São 6 horas da manhã e acabei de fazer os meus dez minutos de meditação, pedindo ao plano superior inspiração para escrever este artigo. Neste momento, ouço, mentalmente, as palavras da minha querida amiga Ingrid Dalila Engel - numeróloga, psicóloga, psicoterapeuta (que também colabora vez por outra neste site) - uma das profissionais que tem iluminado muito a minha caminhada com seu extraordinário dom de desvendar com muita sabedoria, passo a passo, nossa trajetória no campo estrelado da nossa existência - “a palavra tem poder. E este poder exige de nós uma extrema responsabilidade no uso dela”.
Taí, pensei, um belo tema para escrever o artigo que tenho que enviar ainda hoje para o Sérgio e o Rodolfo, os dois Merlins que passam horas a fio criando este site para você.
Muitas vezes sei que usei a palavra de forma leve, descontraída, sem a intenção de magoar ou ofender. E isso era muito comum na minha vida de publicitária trabalhando no departamento da criação onde as pessoas são regiamente pagas (ou eram) para manipular as idéias e as palavras com uma finalidade que, para mim, naqueles anos de pouca consciência, não tinham a intenção de prejudicar o ser humano.
Claro que vamos evoluindo, ganhando consciência e sabedoria e, olhando para trás, não ficamos muito contentes com alguns caminhos que percorremos. E este olhar muitas vezes nos traz culpas ou aquela sensação amarga de que poderíamos ter sido melhores e mais responsáveis naquela situação ou naquele discurso. Mas quem não errou nesta vida? Que, afinal, é tão mais produtiva quando aprendemos com nossos erros e damos um passo a mais no caminho da iluminação. Ou seja, os erros podem também fazer parte dos degraus da escada que nos leva ao Grande Acerto.
Ainda hoje ecoam em minha mente slogans de produtos ou serviços que ouvi na minha primeira infância e que, com certeza, criaram “verdades” que estão impressas no mais profundo arquivo do meu mar profundo.
Lembro-me também das missas de domingo onde íamos com a família toda e ficávamos calados ouvindo a pregação do padre que subia num púlpito e falava a todos de forma dura, repressiva e severa, criando na mente de cada fiel imagens de medo, afastamento do prazer e, acima de tudo, castigo e punição.
Naqueles tempos os padres não usavam os recursos modernos que dão ainda mais força à palavra. Não havia músicos, filmes ou animações na igreja. O discurso era todo sustentado na força e no poder das palavras. E, com certeza, com a ajuda das imagens colocadas nos altares, onde víamos mártires e santos com lanças espetadas no coração, coroas de espinhos na cabeça, suspiro de dor e sofrimento escorrendo pela calha dos olhos.
As palavras podem ferir e marcar profundamente nossa alma.
Lembro-me como se fosse hoje. Eu devia ter cinco ou seis anos quando meu pai ficou seriamente doente e foi para São Paulo fazer um longo tratamento. Ficamos com uma tia, irmã do meu pai que eu adorava e que era muito devota à Nossa Senhora.
Numa manhã (certamente depois de ter notícias da saúde de meu pai) ela sugeriu com sua voz rouca:
- Apanhe umas rosas no jardim e vá colocar estas rosas no altar de Nossa Senhora. E peça para ela ajudar seu pai.
Eu havia sido condicionada a obedecer aos mais velhos. Portanto, as palavras desta querida tia soavam como uma ordem.
Colhi as flores, fui a pé até a igreja, subi no altar para alcançar o vaso e estava colocando as rosas com certo esforço quando surge o sacristão - um homem alto e forte - que diz num tom de ameaça e rigor:
- Você está roubando ou colocando rosas neste altar?
Levei um susto tão grande que larguei as rosas no ar e sai correndo, chorando, tremendo de medo e fui para o meu quarto onde fiquei fechada por algumas horas.
Nunca contei esta história em casa. Mas até hoje, sinto um tremorzinho na alma quando entro numa igreja e olho para o altar de Nossa Senhora. E ouço literalmente as palavras daquele homem que, com certeza, ficou gravado na minha alma como um perseguidor malvado e cruel que devo ter projetado em muitas situações da minha vida.
Claro que, para ele, naquele momento, não estava nada errado. Ele, como vigia da igreja, estava apenas desempenhando seu papel de guardião.
Como alguns pais que, achando que estão fazendo o mesmo papel, chamam seus filhos de burros, de incapazes, chatos, chorões, covardes, inúteis, fracos, usando muitas vezes expressões que marcam uma vida, tais como: “você só não esquece a cabeça porque está grudada no pescoço”,”você vai chorar lágrimas de sangue sobre meu caixão”,”você vai voltar e me pedir perdão de joelhos”. E assim por diante.
Palavras que montam frases que desmontam vidas. Vidas que às vezes não bastam para limpar da alma a marca e as cenas onde estas palavras foram ditas.
Portanto, meu caro leitor, vigie com atenção e carinho suas palavras. Elas podem ferir e marcar para sempre.
Para o mal. E para o bem.
por Izabel Telles
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Sobre o autor
Izabel Telles é terapeuta holística e sensitiva formada pelo American Institute for Mental Imagery de Nova Iorque. Tem três livros publicados: "O outro lado da alma", pela Axis Mundi, "Feche os olhos e veja" e "O livro das transformações" pela Editora Agora. Visite meu Instagram. Email: Visite o Site do Autor