Qualquer pessoa poderá notar que fugir da dor e de qualquer tipo de desprazer é a prioridade principal.
Qualquer um pode comprovar a presença, em sua vida psicológica, de uma função que se assemelha a um GUARDA, sempre assoprando em seus PRÓPRIOS ouvidos advertências, recriminações e ponderações e argumentos tidos como “absolutamente razoáveis e racionais”, de modo geral.
Instintos poderosos - que apontam a necessidade de garantir e sustentar nossa segurança e bem estar pessoais - estão por detrás desta função psicológica.
Um GUARDIÃO maduro e inteligente é bom a gente ter, mas este é democrático e tolerante...
Já um GUARDA é chato, intrometido, tenso e angustiado, pois teme sofrer, perder, ser derrotado, ser morto e, em assim sendo, se resguarda demais e acaba enredando o viver do seu protegido – no caso, nós mesmos - em uma teia de inseguranças e de temores considerados então como “os mais justificados”.
A ninguém ocorre a “INSENSATEZ” de desconsiderar o “discurso internalizado” de seu máximo protetor (SIC!)... Mas, será que este discurso é mesmo o que ACREDITAMOS que ele seja? Será que o que projetamos na realidade, como por exemplo, medos e inseguranças, são mesmo justificados e apropriados à situação e aos outros? Será que correspondem, de fato, à realidade? Sabemos que, com freqüência, a resposta é NÃO!
O ADMINISTRADOR DA DOR recebe de nós, em tenra idade, uma espécie de “procuração” para pensar e agir em nosso nome. Pode-se dizer, inclusive, que é ele que pensa por nós...
Ele é, digamos, o nosso REPRESENTANTE OFICIAL nos encontros com os outros e na nossa adaptação ao mundo FÍSICO, familiar e social.
Para cada qual descobrir onde possui um ADMINISTRADOR DA DOR ativo e funcional é só ter atenção para tudo aquilo que evita, tudo aquilo de que foge e de que tenha medo ou um “senso de ameaça” despropositado. Para cada um é diferente, pois não é difícil notar que o que para nós é terrível pode ser neutro ou indiferente para outros.
Olhe para aquilo que você odeia, para o que lhe causa reação afetiva de negação e de repugnância, olhe para aquilo que você - se pudesse - nunca vê, nunca faz, nunca aceita; jamais comunga; ou seja, detesta, renega e nega terminantemente. É assim que nos aproximamos dos conteúdos de experiência e de vivência que se tornaram núcleos centrais do funcionamento do ADMININSTRADOR DA DOR.
Com relação a estes conteúdos de experiência, memórias, sensações, imagens visuais, cheiros, relacionados a situações “pico-de-tensão” traumáticas ou desagradáveis, o único modo de tornar conscientizáveis – estas situações e memórias – é fazendo um exame de seus conteúdos, evitando tomá-los como absolutos e permanentes, tornando-os relativos, circunstanciais, humanos, compreensíveis e, portanto, perdoáveis.
Estas memórias e experiências, pela sua própria origem e natureza, ficam carregadas de afetos e emoções correspondentes, fixadas no tempo e no espaço e que jamais nos abandonarão enquanto esta configuração/situação assim permanecer.
Desde que ocorra um problema de adaptação e que este seja “sofrido” por nós - gerando um sentimento de inadequação e de ameaça à auto-imagem e à auto-estima - cria-se, em nós, uma instância de manutenção e segurança, uma proteção que se assemelha a uma armadura ou uma membrana impermeável de autoproteção.
Exatamente como na natureza em que uma cicatriz é sempre mais reforçada e resistente do que a pele normal – que jamais foi injuriada nem tenha sofrido ferimento algum – então o ADMININSTRADOR DA DOR assume o controle preventivo e estratégico de nos proteger e de evitar o objeto ou situação causadora do trauma e da dor/sofrimento, de qualquer tipo.
Conclusivamente, podem se incluir no processo de funcionamento do Administrador qualquer agir pessoal, de qualquer tipo, desde que a situação emotivamente negativa tenha ocorrido. Pode ser o cantar, o jogar bola, o escrever, o tocar um instrumento, o dançar, o simples apertar de um parafuso e assim por diante. Também é necessário incluir entre os “agires” todo o campo INTELECTUAL/VERBAL de qualquer um de nós, já que podemos passar por situações de exigências e de pressão intensas no campo do conhecimento ou da informação, desde que sejamos testados/exigidos socialmente ou familiarmente.
As pessoas que possuem confiança e segurança no que fazem, podem ter tido menos dificuldades de afirmação pessoal - no “agir” e na “tomada de decisões” - sendo saudável que tenham sido reforçadas positivamente quanto a estas características.
Quando a atmosfera familiar é de crítica e de negatividade, a pessoa pode desenvolver severas dificuldades de auto-expressão.
O ADMINISTRADOR DA DOR se preocupa muito mais com a possibilidade de sofrer do que com a necessidade de realização e prazer. Neste sentido, assim como em toda a vida em geral, as necessidades de MANUTENÇÃO E SEGURANÇA suplantam em muito as dirigidas à PRODUÇÃO E CRESCIMENTO. Estas últimas também fazem parte das preocupações e ocupações de um legítimo e maduro GUARDIÃO.
O pessimismo e minimalismo, típicos do funcionamento do ADMINISTRADOR DA DOR, se justificam pelo fato de que o nosso sistema orgânico-fisiológico necessitou lutar contra condições difíceis, para sobreviver neste planeta, devido a diversos fatores de peso como os animais caçadores – viam-nos como comida! - e às doenças em geral, sem falar no perigo constante da morte e de SOFRIMENTO, impingida a uns homens por outros homens, e na dificuldade sempre presente de encontrar meios de sobrevivência, com carências de todo tipo em todo grau imaginável...
Contudo, o mais importante - no sentido individual - é conseguir reconfigurar o “ADMINISTRADOR DA DOR” para que deixe de ser um GUARDA e atue como GUARDIÃO. Isto dá um grande trabalho (na terapia!), mas o esforço vale a pena.
De modo geral o ADMINISTRADOR DA DOR é muito rígido e não sabe lidar com pares de opostos OU com paradoxos de qualquer tipo.
Exemplificando: Uma pessoa pode tanto sofrer do vício da passividade quanto do da atividade. O problema é o VÍCIO em uma - sempre a mesma - qualidade de resposta à vida.
É aí que reside a rigidez do ADMININSTRADOR DA DOR: desenvolver uma solução aparentemente permanente para as dificuldades da vida e nisto ele se esquece - porque não é VERDADEIRAMENTE uma instância de funcionamento de nossa RAZÃO - de que a vida não é para ser SOLUCIONADA ADMINISTRATIVAMENTE: a vida é para ser VIVIDA, EXPERIMENTADA...