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Os números e os símbolos

Os números e os símbolos
Publicado dia 6/3/2005 1:39:37 PM em Espiritualidade

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Números... sempre me pergunto o que eles têm contra mim? Desde menina tenho a sensação de que quando o assunto são os números, meu cérebro engancha em alguma aresta e eu acabo ficando lá dependurada num enorme ponto de interrogação. As palavras, estas sempre me acolheram com carinho de velhas tias, íntimas, abrindo segredos, costurando fantasias, exibindo suas jóias, suas cores...

Lembro quando meu pai me deu “O Homem que calculava”: devorei as histórias cheirando a camelos e a areia e aprendi a desistir de tentar entender a questão dos números. Importava apenas a alma deles. Uma espécie de aura de mistério que os envolvia: números naturais, números irracionais, infinitos e Pis... Mais do que tudo, ninguém se surpreendia mais com o final das histórias do que eu...

Cresci me desviando deles na medida do possível, sempre tentando escapar das suas armadilhas... Mas um dos primeiros livros que comprei para minha filha, assim que ela começou a lidar com a matemática chamava-se: O Diabo dos Números. E contava a história de um garoto que sonhava com um personagem vestido de vermelho como o diabo, a alma da Álgebra, que costuma dizer coisas como "O que há de diabólico nos números é que eles são simples”.

Você sabia por exemplo que o Zero é uma fantástica invenção nossa? E que sem ele não teríamos acesso aos mistérios das contas infinitas e estaríamos ainda mais longe de entender a mente de Deus? Um matemático chamado Robert Kaplan, escreveu um livro interessantíssimo, chamado The nothing that is, ou O Nada que é, todinho sobre... O Zero! E logo na primeira linha ele diz: “Se você olhar para o zero não vê nada; mas olhe através dele e descubra o mundo”. Foi este número engraçado que permitiu que os homens parassem de contar simplesmente e começassem a calcular. Diferença sutil, mas fundamental, né? Contando, você avalia as coisas, calculando você faz estimativas e, o mais legal, consegue penetrar na lógica invisível das coisas e dos fenômenos e fazer previsões!

Eu também não fazia idéia de nada disso...

Esta minha conturbada relação com os números, misto de fascínio e terror, me tornou exigente. Não suporto banalizações numerológicas. Os números são imponentes demais para se submeterem assim aos nossos caprichos modernos. O que não quer dizer que sejam abertos apenas às racionalidades frias da lógica... não, os números escondem, mais do que revelam...

Os homens sempre buscaram um sentido simbólico nos números. Para muitos filósofos gregos, por exemplo, como Platão e, sobretudo, Pitágoras, a ciência dos números, que hoje chamamos numerologia, era uma ferramenta importantíssima de conhecimento e expressava a harmonia do mundo. Pitágoras dizia que a realidade era pura matemática e que cada número tinha características próprias. Muitas culturas expressam este fascínio humano pelo significado misterioso dos números. Cada um dos deuses aztecas tinha seu número e sua cor, que estavam relacionados com sua posição no cosmos. Por isso, “não se deve empregar os números intempestivamente”, alerta o Dicionário de Símbolos, de Jean Chevalier e Alain Gheerbrant. “Eles acobertam uma força desconhecida.”

E se você acha que o simbolismo dos números é coisa da Nova Era, relaxe. Cabalistas judeus e místicos cristãos vêm tentando há séculos dar novos significados aos números que aparecem no Velho e no Novo Testamento. E foi nessa onda que eu embarquei: os números são símbolos e símbolos de símbolos... quer ver?

O um: é o único, o que está sozinho, por extensão, o que é independente dos outros e inteiro em si mesmo. Por isso, foi associado ao Princípio, à base de onde tudo surge. “Deus é um”, concluem, orgulhosos, os muçulmanos.

O dois: é o número da ambigüidade. Tanto expressa conflito entre opostos quanto é o símbolo mais forte do dualismo criador de onde nascem todas as coisas. O dois organiza nosso jeito de pensar: homem e mulher, yang e ying, claro e escuro, vida e morte, bem e mal, deus e o diabo. Dois é o mundo e suas manifestações.

O três: para os chineses, é o número perfeito. É ele que reúne o homem, a terra e o céu. Os cristãos associam o três com a trindade: Deus é Pai, Filho e Espírito Santo. A família, por exemplo, é pai, mãe e filho. E os gregos vêem a Deusa relacionada com a vegetação sob seus três aspectos: jovem, mãe e velha.

O quatro: este é um número querido dos matemáticos. Os símbolos do quatro dizem respeito ao quadrado, à cruz. Jung incluía o quatro entre os números totalizadores, quer dizer, que expressavam a totalidade e a plenitude. São quatro pontos cardeais (Norte, Sul, Leste e Oeste), quatro elementos (água, ar, terra e fogo), é o número da Terra e de tudo que ela contém.

O cinco: Pitágoras dizia que o cinco era o número da união, porque ele ficava bem no meio dos 9 primeiros números. Mas talvez o símbolo que a gente costuma associar com mais freqüência ao cinco é o próprio corpo humano: cabeça + membros. Cinco é o número do homem.

O seis: algumas pessoas implicam muito com o 6. Para os cabalistas, 666 é o número da Besta do Apocalipse que é a síntese do mal, conforme está no Livro da Revelação de São João, capítulo 13. Por outro lado, seis é o número de pontas da estrela de David e Deus criou o mundo em seis dias. No mínimo, o seis é um número polêmico.

O sete: é um velho conhecido. Sete dias da semana, sete planetas, sete degraus da perfeição, sete ramos da árvore cósmica dos xamãs, sete dias dura o ciclo lunar. O sete para os egípcios era o número da perfeição. Sete é número da sorte e este caráter sagrado contamina os seus múltiplos. No Novo Testamento, Jesus convida Pedro a perdoar seu irmão 70 vezes 7. E não é só entre cristãos que o sete é considerado um número especial. Para os gregos, ele está relacionado aos cultos do deus Apolo. O sete é o número que os homens têm usado para organizar sua percepção do céu e de sua ordem.

O oito: Ou duas vezes o quatro, é o número da totalidade cósmica. Os hindus exploraram bastante este número e fizeram Visnu ter oito braços e relacionaram oito planetas, posicionados em torno do sol. Alguns cristãos associam o oito com a Ressurreição de Cristo e os cabalistas dizem que, como vem depois do Sabath (o sétimo dia), ele representa o futuro.

O nove: os gregos usavam o nove nos rituais. É o tempo que Deméter, a deusa da vegetação, leva para encontrar sua filha, Perséfone, raptada por Hades, o senhor dos mundos inferiores. Nove é tempo de gestação e, talvez por ser o último número da série, é associado aos começos, à regeneração, à capacidade de renovação embutida em todas as coisas.

Pergunta da semana: Você conhece mais símbolos associados aos números? Todos nós gostaríamos de saber...

por Adília Belotti

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Sobre o autor
adilia
Adília Belotti é jornalista e mãe de quatro filhos e também é colunista do Somos Todos UM.
Sou apaixonada por livros, pelas idéias, pelas pessoas, não necessariamente nesta ordem...
Em 2006 lançou seu primeiro livro Toques da Alma.
Email: [email protected]
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