A minha experiência profissional e pessoal, me leva a acreditar que auto-ajuda e auto-análise não são eficientes, sem uma supervisão adequada. Os mecanismos de defesa se incumbem de sabotar o crescimento não supervisionado e fazem com que ele acabe terminando prematuramente e num ponto de resistência, em geral, com ramificações negativas e que, ainda por cima será acompanhada com fixações negativas. Em outras palavras: se os milhares de livrinhos de auto-ajuda funcionassem, a humanidade estava salva de um jeito muito simples e prático. Esta fixação negativa vai produzir novos mecanismos de robotização diferentes dos anteriores, mas tão nocivos quanto os antecedentes, ou até piores. É o que eu chamo de "aperfeiçoar a neurose".
Bem, mas porque é que eu estou fazendo esta colocação? É que eu fico,muitas vezes, impressionado com o comportamento de alguns clientes que, de repente, descobrem no Eneagrama e/ou outras ferramentas "a salvação da humanidade". E não é bem assim... Eu faço esta colocação levando em conta o aspecto implícito de que, o processo psicoterapêutico, da forma como eu encaro, e de acordo com a minha filosofia de trabalho, é dirigida a uma população que tem uma clareza nítida do que vem fazer e o que pretende alcançar em seu processo de crescimento, de conscientização. Afinal, fazer terapia não é bom pra todo o mundo, tem até contra-indicações... Para as pessoas que não estão genuinamente preparadas,, o uso do Eneagrama pode não ser a ferramenta ideal, principalmente se for entendida como a ferramenta "final". Na verdade o Eneagrama é uma mera introdução ao trabalho verdadeiro, genuíno sobre o Eu, e que continua até o fim da vida e, talvez, em outras encarnações, não tem fim. De outra forma, seria como se, uma vez feito uma descoberta positiva, nada mais teria que ser feito para aperfeiçoa-la.
Então, o primeiro degrau a ser alcançado é o trabalho sobre o Eu, ou seja, conhecer a verdade e a realidade sobre si próprio, sobre sua vida. Isto pode, inicialmente causar mal estar, ou até uma dor muito forte. Isto acontece porque usamos máscaras, personas, para nos escondermos dos outros e de nós mesmos. Essas máscaras estão tão fortemente presas e arraigadas que acreditamos que elas parecem ser genuínas. Isto faz com que a nossa forma de ser, pensar, sentir, atuar fique contaminada por um vício, uma paixão. A paixão nos deixa cegos, não conseguimos perceber o óbvio. Quando nos livramos desta paixão, o que não é muito fácil, passamos a amar, com adequação, o ser que estava camuflado e embutido em nosso Eu, com todas as suas qualidades, as positivas e as negativas as quais poderão ser revertidas. Anos e anos de boa intenção, entretanto, não serão suficientes, se não houver uma motivação consciente. Quando compreendemos, genuinamente algo a respeito de nós mesmos, a mudança ocorre como que automaticamente e com um "efeito dominó".
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