TUDO que vemos do mundo e no mundo está em ressonância com o estágio evolutivo da Consciência Individual
O ato de relativizar os nossos julgamentos/explicações de origem intelectual é fundamental para o desenvolvimento de uma consciência verdadeiramente individual.
A oposição entre Ego e Inconsciente é ilusória, pois depende que acreditemos no paradigma de que somos divididos e que possamos existir divorciados (Ego versus Inconsciente) do modo como fomos ensinados a funcionar neste particular momento histórico.
Quando estamos nos aproximando de um problema verdadeiramente nosso é sempre uma experiência terrificante. Não há alternativa possível e isto se deve a um momentâneo confronto (ou encontro?) com uma parte de nós mesmos; a maior, a mais substancial e a mais vital, para a qual damos o nome de Inconsciente já que, a respeito dela, pouco ou nada sabemos...
Se, por exemplo, estamos enredados em um conflito entre opostos, a saída sempre se esconde em algum terceiro termo ou fator que devolverá a dinâmica e o movimento ao conflito.
Devido à rigidez de nossos processos explicativos internalizados, se estamos oscilando entre opostos o desfecho nunca acontece e parecemos “parados no espaço e no tempo”.
Enquanto isto acontece, criamos um abismo dentro de nós, pois o Inconsciente só se torna acessível pela experiência e pela compreensão; de outro modo, torna-se quase inacessível quando nos servimos apenas do intelecto.
Não adianta falar de um “termo” como Inconsciente. Costumo dizer que o Inconsciente só é acessível à experiência. Só pode ser experimentado, vivido e não pode ser tratado como um conceito, um nome, vazio, sem valor prático, empírico ou existencial.
Através da experiência do contato com outras áreas da consciência, (diferentes da egóica) descobrimos que nossos pensamentos, julgamentos e explicações são apenas relativos e que o nosso plano inconsciente/vital - e seu peculiar funcionamento – está “pouco se lixando” quanto às nossas teorias e racionalizações a respeito dele. Ele é o que é e não responde bem a tudo aquilo que nós – civilizados – pensamos a este respeito. Inclusive e principalmente aquilo que, devido ao modo particular como é pensado, não possua uma boa RESSONÂNCIA com o que ele é ou com o modo como ele funciona... (Incluindo-se aí as mais “belas e coerentes” racionalizações psicológicas).
Crescemos - todos nós, sem exceção - com o hábito de ler e de receber informações, porém também habituados a fazer nada - ou quase nada - com o que “sabemos”.
Hoje em dia tornou-se absolutamente normal a pessoa se encontrar alienada de si mesma.
Hoje em dia funcionamos como máquinas e o que é pior: inconscientes de sua programação.
Alguém pode “ter a INFORMAÇÃO” de que existe um “cyborg” funcionando dentro de si; porém, só verdadeiramente “COMPREENDERÁ” este fato quando, digamos, SENTIR isto com todo o seu ser. Quando chegar à EXPERIÊNCIA VIVIDA saberá o que significa a palavra e saberá que há um “jogo de vida e de morte” acontecendo, sempre, e que, neste jogo, a alienação da consciência é quase inevitável; portanto é imperativo FAZER algo a este respeito.
Ao descobrir o quanto é previsível e repetitivo, o Ego Consciente tem o natural desejo de libertar-se das amarras... Isto é um instinto natural e ele nos leva à busca, à necessidade da descoberta, do esclarecimento, do despertar... Para tal é necessário expandir a consciência individual e tirá-la do “atoleiro intelectual” na qual ela sempre viveu.
Nosso maior desafio, nestes campos de experiência, é a inércia, pois aprendemos a nos encher de informações impertinentes, mas jamais somos ensinados a usar a informação que possuímos... Somos bem mais ensinados sobre o que pensar do que propriamente a pensar...
Qualquer instituição de ensino moderna está intelectualizada e se baseia no fato de que o importante é que tenhamos a informação, claro, antecipadamente, para quando precisemos dela (ainda que isto possa jamais ocorrer).
Somos levados a absorver informação mesmo que esta seja irrelevante e não tenha qualquer pertinência nem faça qualquer sentido na nossa vida concreta.
Somos obrigados a absorver informações em grande quantidade e quase nada delas se referem a nós mesmos; quase nada delas é importante para o autoconhecimento acontecer ou se desenvolver.
Isto é algo instalado em nós e tipicamente um produto do “mundo moderno”.
Somos, portanto, especializados (por especialistas!) e usamos apenas as partes de nós mesmos que foram exigidas em nosso processo de aprendizagem...
Eu já escrevi um artigo, aqui mesmo neste portal com o título “ (link no final do artigo) Ainda bem que sonhamos o impensável(*)”, pois isto é o que vem garantindo a possibilidade da humanidade se salvar do completo desastre!
Um Viva para a arte, outro viva para o mistério, outro viva para a magia!!!
O Mistério de que eu falo não tem nada a ver conosco, com qualquer crença ou teoria de qualquer um de nós, nem com a escolha humana, de qualquer tipo... Devido a isto, ele é O mistério. Ele existe pelo fato único e inquestionável de que pouco ou quase nada sabemos a respeito do universo íntimo de nós mesmos e pouco ou nada descobrimos a respeito do universo exterior como um todo.
Neste sentido, nada tem a ver com escondido, escamoteado, reprimido, fantasia, alucinação ou imaginação... Tem a ver com o desconhecido ainda não revelado, nem desvendado: o Inconsciente... Que existe para o passado e para o Futuro, que não tem extensão nem se extingue...
O mistério de que a pessoa comum fala é uma mera camuflagem... Do tipo: Coloca-se um “fio dental” e aí fica todo mundo olhando pra ver o que faltou mostrar (é sempre mais importante do que o que está exposto!!!).
Qual é o sentido do que estamos fazendo aqui neste planeta no meio do imenso desconhecido?
Haverá ou não um sentido para nossa existência? Isto é um mistério... e continua oculto mesmo quando a gente levanta algo aqui e algo ali... sempre há muito mais a descobrir... E é sempre um grande prazer aprender, conhecer, esclarecer... Ainda assim, não fosse a arrogância típica dos intelectuais de plantão, todos saberíamos que O Mistério insondável sempre existiu e sempre existirá, pois tudo indica que sempre existirão seres/indivíduos a se perguntarem algo assim...
Esta experiência - acima descrita, diante do desconhecido - é a raiz mais pura e factual da real (e natural!) religiosidade humana.
Somente os “cyborgs” inconscientes de sua programação supõem SABER tudo a respeito de tudo...
Qualquer um que exagere, neste particular, perderá a experiência VIVA em prol de se render e se conformar às autoridades pensantes, aos professores e doutores que, supostamente, pensam (ou pensaram!) melhor... O que deveria ser algo temporário, compreensível, em um contexto de imaturidade, muitas vezes, torna-se a única coisa que existe: só existem os pensamentos dos outros, dos mais velhos, dos povos mais evoluídos, dos dominantes da mídia e assim por diante...
Enquanto isto, a realidade (e seus mistérios!) espera que alguém a compreenda/conceba AQUI e AGORA, sempre, em todo lugar...
No entanto tomamos como Conhecimento o fato de possuirmos informações a respeito disto e daquilo. Somos treinados desde criancinhas a nos relacionarmos com o mundo desta forma, pois o processo da Explicação Intelectual está, por assim dizer, instalado como prática comum e estabilizado na posição do Comando sobre as outras funções psíquicas – dentre elas, a consciência propriamente dita.
A Explicação, como ato de interpretação, pertence ao reino do Intelecto (Campo Consciente), enquanto que a Compreensão faz demandas à intuição, à inteligência emocional, à sensação, ao sentimento.
A Compreensão enseja a possibilidade de integrar o Intelecto às outras funções psíquicas.
São dois processos mentais diferentes, porém complementam-se um ao outro. Um poderia ser chamado de Explicação e o outro de Compreensão.
A Explicação não transforma sem a devida Compreensão.
Sempre que nos deixamos transformar, deve-se ao fato de que houve uma evolução da consciência individual, ainda que, em um primeiro momento, tenha sido apenas adquirida... E isto só ocorre porque demos VIDA à informação e a transformamos em conhecimento, em consciência.
Ter informação não é o mesmo que ter conhecimento. Pode-se ler a respeito de tudo e o máximo que se pode garantir com isto é que “Já ouvimos falar” a respeito daquele “assunto”.
Pois é, caro leitor que me acompanhou até aqui: saiba que TUDO que vc. vê do mundo e no mundo está em ressonância com o estágio evolutivo da sua consciência individual e, portanto, com aquilo que você concebe como realidade. Aprenda a não confundir o que VOCÊ PROJETA SOBRE OS OUTROS (ou sobre o mundo!) com aquilo que eles, os outros, são, por si mesmos. O despertar de sua consciência individual depende, de modo crucial, deste sutil detalhe...
O mesmo acontece quando começamos a juntar informações – na maturidade – a respeito de nós mesmos e começamos a constatar nosso “muito pessoal” modo de funcionar e a distingui-lo do modo como os outros funcionam. Ao juntar informações a respeito de nosso funcionamento algumas áreas começam a se esclarecer aos nossos olhos enquanto outras permanecem incompreensíveis. Então, nesta hora, poucos de nós conseguem não se deixar levar pela tentação de deixar de lado o que não compreende e a se agarrar apenas àquilo que consegue explicar.
O pensamento explicativo que se instala no Ego Consciente é, geralmente, incapaz de assimilar a existência real de OUTROS funcionamentos, em especial, quando se baseiem em princípios opostos...
Somente a Consciência Individual consegue relativizar-se a ponto de aceitar o funcionamento pessoal de alguém que – por um dia, um ano, uma década.. - nem mesmo aceitou ou compreendeu.
Notamos isto em todas áreas da vida.
Há um vício notório e absolutamente indiscutível, hoje em dia, que é o costume de explicar tudo como “originado fora de nós mesmos e independente de nossa consciência”. Neste sentido não somos participantes ativos de nossas vidas, mas expectadores passivos das circunstâncias, ou seja, vítimas de circunstâncias perfeitamente explicáveis e coerentemente justificadas.
O que ninguém nos esclarece - e que temos que lutar para desenvolver sozinhos – é: O QUE FAZER COM TUDO ISTO QUE É EXPLICADO? Esta é a tarefa da Consciência Individual.
Os métodos de abordar o ser humano de modo a transforma-lo são muitos, contudo eles dependem de que tenhamos a CONSCIÊNCIA INDIVIDUAL desenvolvida para que possam surtir algum efeito prático. A Semente que pode se desenvolver é a consciência individual...
Enquanto o processo Explicativo lida com um mundo composto de PARTES ESTANQUES que se relacionam de modo linear/causal, o processo Compreensivo lida com um mundo construído por PROCESSOS que se relacionam e interagem, cujo resultado pode trazer muitas surpresas.
Na Explicação estamos separados do mundo, na Compreensão somos unos com o mundo e fazemos parte integrante dele: a Compreensão não nos separa do Outro, ou dos fenômenos da natureza, pelo contrário, nos faz co-responsáveis pelos resultados de tudo e de todos.
Estamos, como humanidade, EXPLICANDO TUDO MUITO BEM enquanto matamos/envenenamos/destruímos tudo que vemos pela frente...
Sem a consciência de que nós mesmos (e nossos filhos!) pagaremos o preço pelos nossos erros, estamos “dando tiros nos nossos próprios pés”, como se diz... E, se o salário é bom então tapamos os olhos de nossa consciência e “vamos em frente, pois atrás vem gente!”
A decadência da ética e da moral - paralela ao aumento da violência - é também uma conseqüência do processo de obscurecimento da nossa capacidade de Compreensão.
A “Idade da Razão” gerou, aos milhões, um tipo de pensamento primitivo/infantil/separativo/opinativo/fanático que julga “estar sempre com a razão.”
Este modo de pensar é o paraíso para os Ditadores, os Ególatras, os Palpiteiros de Plantão e para os Fanáticos de todo e qualquer tipo.
É assim que o universo ri de nossa inesgotável estupidez...
Um Ego Consciente que é capaz de rir de si mesmo, com desprendimento e alegria, está tendo uma experiência libertadora e está se tornando humano e capaz, tanto de compreensão quanto de perdão verdadeiros.
Os desafios são os mesmos para todos... humanos que somos...
Por outro lado, um Ego Consciente que só sabe se repetir, se culpar e se condenar está preso aos próprios sistemas explicativos e jamais conhecerá o humor... nem a libertação a que tem direito.
Somos um “projeto em construção” permanente...