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Agora que voltei para casa - Capítulo 16

Agora que voltei para casa - Capítulo 16
Publicado dia 8/27/2004 6:53:36 PM em Espiritualidade

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O difícil foi conseguir sair do estado de debilidade física em que me encontrava. Sabia que não poderia voltar a comer normalmente qualquer coisa. Por sorte, me lembrei de uma médica antroposófica maravilhosa, com a qual tinha tido uma experiência inesquecível num curso biográfico que freqüentei (esse curso de sete dias mereceria um capítulo à parte), e que é especialista em nutrição. Com a sua ajuda, voltei lentamente à alimentação normal, e caí da macrobiótica para um tratamento médico alopático (a antroposofia não tinha surtido efeito no meu caso).
Parecia-me ter voltado exatamente à estaca zero, aliás, esse era o lado mais desesperador de minha patologia. Todo dia tinha de reinventar a força para me manter em pé, como se acabasse de nascer. Todo o meu esforço físico (nadar, fazer ginástica, andar dentro de minhas possibilidades) era suficiente só para manter um mínimo de condições para o trabalho. Na verdade isso não mitigava minhas dores, ao contrário, e muito menos fazia regredir minhas limitações.

Mais do que nunca, naquela época, me agarrava à vida espiritual, que é onde conseguia um pouco de oxigênio para a minha alma. Freqüentava reuniões de senhoras católicas empenhadas em aprimorar seus conhecimentos teóricos de teologia, sob a orientação de um padre que as guiava espiritualmente havia décadas. Eram senhoras da alta sociedade, e eu francamente não me sentia muito à vontade naquele meio. Quando chegava a hora do lanche, elas se superavam a si mesmas com uma iguaria mais sofisticada do que a outra. Minha gula era aliciada, mas honestamente não via muita coerência entre a teoria e a prática. Voltava para casa com um gosto de frustração. Até que um dia, numa roda de conversa informal, fiquei sabendo que uma daquelas senhoras tinha sido curada de um problema parecido com o meu através de um tratamento absolutamente original: um aparelho corretor das arcadas dentárias. Já tinha ouvido falar desse novo método, aliás já entrara em contato com um desses “biocibernéticos”, que me causara uma péssima impressão e se recusara a responder objetivamente a minhas perguntas.

Lembrei-me também de outra estranha experiência que tivera com uma mulher paranormal e que parecia ter algo a ver com esse novo caminho que surgia.
Essa senhora tinha o dom de ver claramente, perto da pessoa com quem estivesse falando, a presença de pessoas mortas ou vivas que tinham alguma mensagem para transmitir. Ela só freqüentava casas de pessoas amigas e só atendia pequenos grupos de pessoas previamente escolhidas. Sem eu ter pedido nada, uma de minhas amigas tinha conseguido me incluir num desses grupos.
Consegui ser admitida em várias dessas sessões, até um dia em que a vidente me transmitiu que uma das almas que me ajudavam lhe mostrava um número, que ela não podia saber o que estaria indicando, talvez fosse uma data. Foi naquela época que tive a indicação do especialista em biocibernética bucal, e o número coincidia com a data em que fiquei sabendo dele. Nem que fosse por essa única razão, jamais deixaria de explorar esse caminho. Isso me custou ainda alguns meses de ansiedade, porque havia uma longa fila de espera na minha frente.

Finalmente, o dia e a hora marcada chegaram. O terapeuta (vou passar a chamá-lo assim) me conquistou desde o primeiro instante. O que vi foi uma atlética figura de homem de meia idade, vestido informalmente numa roupa confortável e esportiva, que me olhava sorrindo atrás de uma barba muito charmosa.
À primeira pergunta que ele me fez: “O que foi que a trouxe até aqui”? Respondi que estava ali porque os médicos tinham me colocado um rótulo que me classificava portadora de uma certa doença na qual eu me recusava a acreditar. Ao ouvir essas palavras, levantou-se, deu a volta da escrivaninha e veio me abraçar, dando-me os parabéns por aquilo que acabara de dizer.

Esse foi nosso primeiro contato. Naquele dia ficamos exatas três horas em que tentei resumir todo o histórico de minha “doença” e em que ouvi, pela primeira vez em minha vida, alguém me dizer o que meus ouvidos estavam sedentos por ouvir desde que nasci. Falou-me desde o primeiro momento de todas as repressões que tinham me levado àquele estado lastimável, já me adiantando muitas das coisas que só viria compreender muito tempo depois.
Disse-me que não estava me propondo mais um tratamento alternativo, mas algo de muito profundo e abrangente, que causaria grandes transformações em mim. Tudo isso à condição de que eu estivesse disposta a usar um aparelho móvel nas arcadas dentárias superior e inferior. O uso desse aparelho seria acompanhado paralelamente por sessões de trabalho corporal.

Por nenhum segundo passou-me pela cabeça a possibilidade de recusar. Como poderia, se já estava completamente cativada e nunca ninguém tivera até ali a capacidade de ler tão claro em minha alma? Minha vontade era que o tratamento fosse o mais intensivo possível, mas infelizmente o intervalo mais curto só poderia ser de quinze em quinze dias.
Aí começou meu novo estilo de vida: esperar o encontro da próxima quinzena.
Quando, finalmente, quinze dias depois, chegou o momento almejado de colocar o aparelho, sentia-me como um hebreu que chega à terra prometida. Com toda a delicadeza que a operação exigia, meu terapeuta fez com que me acostumasse aos poucos à inédita sensação e, pela minha reação, parece que era tudo o que minha boca estava precisando.

O problema maior que se colocava para mim era como enfrentar minhas numerosas classes de alunos, aos quais devia ensinar uma língua estrangeira, falando como se estivesse com uma batata quente na boca. Cheguei à conclusão de que o melhor seria enfrentar o problema imediatamente, pois tinha ficado claro que só devia tirar o aparelho na hora das refeições. Foi o que fiz, e preferi eu mesma me ridicularizar diante dos alunos, do que esperar que eles o fizessem. Aparentemente, o aparelho não interferia em nossa comunicação, e foi assim que desde aquele dia sempre apareci na frente de meus alunos com um dentão de coelho a mais em minha boca. É claro que uma vez ou outra surpreendi alguns dos alunos mais irreverentes imitando minha maneira de falar, mas isso não chegou a me ferir. Estava tão encantada com todas as novidades que o aparelho me trazia, que nunca me passou pela cabeça, naquela época, de me sentir inferiorizada por causa disso.

por Angela Li Volsi

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Sobre o autor
Angela Li Volsi é colaboradora nesta seção porque sua história foi selecionada como um grande depoimento de um ser humano que descobriu os caminhos da medicina alternativa como forma de curar as feridas emocionais e físicas. Através de capítulos semanais você vai acompanhar a trajetória desta mulher que, como todos nós, está buscando...
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