Toda sexta-feira, meus amigos e eu freqüentávamos a sauna na minha cidade. Uma cidade do interior de São Paulo, com aproximadamente 45 mil habitantes. Nesta época eu tinha uns 28 anos.
Na portaria da sauna um funcionário, cuja figura me lembrava muito Ghandi, só que com cabelos. Todas as vezes que eu chegava, após ter tomado umas e outras, ele me perguntava sempre a mesma coisa e eu sempre respondia: Claro que são secas e limpas!
Eu ficava muito irado e tratava-o com desprezo e desconsideração, pois me achava o "Rei da Cocada Preta" e pensava: "Quem é este cara medíocre, pobre e desprezível que me enche o saco todas as sextas com a mesma pergunta: “Toalhas secas e limpas”? Meu Deus! Que vergonha!
Em um determinado dia, um professor da faculdade local chegou no momento em que eu destratava esta figura, este Ser; o "Ghandi com cabelos". Com muita calma e sabedoria, até por respeito à minha família considerada muito importante na cidade e que colaborava com a faculdade, doando produtos produzidos pela empresa, ele chamou-me de lado e com muito carinho me disse: ”Caro amigo, você sabe que o Zé é doente? Ele sofre de epilepsia e constantemente tem convulsões fortíssimas, cai no banheiro e fica lá até alguém encontrá-lo. Não tem dinheiro para os remédios, pois ganha apenas meio salário mínimo por mês para servir toalhas para os usuários da sauna. Você que é uma pessoa de posse, inteligente, estudada e culta, acredita que se ele tivesse outras alternativas estaria neste trabalho? Ele se sujeita a receber este salário e este tipo de tratamento porque suas oportunidades de estudo e de cuidados com a saúde, foram extremamente limitadas e restritas. Se ele está nesta posição é porque não teve as mesmas chances e condição social/financeira que foram-lhe dadas por sua família. Nas condições atuais, ele não tem outra opção a não ser continuar a oferecer as toalhas limpas e secas”.
Aquela frase foi pior do que um murro na cara, que com certeza eu mereceria ter levado. Foi muito pior. Foi humilhante ouvir aquelas verdades.
A partir desse dia, procurei não mais destratar ninguém, passei a ter compaixão pelas pessoas, independente de cargo, posição social, situação financeira, raça ou credo e comecei a buscá-las com carinho, nutrindo interesse por suas vidas. Passei a admirá-las mais, procurando conquistar amizades, compreendendo, pela minha própria atitude, porque tantas pessoas destratam outras menos afortunadas.
Hoje penso, analiso, observo com atenção e percebo que no cotidiano as pessoas mais simples geralmente têm uma capacidade maior de aceitação da condição em que vivem, exteriorizando mais alegria e paz. Por outro lado, observo que pessoas com mais posse estão, geralmente, mais insatisfeitas com a própria vida.
Está na hora de termos mais amor em nossos corações, termos mais carinho com os mais necessitados, termos mais compreensão com o outro, termos mais consciência de que não somos melhores do que ninguém.
Devemos sempre nos lembrar de que a Vida nos ensina através de muitas formas e ninguém está livre ou imune de que ela possa nos colocar um dia, na mesma situação do Zé. Eu sei! Vamos ter mais Humildade em nossas vidas!
por Jaime Benedetti
Consulte grátis
Avaliação: 5 | Votos: 1
Sobre o autor
Jaime Benedetti é uma pessoa comum como você e esta foi a maneira
que ele encontrou de falar a todo mundo
daquilo que considera muito importante. A Vida! Visite meu Site Email: [email protected] Visite o Site do Autor