Um livrinho quase à toa, não fosse o título: “Lições de vida para casais”... pingos de sabedoria para levar na bolsa, ter assim à mão, em casos de emergência...
Em geral, desconfio das “lições de vida”, puro hábito, aliás, gosto mais de provocações, reflexões, idéias... lições lembram verdades endurecidas, lembram de... caixas de sapato!
Uma amiga da minha sogra contava que tinha sido criada para caber numa caixa de sapato e que agora, mais velha, não sabia o que fazer com tudo que sobrava para fora da caixa. Meio triste, não é? Mas algumas histórias são assim mesmo...
E fiquei pensando que, de fato, existem tantas pequenas coisas que você pode fazer sim para encher de uma graça nova e fresca sua relação! E imaginei que poderíamos hoje começar uma lista das mil coisas inúteis para dizer ou fazer se o seu objetivo é, como o do poeta, viver um grande amor:
Não diga nunca, jamais. E nem sempre. A vida é muito mais interessante do que estas duas palavrinhas conseguem expressar. Congelar o outro em “sempres” e “nuncas”, em geral só gera atitudes defensivas. Outro dia, numa destas apresentações que se costumam fazer nos cursos e workshops, uma mulher disse: “Sou Léia e estou viúva!”. Não é uma tremenda afirmação de vida? Não é um jeito de dizer: acredito que todos somos possibilidades, acredito na capacidade infinita que a vida tem de se regenerar e de se refazer, acredito que eu, como filha da vida, posso acompanhar esta dança e mudar também...
Você é igualzinho ao seu pai. Ou ao seu tio Afonsinho, ou à sua avó Mariquinha. Todo mundo sabe que a gente casa com ele e com a família toda dele, mas ninguém gosta de ver sua árvore genealógica psíquica assim exposta, sobretudo quando isso vira argumento numa discussão. Afinal, não dá para se defender dos traumas e das neuras dos antepassados e já é bastante difícil um casal manter a família longe das brigas. Lembre-se de que você também esconde em algum lugar uma tia Pulquéria que adorava... hum, deixa pra lá! Uma coisa é você e ele explorarem semelhanças e variações familiares, até para se conhecerem melhor, usando referenciais conhecidos, mas se você quer embarcar nestas aventuras da memória, que seja em volta de uma mesa, à luz de velas, com uma garrafa de vinho do lado...
Você é um egoísta inútil (e todas as infindáveis variações em torno do tema: ‘críticas ao caráter do outro’, incluindo, na sua forma mais sofisticada, a gozação e o insulto velado). O primeiro sinal de que um casamento não está bem é este tipo de crítica destrutiva. Um estudo famoso, conduzido por um psicólogo americano da Universidade de Washington, John Gottman e que deu origem ao livro “Porque os casamentos dão errado”, concluiu que quando você consegue criticar a ação e não a pessoa, tem muito mais chances de ser ouvida e, melhor ainda, de ser atendida. O segredo de uma ‘boa briga’ é manter o foco naquilo que aconteceu, tentando expressar seus sentimentos o mais claramente possível. Em vez de “você está sempre atrasado, só pensa em si mesmo”, experimente alguma variação deste tipo: “quando você se atrasa para um encontro nosso, fico com medo de não ser importante na sua vida”...
Por que você não abre a boca? Quer mesmo uma resposta sincera para esta pergunta? Porque ele está se defendendo com unhas e dentes do que considera um ataque seu, sob a forma de críticas ou sarcasmo. Pelo menos é o que diz o médico Daniel Goleman, criador do conceito de Inteligência Emocional. Segundo ele, as mulheres têm menos problemas em entrar em bate-bocas. Os homens, ao contrário, reagem de maneira muito mais violenta ao stress provocado por uma discussão e, por conta disso, procuram desesperadamente uma maneira de escapar deste sentimento de “esmagamento emocional”. Resultado: fecham-se em copas. Imediatamente seus batimentos cardíacos baixam e eles são invadidos por uma sensação de alívio. Quanto mais eles emudecem e sentem-se bem, contudo, mais suas mulheres se angustiam, as críticas ficam mais pesadas, elas vão ficando cada vez mais furiosas e agressivas e a coisa vai parar sabe Deus onde... Aprender a se acalmar e a acalmar o parceiro, exercitar sua capacidade de empatia e saber ouvir são as receitas do estudioso das relações humanas. E, não, ninguém disse que é fácil, ao contrário, isso exige treinamento amoroso assíduo.
Não faça do sexo uma arma. Ou não confunda afeto e desejo, duas coisas que podem ou não estar embrulhadas juntas no mesmo pacote... Quem já não ouviu este conselho pelo menos uma dúzia de vezes? Sim, acho que todas as mulheres, o que não impede nenhuma de nós de muitas vezes fazer da sexualidade a moeda de troca no mercado das emoções e afetos do relacionamento a dois. Uma grande pena, na verdade, porque a gente esquece que o sexo tem um enorme, imenso poder de curar feridas emocionais. Sábios de todas as épocas atribuíram ao ‘mais íntimo dos encontros’ a capacidade de restaurar a harmonia e o equilíbrio do casal. Este também é o conselho de dois especialistas em sexo tântrico, casados, Charles Muir e Caroline Muir, autores de um livro que eu adoro: “Tantra: the art of conscious loving”, mas vocês precisam combinar algumas coisas antes. Criem um momento gostoso, daqueles que fazem nascer conversas compridas. Aí, acertem entre vocês que na próxima discussão, quem perceber primeiro que as coisas estão fugindo do controle, o tom de vozes subindo e os argumentos se perdendo naquelas críticas onde até Deus, se bobear, leva culpa de alguma coisa, vai convidar o parceiro para uma sessão de meditação tântrica. Assim: deitem juntos, na posição de colher, quem estiver precisando mais sendo abraçado pelo outro - mas por favor, não transformem a decisão de quem está precisando mais em outra discussão, apenas façam -, comecem a prestar atenção na respiração um do outro, tentando desacelerar o ritmo das batidas do coração. O objetivo é fazer a sua respiração dançar no ritmo da respiração do outro. Quando conseguirem harmonizar seus ritmos, permaneçam assim aquietados por tanto tempo quanto desejarem. Se acontecer de vocês fazerem amor, não faz mal - é claro -, mas isso não deve ser nenhuma obrigação. Importante neste momento é transformar o encontro dos corpos em encontro de almas, que apazigua os ânimos, traz de volta a harmonia e cria condições para que a gente consiga relembrar que afinal, aquele é o homem que amamos, inteiro, nos seus defeitos e qualidades...
Essas foram só as minhas cinco idéias de coisas proibidas para quem quer viver um grande amor. Que tal escrever as suas? Quem sabe chegamos juntos a descobrir os mil inimigos do amor verdadeiro?
por Adília Belotti
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Sobre o autor
Adília Belotti é jornalista e mãe de quatro filhos e também é colunista do Somos Todos UM. Sou apaixonada por livros, pelas idéias, pelas pessoas, não necessariamente nesta ordem...
Em 2006 lançou seu primeiro livro Toques da Alma. Email: [email protected] Visite o Site do Autor