Não é fácil entrar no mundo adulto. Mas novos estudos sugerem que desenvolver algumas competências pode ajudar...
Detesto essa expressão “aborrescente”! É tão cheia de si, tão gorda e de nariz empinado...
Aborrescentes... Impossível não sentir certo incômodo, de vida congelada numa imagem de outdoor, casas arrebentando de ‘tudos’, TVs imensas sempre ligadas, jardins não-me-toques, piscinas pintadas de azul, seres não-aborrescentes vivendo aqui e ali vidinhas aborrecidas e espantadas, imaginando afinal por que esses aborrescentes fazem tanto barulho lá embaixo, trancados no porão? Mas, não têm TUDO essas criaturas?
Lembro do convite irônico de um jornal francês velho e talvez meio nostálgico: “Os velhos no asilos, os jovens nos acampamentos, iuupi!!! Lá vamos nós para o Clube Med”! Brrrrr, que medo!!!
Sou daquela safra retardatária de adultos, que pegaram já estourando na praia, a onda gigante de rebeldia dos jovens do planeta... ainda assim estávamos todos lá, na traseira do caminhão que levava “Nós que amávamos tanto a revolução” direto para as barricadas do sexo, drogas e rock’n roll, paz e amor, abaixo a ditadura, é proibido proibir! Você lembra?
Tire o ranço romântico que as lembranças sempre carregam e sobra o quê? Sobramos nós, tentando passar de um lado para outro da vida, sem garantia nenhuma de que o que vamos encontrar não é só uma versão envelhecida e desesperançada de nós mesmos... aborrescentes... todos não fomos? Mas a gente confiava que era mais do que isso...
Nossos ancestrais usavam rituais de passagem para ajudar os muito jovens a entrarem no mundo dos adultos. Nada que lembrasse uma festinha inocente, ao contrário, esses rituais incluíam práticas bem dolorosas, como... escarificações, tatuagens, piercings, isolamento, provas de fogo... nunca foi fácil virar adulto, você sabe...
Um estudo publicado na revista Newsweek, cujo objetivo era determinar quais seriam as características ou as “qualidades” que fariam um jovem tornar-se adulto de maneira mais tranqüila, mais amadurecida e com menos sofrimento na bagagem, revelou o que os estudiosos estão chamando de “5Cs” fundamentais:
Competência para lidar tanto com as provas de matemática, quanto com as provas de afeto e de convivência social;
Confiança para lidar com os altos e baixos da vida, superar as frustrações do caminho e acreditar que dá sim para cada um de nós fazer diferença;
Conexão ou capacidade de criar vínculos, não só com os amigos, mas com os outros seres todos que compartilham desses espaços chamados cidades, onde a anda se trombando e se desconhecendo, lembram do filme Crash?
Caráter ou integridade ou dignidade ou moral ou valores éticos...
Cuidado ou compaixão pelos outros, um sentimento ainda que confuso de justiça social.
Esses 5Cs dão origem a um sexto C, Contribuição. Jovens que têm essas competências, em geral, acabam se engajando em serviços comunitários ou em outras atividades do gênero. E crescem para se tornarem adultos mais amadurecidos e mais felizes...
Li, li, e fiquei pensando, será que esses 5Cs valem só para os adolescentes?
Leia aqui o Study of Positive Youth Development, conduzido pelo dr. Richard Lerner, na íntegra.
Adília Belotti é jornalista e mãe de quatro filhos e também é colunista do Somos Todos UM. Sou apaixonada por livros, pelas idéias, pelas pessoas, não necessariamente nesta ordem...
Em 2006 lançou seu primeiro livro Toques da Alma. Email: [email protected] Visite o Site do Autor