Não sei se tenho medo da morte, daquela, genérica, ao menos... ou se existem mortes... e mortes... perder a consciência, por exemplo, seria uma forma de morrer, talvez a única! Porque afinal, não é a consciência de si mesmo a única coisa que realmente possuímos? Dessa eu tenho medo!
Por isso, quase caí da cadeira quando li na Scientific American que pacientes diagnosticados com um tipo de demência associado a funções do lobo temporal direito - responsável, entre infinitas outras coisas, pela memória, pelo nosso "bom-comportamento", pelas nossas inibições, pela nossa capacidade de colocar uma palavra atrás da outra de modo a que elas todas dancem a idéia que desejamos compartilhar -, essas pessoas, então, desenvolvem uma espécie de "hiperpoder" de criatividade.
Os estudos estão longe de serem conclusivos, como sempre e graças a Deus é o caso quando o assunto é a mente humana - mas a conclusão abre algumas perspectivas instigantes.
A criatividade é um dos nossos maiores orgulhos como espécie. Um presente de Deus, tesouro que nos torna poetas, visionários, artistas, sonhadores... os cientistas sabem pouco desta função da mente. De onde vêm, afinal, esses insights que nos fazem geniais?
Esses pacientes descritos na reportagem da Scientific American, são assistidos pelo Dr. Bruce Miller, diretor do Memory and Aging Center, hospital ligado à Universidade da Califórnia, especializado em estudos sobre memória. São eles que podem fornecer algumas pistas.
A primeira delas é que, ao contrário do que os sonhadores costumavam imaginar, a criatividade não é um dom. Aparentemente, idéias criativas fazem parte da bagagem de qualquer mortal, e podem ser exercitadas.
A segunda é que quanto mais focados na solução de um problema nós ficamos, menos criativos conseguimos ser. Incrível, não é? Somos dotados de dois recursos igualmente poderosos, duas formas diferentes de pensar.
Uma, o pensamento convergente, faz a gente apontar em linha reta para um objeto e dissecá-lo, entendê-lo e, a partir dele, construir possibilidades lógicas de interação entre o objeto no qual estamos focados e todos os outros que já conhecíamos antes. Infelizmente, essa não é a ferramenta mais adequada para as viagens exploratórias da criatividade.
Ao contrário, libertar-se do pensamento convergente e abrir portas internas para o pensamento divergente é o desafio de quem quiser liberar sua criatividade. Porque o que os cientistas chamam de "pensamento divergente" é que turbina nossos vôos e faz a gente se soltar da lógica e experimentar outras, mais loucas, menos "sensatas" possibilidades.
E se o pensamento convergente pode ser medido, ou, pelo menos, avaliado, por meio de testes de inteligência (os Testes de QI), o pensamento divergente começa a ser investigado a partir de algumas características, habilidades...
Fluência de idéias ou o número de idéias, sentenças e associações que uma pessoa consegue estabelecer quando é apresentada a uma palavra nova.
Variedade e flexibilidade ou a quantidade de soluções que alguém consegue encontrar quando é solicitado a explorar outras possibilidades de uso de coisas simples, como um jornal, por exemplo.
Originalidade ou a habilidade de desenvolver soluções potenciais para problemas ou situações, que outras pessoas não conseguiram imaginar.
Elaboração ou a habilidade de formular uma idéia, expandi-la e transformá-la numa solução concreta.
Sensibilidade ou a capacidade de reconhecer o desafio central de um problema ou situação e as dificuldades associadas a ele.
Redefinição ou a facilidade que cada um de nós possui de conseguir enxergar um problema sob um ângulo completamente diferente.
Você se identificou com alguma dessas "habilidades"? Então está na hora de explorá-las.
A partir de agora, inclua na sua vida e no seu cotidiano quatro palavras-chaves:
Encantamento. Maravilhar-se com o mundo a seu redor é o primeiro passo para fugir da obviedade e do senso-comum;
Motivação. Tente seguir seus impulsos de interesse, eles são como fagulhas... se você não alimentar, elas se esgotam sem ter produzido luz...
Coragem intelectual. É difícil andar na contramão do mundo? Acostume-se. Você está em ótima companhia. E desconfie das respostas: "é assim que sempre fizemos", ninguém pensa criativamente fazendo as coisas por hábito ou porque os outros fizeram assim.
Relaxe. A criatividade nasce naqueles momentos mais inesperados, quando estamos relaxados. Faça entrar - nem que seja a fórceps - na sua agenda, um tempinho para sonhar acordada...
Adília Belotti é jornalista e mãe de quatro filhos e também é colunista do Somos Todos UM. Sou apaixonada por livros, pelas idéias, pelas pessoas, não necessariamente nesta ordem...
Em 2006 lançou seu primeiro livro Toques da Alma. Email: [email protected] Visite o Site do Autor