento” de filhos, para a mulher a grande responsável é a deusa Deméter. É ela que proporciona as qualidades necessárias para que a mulher seja capaz de acarinhar, nutrir e dar todo amor materno incondicional que tanto a criança precisa.
Para a mulher viver a relação com seus filhos sob a regência da deusa Deméter é viver no paraíso – tanto para a mãe quanto para o filho – pois é só um usufruir mútuo de carinho, aconchego e amor.
Porém, esta mulher também vai precisar da ajuda do deus Kronos para entender, primeiro, que a responsabilidade de educar aquele ser é dela, pois ela é o adulto da história (ela pode até contar com a ajuda do pai da criança para dividir a responsabilidade sobre a educação do filho, portanto são ambos os adultos, co-responsáveis!). Depois, é preciso ter consciência de que o tempo passa: aquele seu bebezinho vai crescer e cada fase é uma fase diferente, exigindo então cuidados e limites diferentes e adequados para cada fase.
O que é muito comum é vermos a utilização negativa deste deus: sendo extremamente permissiva ou por demais “ditadora” (ou permitindo que o pai o seja).
Para educar uma criança, a mulher precisa também acessar a deusa Atenas, racional e objetiva, capaz de estabelecer uma estratégia na educação que lhe dará, para que a criança possa desenvolver suas habilidades intelectuais e o relacionamento com seus amiguinhos.
Essas duas deusas associadas – Deméter e Atenas – tornam-na uma mãe amorosa e didática. Brinca com sua criança, por exemplo, com jogos de montar, quebra-cabeça e faz sessões de leitura e o deus Kronos lhe permitirá dizer o “não”, sem culpa, tão necessário para a educação e formação de seu caráter.
Precisará, também, da deusa Ártemis para que possa ensinar sua filha a apreciar e respeitar a natureza; para orientar seu filho a gostar e tratar com carinho os bichinhos domésticos (tendo-os ou não). É a deusa Ártemis que pede passeios no parque, piqueniques e programas de acampamentos junto à natureza.
É bom acionar o deus Zeus para ensinar sobre o respeito à autoridade (normalmente as mulheres deixam isto apenas a cargo do pai – representante de Zeus), mas é preciso saber que, como mãe, também se é uma autoridade a ser respeitada pelo filho.
Plutão também deve fazer parte deste panteão, pois é importante ensinar à criança a suportar a frustração de uma perda e que saiba que isso faz parte da vida.
É importante dar espaço também para o deus Marte, entendendo a agressividade natural da criança, orientando-a e canalizando-a, sem reprimi-la.
Todos esses deuses e deusas presentes e atuando na relação mãe-e-filho precisam de um porta-voz: Hermes, o deus mensageiro dos deuses. É esse deus que, associado a cada um dos outros deuses, irá propiciar a comunicação entre a mãe e o filho e permitir o desenvolvimento da percepção na criança.
É através de Hermes que se mostrará o tom bravo da voz da mamãe quando ela está zangada (Hermes/Deméter/Zeus/Kronos) ou tom doce e suave quando ela estimula sua criança a ver a borboleta ou o colorido de uma flor (Hermes/Deméter/Ártemis) ou tom de felicidade quando a criança consegue ficar em pé e dar os primeiros passinhos (Hermes/Deméter/Atenas) ou aquele “não” firme e categórico sobre algo que a mãe sabe não ser possível permitir à criança (Hermes/Deméter/Zeus/Kronos).
Então, podermos perceber que embora seja um campo de responsabilidade de Deméter, ela precisa da ajuda dos outros deuses para que seu trabalho seja o mais eficiente possível.
E é assim que acontece nos outros setores de nossa vida: primeiro, devemos “chamar” o auxílio do deus ou da deusa responsável e “permitir” que assuma o seu respectivo comando, e depois quanto mais pudermos contar com a ajuda dos outros deuses e deusas para auxiliá-lo(a) mais eficientes e satisfeitos conosco mesmos nos sentiremos.
por Maria Aparecida Diniz Bressani
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Sobre o autor
Maria Aparecida Diniz Bressani é psicóloga e psicoterapeuta Junguiana,
especializada em atendimento individual de jovens e adultos,
em seu consultório em São Paulo.