Há alguns dias estava eu a caminho de (Cidade na região central de Portugal) Tomar(*) para assistir à Festa dos Tabuleiros, onde o fogo do Espírito Santo é relembrado e comemorado com desfiles, com as mulheres carregando na cabeça verdadeiras obras de arte feitas de flores, pão, adereços. É a festa do Divino feita à maneira do povo de Tomar e que tem semelhança com a mesma festa comemorada nos Açores e no Brasil.
Pelas palavras do filósofo português Agostinho da Silva (e não só) esta festa marca a forte vocação portuguesa para libertar a alma e alimentar o corpo de todos os seres da terra. Isso porém é uma longa história que só por si vale muitos artigos.
Mas estávamos nós almoçando em Ourém quando soubemos pelo dono do restaurante que seria quase impossível chegar a Tomar devido à gigantesca fila de carros na estrada. Então decidimos não comemorar o Espírito Santo em Tomar e ficamos perto do Castelo de Ourém almoçando num restaurante que em tudo nos remetia a um ambiente medieval.
De repente, bem no final da sobremesa, toca meu celular. Era meu filho do Brasil e, pela voz, senti que me pedia calma e respirasse fundo para receber aquela que foi uma das notícias mais tristes que recebi na minha vida: minha sobrinha Paula tinha morrido repentinamente. Vinte e oito anos, advogada, cheia de luz, cheia de vida e alegria.
Fiquei paralisada. Só consegui pedir aos meus amigos que me levassem à Fátima, ali bem perto, para eu poder pedir à Nossa Senhora que recebesse a Paula em seus braços de Grande o Poderosa Mãe.
Não consegui chorar. Meu peito ficou completamente compactado.
Toda a energia do meu corpo acumulou-se no meu coração e senti meu corpo literalmente apunhalado por uma dor profunda.
Pensei nos pais da Paula. Lembrei-me de minha infância brincando com meu primo (pai da Paula) na piscina e de como ele era alegre e feliz. Voltei àquela cena onde o mundo era para nós só uma grande festa e revivi nós dois aos 5, 6, 7, 8, 10 anos, sempre rindo de tudo e de todos. Pensei então que nesta imagem não poderia haver a morte de um filho nosso lá no futuro… Não… nada de mal iria nos acontecer… Nossa inocência jamais conceberia uma tristeza.
Mas ela chegou de forma brutal. Arrasou toda nossa família e trouxe, como sempre traz, uma necessidade urgente de repensar tudo.
A partir deste dia não mais consegui dormir. Passei as noites em claro, como aliás, vinha fazendo três dias antes de saber desta perda dolorosa.
Hoje, pela manhã, resolvi caminhar por entre os pinheiros da praia e, de repente, comecei a chorar, chorar compulsivamente e percebi que meu peito, minha insónia, minha falta de ar era um choro represado no meu peito querendo falar comigo. Então deixei o choro falar e ele chorou muito e me chamou a atenção para tudo que sei e que muitas vezes deixo de praticar comigo mesma.
Então, fechei os olhos e, na minha imaginação, fui ter com a Paula. Escolhi para isso nosso último encontro onde ela vestia um terninho preto e tinha no pescoço uma raposa também negra. Estava francamente linda! Abracei-a profundamente, me despedi dela, desejei uma linda viagem na Luz e que as portas do novo mundo se abrissem a ela e a acolhessem para uma vida ainda mais alegre, ainda mais feliz. E, acima de tudo, profundamente iluminada.
Quando abri os olhos percebi que tinha feito o ritual de despedida, tinha aliviado meu peito e que agora era deixar tudo nas mãos da Grande Energia que tudo sabe, tudo vê, tudo cura e tudo ama.
Adeus, Paula. Que os anjos de todo o Universo compartilhem consigo o despertar deste sono em quer todos estamos mergulhados.
Eu te amo!
por Izabel Telles
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Sobre o autor
Izabel Telles é terapeuta holística e sensitiva formada pelo American Institute for Mental Imagery de Nova Iorque. Tem três livros publicados: "O outro lado da alma", pela Axis Mundi, "Feche os olhos e veja" e "O livro das transformações" pela Editora Agora. Visite meu Instagram. Email: Visite o Site do Autor