Nunca se falou tanto de sexo. Nunca foi tão fácil assistir em hipercloses a relações sexuais de todos os tipos, em todos os formatos possíveis... e, cá prá nós, os impossíveis também! De repente, a vida sexual das pessoas deixa de ser um “segredo de alcova” e ocupa as ruas, cai na boca do povo, se escancara nos outdoors das cidades... Aliás, a revista Maxim, para comemorar seu aniversário, mandou fazer um pôster de 100 metros que pode ser visto no Google Earth, vocês viram? Acabamos de inventar outdoors para serem vistos por naves espaciais... Enfim, sexo em cores espalhafatosas, exibicionista e exagerado...
E apesar de tanto estardalhaço, você também não tem a impressão de que nem por isso estamos vivendo melhor nossa sexualidade e que as angústias de sempre, os desvarios de sempre, as intolerâncias de sempre continuam rondando a imaginação dos seres humanos, escurecendo este que deveria ser o momento maior de intimidade, o mais completo dos encontros?
Ando pensando... Quem sabe, os jovens vão mais uma vez colocar tudo isso sob uma perspectiva mais fresca? Leio na revista New York americana que uma nova moda entre adolescentes “descolados” é se apresentar como ambissexual. Nem lésbicas, nem gays, nem heterossexuais, nem bissexuais, só ambis, de ambigüidade, de indeterminação... “Estes jovens não querem definir sua sexualidade nem acreditam que a sexualidade deve definir quem eles são, o que levou alguns terapeutas a chamá-los geração “pós-gay”” , diz a revista. Mas é justamente dos rótulos que eles fogem, inventando palavras que parecem “viagens”, como pansensuais, bi-curiosos, fluidos, heteroflexíveis, metroflexíveis...
Para esses adolescentes, que têm entre 15 e 18 anos e estudam em uma escola de elite intelectual em Nova York, a sexualidade é coisa que nasce entre amigos, uma maneira ampliada de viver os afetos ou, como diz uma das entrevistadas, “só um jeito de dizer olá”. Meninas com meninas, meninos com meninos, meninas e meninos, tanto faz, são todos colegas...
Do outro lado deste espectro, a Elle Girl, no mesmo mês, fala de jovens que simplesmente não querem nada com sexo e ponto final. Assexuais, eles se autodenominam e usam a web para compartilhar reflexões e buscar apoio uns nos outros. Sim, porque num mundo obcecado por sexo o que fazer com jovens que nadam contra a corrente?
“Parece que existe uma lei que diz que o sexo tem que ser parte dos seus relacionamentos e da sua vida e algumas vezes vai ser bom, outras não, mas você não tem nenhuma escolha.
Eu acho que isso simplesmente não é verdade”, afirma um jovem David Jay, de 23 anos, fundador do site AVEN, que funciona como uma espécie de fórum para o recém-nascido movimento...
Ao que parece, ninguém sabe muito bem o que fazer com estes “fenômenos”, nem existem ainda estudos sobre isso. Os especialistas entrevistados pela Elle, por exemplo, imaginam que tudo deve passar com a idade e, além disso, todos estão muitíssimo ocupados com aqueles outros e inúmeros jovens para quem a sexualidade significa apenas descompromisso, DST, AIDS e gravidez precoce... Afinal, sim, estes são um problemão!
Cansaço? Tédio? Rebeldia? Não dá para saber ao certo, não é? Mas acho tão bom que alguns jovens estejam fazendo o que sempre fizeram os jovens: apontando caminhos novos, novas possibilidades, discutindo, levantando poeiras, arejando jeitos velhos...
Um dos meus pensadores favoritos, o ex-monge e terapeuta Thomas Moore, em um excelente artigo, O Templo do Corpo: sexo em tempos não-eróticos, propõe que, ao contrário do que a gente poderia pensar olhando assim de repente, nós de fato tiramos a sexualidade do nosso cotidiano e do nosso mundo. Temos tantas dificuldades com a separação que criamos entre nossa alma e nosso corpo que simplesmente jogamos para fora da vida muitas das coisas que fazem do simples ato de estar vivo algo extraordinariamente sensual.
Pense só... Faltam cores, cheiros, umidades, janelas para entrar o sol, cadeiras confortáveis e ambientes que favoreçam a proximidade entre as pessoas. Falta tempo de não fazer nada e sentir a brisa provocar arrepios na pele. Falta saborear a comida em vez de enfiá-la goela adentro. Falta tomar banho de chuva. Faltam toques e faltam beijos, faltam abraços apertados e olhares de carinho. Falta desligar a TV e mergulhar fundo no olhar do outro. Falta girar sem parar até ficar tonto, feito criança. Falta entrar numa banheira de água morna como quem entra num templo ou como quem é acolhido num útero. Falta a percepção aguda de que temos um corpo e que somos definidos não pelas nossas preferências sexuais, mas pela qualidade das sensações e sentimentos que somos capazes de expressar através dele. E que todas estas lições seriam muito mais fáceis se, no nosso dia-a-dia, vivêssemos menos mentalmente e mais sensualmente. “Sexo é a recuperação ritualizada da vida e da energia”, diz o terapeuta.
E se além de eliminar os rótulos e buscar nomes novos para viver a opção sexual a gente também fizesse um esforço de dar um significado novo, mais amplo e muito mais ousado, para a própria palavra “sexo”?
Adília Belotti é jornalista e mãe de quatro filhos e também é colunista do Somos Todos UM. Sou apaixonada por livros, pelas idéias, pelas pessoas, não necessariamente nesta ordem...
Em 2006 lançou seu primeiro livro Toques da Alma. Email: [email protected] Visite o Site do Autor