O que você faria se soubesse que tem apenas alguns (bem poucos) dias para viver? Com bom-humor e muito senso de aventura, dá para dar respostas incríveis para essa pergunta...
Feche a porta, tire o telefone do gancho, sente diante da tela vazia e dedique os próximos 60 minutos da sua vida a fazer uma lista das 101 coisas que você precisa absolutamente fazer antes de morrer.
Não, não desanime, pois a tarefa é muitíssimo mais difícil do que parece assim à primeira vista... é muito provável que você não chegue na vigésima!
Primeiro porque culturalmente não fomos preparados para sonhar, deixamos para os príncipes encantados e para as fadas madrinhas a dura tarefa de realizar nossos sonhos mais secretos, mais verdadeiros... já reparou como tem gente que até evita ter desejos? “Ah, nem adianta”, “Obrigada, não merecia, gentileza sua”, “Não vai dar, desculpa”, “Dedico este troféu a todos os meus amigos da Austrália que me ajudaram”... e blá blá blá...
Um lado nosso se alimenta das palavras de ordem dos especialistas em comportamento, como assertividade, sucesso e realização... o outro prefere se refugiar das frustrações e do medo do fracasso na mais descarada falsa modéstia... E nem mesmo naqueles momentos soltos antes do sono gostamos de admitir nossas fantasias nada humildes e enxotamos rapidamente as cenas em que aparecemos recebendo a faixa de presidente da república ou cruzando a linha de chegada da Maratona de Nova York ou ganhando o prêmio Nobel... é isso mesmo, e daí? Sonhos são meio megalomaníacos e duvido que aquele nosso ancestral que descobriu o fogo - casualmente, ele teria modestamente revelado para a imprensa da época - não tivesse alguma vez se imaginado fazendo algo grandioso, impactante, extraordinário...
Queremos fazer diferença no mundo, queremos deixar nossa marca, queremos talvez simplesmente ter uma boa história para contar...
Somos da mesma matéria de que são feitos os sonhos, disse Shakespeare, colocando as palavras na boca do sábio Próspero em “A Tempestade”... sim, somos essa mistura delicada e imprevisível de corpo e alma, desejos e culpas, sonhos e realidades...
Mas até a ciência anda nos convidando a usar desse nosso atributo tão humano e dar forma aos nossos sonhos. Mesmo que sejam muito pequenos, ou absurdos, ou ridículos, ou loucos...
E daí essa experiência das 101 coisas que você gostaria de fazer antes de morrer. Em 2003, a BBC de Londres propôs que seus usuários enviassem suas respostas. Foi um sucesso! O site se encheu de desejos como nadar com golfinhos, viajar de balão, ver elefantes em seu habitat natural, ter orgasmos múltiplos, escalar o Everest, conhecer Macchu Picchu... Em 2004, a revista “New Scientist” embarcou na proposta e compilou uma relação famosa pelo fato de que os participantes do desafio eram cientistas. As idéias dessas mentes brilhantes incluem desde dar o próprio nome para uma nova espécie de criatura, até encomendar nitrogênio líquido para preparar o sorvete mais cremoso do mundo!!!!!
Os ingleses, tão comme il faut, parecem adorar a brincadeira e mantém um site só para quem quiser deixar registrados seus desejos. E existem já alguns livros de compilações sobre o tema. Até em português! O livro “101 coisas para fazer antes de morrer”, do artista plástico britânico Richard Home, acaba de ser traduzido e publicado pela Editora Intrínseca. É um livro-manual, divertido e inspirador. Dá para passar horas viajando na imaginação, acredite!
E depois, é mãos à obra e colocar em prática pelo menos algumas daquelas idéias que você conseguiu listar porque a gente afinal só tem garantidos esses poucos anos que compõem nossa vida humana para usufruir desse universo extraordinário que inventaram para nós...
Adília Belotti é jornalista e mãe de quatro filhos e também é colunista do Somos Todos UM. Sou apaixonada por livros, pelas idéias, pelas pessoas, não necessariamente nesta ordem...
Em 2006 lançou seu primeiro livro Toques da Alma. Email: [email protected] Visite o Site do Autor