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Não Procure o Seu Eu na mente

Não Procure o Seu Eu na mente
Publicado dia 7/7/2006 12:17:48 PM em Espiritualidade

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Os problemas da mente não podem ser solucionados em nível mental. Depois de ter compreendido a disfunção básica, não há muito mais a aprender ou a compreender. Estudar as complexidades da mente poderá fazer de você um bom psicólogo, mas isso não o levará para além da mente, tal como o estudo da loucura não basta para criar saúde mental. Já compreendeu o mecanismo básico do estado inconsciente: a identificação com a mente, a qual cria um falso eu, o ego, como substituto para o seu eu verdadeiro enraizado no Ser. Você torna-se como que um "ramo cortado da árvore", como disse Jesus.

As necessidades do ego são inúmeras. Ele sente-se vulnerável e ameaçado e por isso vive num estado de medo e de carência. A partir do momento em que você compreende os mecanismos da disfunção básica, deixa de ser preciso explorar todas as inúmeras manifestações do ego, de fazer dele um problema pessoal complexo. É evidente que o ego adoraria isso. Andando sempre à procura de alguma coisa à qual se agarrar, a fim de sustentar e fortalecer a sua ilusória sensação de identidade, o ego prontamente se agarra aos seus problemas. É por isso que uma grande parte da sensação de identidade de tantas pessoas está intimamente ligada aos seus problemas e a última coisa que essas pessoas querem é livrar-se deles; porque isso representaria a perda do "eu". Inconscientemente, o ego investe muito na dor e no sofrimento. Portanto, ao reconhecer que a raiz da inconsciência é a identificação com a mente, o que evidentemente inclui as emoções, você sai dela. Torna-se presente. Quando está presente, você pode permitir que a mente seja aquilo que é sem se enredar nela. A mente em si não é disfuncional. É um instrumento maravilhoso. A disfunção instala-se quando você procura nela o seu eu e faz dela a sua identidade. Torna-se então a mente egóica e dirige toda a sua vida.

Enquanto você estiver identificado com a sua mente, o ego dirigirá a sua vida, e uma parte intrínseca da mente egóica é uma sensação profundamente enraizada de falta de algo, ou de não estar completo, de não ser total. Em algumas pessoas, é uma sensação consciente, noutras inconsciente. Quando é consciente, manifesta-se na forma de um inquietante e constante sentimento de não ser digno ou suficientemente bom. Quando é inconsciente, só se sente indiretamente, sob a forma de uma intensa ânsia de possuir, de uma carência, de um precisar de qualquer coisa. Em qualquer dos casos, as pessoas começam muitas vezes a tentar satisfazer o ego de forma compulsiva e a procurar coisas com as quais se possam identificar, a fim de preencherem o vazio que sentem dentro de si. E lançam-se atrás de bens materiais, dinheiro, sucesso, poder, prestígio, ou um relacionamento especial, basicamente para se sentirem melhores consigo próprias, para se sentirem mais completas. Mas depois de alcançarem todas essas coisas, descobrem rapidamente que o vazio continua a existir, que ele não tem fim. É então que começam os problemas a sério, porque elas não se conseguem iludir mais a si próprias. Bem, na verdade conseguem, e até o fazem, mas torna-se muito mais difícil.

Já que o ego é uma sensação derivada do eu, precisa se identificar com coisas exteriores. Precisa ser defendido e alimentado constantemente. As identificações mais comuns do ego têm a ver com bens materiais, com o trabalho que você faz, o seu estatuto e prestígio social, os seus conhecimentos e educação, a sua aparência física, os seus relacionamentos, aptidões especiais, historia pessoal e familiar, convicções – incluindo as convicções políticas, nacionalistas, raciais, religiosas e outras identificações coletivas. Nada disso é você próprio.

NADA EXISTE FORA DO AGORA

Já algum dia experimentou, ou fez, ou pensou, ou sentiu alguma coisa fora do Agora? Pensa que algum dia isso acontecerá? Acha que é possível que alguma coisa aconteça ou seja fora do Agora? A resposta é óbvia, não é verdade?

Nunca nada aconteceu no passado; acontece no Agora.
Nunca nada acontecerá no futuro; acontece no Agora.

Aquilo que você considera o passado é uma memória, armazenada na mente, de um antigo Agora. Quando relembra o passado, você reativa uma memória - é o que você está a fazer agora. O futuro é um Agora imaginado, uma projeção da mente. Quando o futuro chega, chega como Agora. Quando pensa no futuro, você está a pensar agora. E óbvio que o passado e o futuro não possuem uma realidade que lhes seja própria. Tal como a Lua não tem luz própria, mas só pode refletir a luz do Sol, também o passado e o futuro não passam de pálidos reflexos da luz, do poder e da realidade do sempiterno presente. A sua realidade é "pedida emprestada" ao Agora.

A essência do que lhe estou a dizer aqui não pode ser entendida pela mente. No momento em que você entender o seu significado, há uma mudança na consciência da mente para o Ser, do tempo para a presença. De repente, tudo parecerá vivo, irradiará energia, emanará o Ser.

A CHAVE PARA A DIMENSÃO ESPIRITUAL

Em situações de emergência, em que a vida é ameaçada, uma mudança na consciência, do tempo para a presença, acontece por vezes naturalmente. A personalidade, que possui um passado e um futuro, recua momentaneamente e é substituída por uma intensa presença consciente, muito serena, mas ao mesmo tempo muito vigilante. Seja qual for a resposta necessária, ela surgirá então desse estado de consciência.

A razão pela qual algumas pessoas gostam de se lançar em atividades perigosas, como por exemplo montanhismo, (Ayrton Senna teve, certa vez, uma experiência mística ao volante do seu F1. Ao narrar isso numa entrevista foi duramente criticado pelos outros pilotos, apenas por ter uma postura religiosa diante do acontecido. Creio que muitas pessoas têm suas experiências com o AGORA e as guardam para si, temendo o ridículo.) corridas de automóveis(*), ou outras parecidas, muito embora o possam desconhecer; é porque assim se sentem forçadas a entrar no Agora - esse estado intensamente vivo onde não há tempo, não há problemas, não há pensamento, não há o fardo da personalidade. Se esquecerem do momento presente, nem que seja por um segundo, poderão pôr em risco as suas vidas. Infelizmente, acabam por se tornar dependentes de uma determinada atividade para entrarem nesse estado. Mas você não precisa escalar a face norte do Eiger. Pode entrar nesse estado agora.Desde os tempos antigos que os mestres espirituais de todas as tradições apontam para o Agora como sendo a chave para a dimensão espiritual. Não obstante, parece que esse continua a ser um segredo. Não é com certeza ensinado nas igrejas nem nos templos. Se você freqüentar uma igreja, poderá ouvir leituras dos Evangelhos tais como "Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã; porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo (Mat 6:34)", ou "Ninguém que ponha as mãos no arado e olhe para trás é digno do Reino de Deus (Luc 9:62)". Ou poderá ouvir a passagem sobre os lírios do campo que não se mostram ansiosos pelo amanhã, mas vivem à vontade no Agora intemporal e dos quais Deus toma conta. A profundidade e a natureza radical desses ensinamentos não são reconhecidas. Ninguém parece compreender que se destinam a serem vividas e a proporcionar assim uma transformação interior.

Toda a essência do Zen consiste em caminhar ao longo do fio da navalha do Agora - estar tão absolutamente e tão completamente presente que nenhum problema, nenhum sofrimento, nada que não seja quem você é na sua essência possa sobreviver em si. No Agora, na ausência do tempo, todos os seus problemas se desfazem. O sofrimento precisa do tempo; não pode sobreviver no Agora. Muitas vezes, para afastar do tempo a atenção dos seus estudantes, o grande mestre Zen, Rinzai, costumava levantar um dedo e perguntar lentamente: "O que é que está faltando neste momento”? Uma pergunta extraordinária que não exige uma resposta ao nível da mente. Destina-se a atrair fortemente a sua atenção para o Agora. Uma outra pergunta semelhante na tradição Zen é a seguinte: "Se não agora, quando”?"

O Agora também é essencial nos ensinamentos Sufis, o ramo místico do Islã. Os Sufis têm um ditado: "O Sufi é filho do tempo presente".
E Rumi, grande poeta e mestre Sufi, declara: "O passado e o futuro impedem-nos de ver Deus; queima-os a ambos com fogo".
Mestre Eckhart, um mestre espiritual do século XIII, resume tudo de forma muito bela: "O tempo é aquilo que impede a luz de nos alcançar. Não há maior obstáculo para alcançar Deus do que o tempo".
Fonte: O poder do Agora; Eckhart Tolle

por Acid

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Sobre o autor
acid
Acid é uma pessoa legal e escreve o Blog www.saindodamatrix.com.br
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