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Onde você estava em maio de 1968, hein?

Onde você estava em maio de 1968, hein?
Publicado dia 5/8/2008 3:36:10 PM em Espiritualidade

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É claro, talvez você seja jovem demais, talvez até pense que o mundo, tal como você o experimenta todos os dias, sempre foi assim. Que os velhos à sua volta nasceram velhos. Que sua mãe sempre foi "aquela santa". Que a gente sempre pôde "botar a boca no trombone" e falar o que viesse à cabeça. Que garotos e garotas sempre andaram pelo mundo juntos, em bandos, mochileiros, andróginos. Que a juventude sempre foi esse espelho universal no qual todos precisam se ver refletidos, independente da idade.

Pois é, houve um tempo em que existia um silêncio de todas essas coisas.
E, então, houve o Maio de 68.

E, em Paris, os jovens ocuparam as ruas do Quartier Latin, o bairro dos estudantes, onde fica a mais venerável das universidades da França, a Sorbonne. E, na falta de qualquer ideologia, de carta de princípios, de projeto, de declaração de intenções, inundaram o resto do mundo com slogans: "O poder é um abuso. O poder absoluto é um abuso absoluto". "É proibido proibir". "A ação não deve ser uma reação, mas uma criação". "Esqueçam tudo que aprenderam. Aprendam a sonhar". "A Natureza não criou nem senhores nem servidores. Não queremos dar nem receber ordens".
E logo, esses gritos foram sendo ouvidos aqui e ali, cada vez mais longe. E se misturaram a outros, estrangeiros...

A década inteira foi uma gritaria, a bem da verdade. E a rua era o grande palco. Nos anos 60, negros e brancos se confrontavam violentamente nos EUA, Nelson Mandela foi condenado à prisão perpétua na África do Sul. Protestos contra a Guerra do Vietnã e as bombas nucleares ocupavam as ruas de Londres e os órfãos políticos de Péron pediam sua volta nas ruas de Buenos Aires. Protestantes e católicos se enfrentavam nas ruas da Irlanda, nos primeiros dos muitos Bloody Sunday que durariam ainda mais três décadas. E o silêncio invadia as ruas de Praga, depois da passagem dos tanques soviéticos.

Lembro da minha avó chorando no dia em que o presidente americano, John F. Kennedy, foi assassinado, em 1963. E de novo, quando Martin Luther King morreu, também assassinado, em 1968. Eu tinha então 14 anos...Tudo aquilo era meu. O sonho, a tristeza, a esperança. Aqueles estudantes nas ruas eram tudo que um dia, com certeza, eu também seria. As ruas eram o destino. Enquanto isso, devorava todos os livros de Herman Hesse e Aldous Huxley, já tinha passado pelo escracho de Bukowski e pelo vazio terrível do "Apanhador no Campo de Centeio", não imaginava nem de longe um dia ser igual à minha mãe, acreditava num final feliz para as utopias, morria de medo da loucura, das botas dos soldados, de me perder dos meus sonhos, de viagens sem volta e dos sistemas totalitários.

Em maio de 68, eu tinha acabado de fazer 14 anos, era recém-chegada em São Paulo, vinda do sul e, como outras tantas garotas comecei a fumar escondido para fazer como os meninos, a disfarçar meu jeito de "boa moça" atrás do riso alto e dos modos soltos, a "domar" a timidez na fala engajada, a não ter medo da nudez, nem ter vergonha de chorar... Mas não tinha nenhuma dúvida de que valia a pena crescer num mundo assim "em construção": "o brave new world, that have such people in it"... Só era preciso esperar...

E você, onde você estava em maio de 68?

O vídeo deste momento existe no You Tube, mas apenas o link está disponível.

E existe esse outro, com as manchetes de jornal e entrevistas dos líderes do movimento estudantil cujo objetivo era "ocupar 'pacificamente' o Quartier Latin, o bairro latino de Paris" ou, nas palavras de Jean Paul Sartre, o filósofo mais francês, "a eles só restou a violência, porque eles não querem entrar no jogo dos seus pais e não aceitam meias concessões"...


Neste site você encontra fotos incríveis da Primavera de 68 em Paris, pena que não tenham legenda, mas aí já seria querer demais, né?
E aqui, uma coleção dos cartazes que enfeitavam as manifestações

Ouça o discurso histórico de Martin Luther King em Washington, falando do seu sonho de que um dia "todos os homens, independentes da cor, fossem iguais e que crianças negras e brancas pudessem se dar as mãos".

por Adília Belotti

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Sobre o autor
adilia
Adília Belotti é jornalista e mãe de quatro filhos e também é colunista do Somos Todos UM.
Sou apaixonada por livros, pelas idéias, pelas pessoas, não necessariamente nesta ordem...
Em 2006 lançou seu primeiro livro Toques da Alma.
Email: [email protected]
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