Nossa razão é fantástica. Ela se ocupa de nos orientar nas coisas que dizem respeito à realidade que nos cerca; registra também as sensações, emoções e dores do nosso mundo interior e sobre elas nos orienta. Permite-nos perceber as outras pessoas e os seus direitos, e desperta-nos para uma reflexão moral, ou seja, faz-nos pensar até onde vão os nossos direitos e onde começam os direitos dos outros. A razão, depois de ponderar sobre todas essas questões - externas, internas e morais -, leva-nos às decisões e à ação. É o que me faz estar escrevendo este texto, e o que faz você lê-lo e tentar perceber a sua mensagem e eventual utilidade.
A razão humana tem se desenvolvido tanto, que a partir de um dado momento passamos a ser capaz de ir além da realidade que nos cerca. Passamos a ser aptos a processos que não refletem a descrição do que existe, mas inventam mundos irreais. Podemos, pois, criar histórias, situações, imagens e objetos que não existem à nossa volta. Passamos, então, a ter uma capacidade mental extremamente ampliada. É provável que essa capacidade de ir além daquilo que nos cerca tenha colaborado para as grandes descobertas que nos levaram à construção do mundo real que temos hoje. Sim, pois não é impossível que essas “invenções" sejam o embrião de coisas que, mais para adiante, venham a existir.
A capacidade de imaginar pode colaborar também para aliviarmos tensões interiores. É o que acontece, por exemplo, durante o sono, com muitos dos nossos sonhos. Se estamos com fome, sonhamos que estamos nos deleitando com um banquete. Se estamos com sede, nos vemos sob uma fonte de água cristalina. Assim, equilibramos a situação por mais algum tempo, de modo que o sono não precise ser interrompido. Essa é uma das características dos nossos sonhos: a realização de desejos dos quais estamos sendo privados. É evidente que, em certas fases da vida, os sonhos terão natureza sexual; e terão exatamente o mesmo significado: a realização de desejos dos quais estamos carentes. Os sonhos podem ser tão reais que conduzam à ejaculação, nos homens, ou ao orgasmo, nas mulheres.
As tensões, especialmente as de natureza sexual, não se manifestam apenas durante as horas de sono. Desejos fortes podem nos perseguir durante o dia e provocar tensões, pois nem sempre podemos realizá-los. Então “construímos sonhos" enquanto estamos acordados. São as nossas fantasias ou devaneios. E qual é o conteúdo das nossas fantasias eróticas? Elas correspondem aos desejos que temos e não podemos realizar. O impedimento, na realidade, deriva das regras sociais, que hoje em dia estão se afrouxando. Porém, outros ingredientes continuarão a existir. É o caso, por exemplo, de um rapaz que sente forte desejo por uma moça que não está interessada nele. Só poderá, portanto, satisfazer seus impulsos em relação a ela com fantasias eróticas, que, como regra, acompanham as experiências da masturbação.
A razão humana tem se desenvolvido tanto, que a partir de um dado momento conseguimos ir além da realidade que nos cerca.
O mundo da nossa imaginação é fantástico e ilimitado. Pode ser que, numa primeira fase da adolescência, as fantasias eróticas correspondam apenas à “realização” de vivências que não poderiam se dar na realidade. Porém, a partir de certo momento, o imaginário sexual ganha vida própria e passa a percorrer territórios que transbordam os limites das nossas frustrações pessoais. O sexo tem essa peculiaridade de provocar uma inquietação agradável - e que por ser agradável é buscada ativamente. Pensar no assunto, se excitar, é coisa gostosa. Nessas horas a fantasia corre solta, de modo que os rapazes podem imaginar-se assediados por mulheres lindíssimas - o que não costuma ocorrer na realidade -, todas ansiosas para ter intimidades com eles, sedentas de desejo por eles etc.. As mocas podem se imaginar num palco, fazendo strip-tease, deixando todos aqueles homens boquiabertos, dispostos a qualquer sacrifício para terem acesso aos seus "favores” sexuais!
Pronto, está aberta a rota que leva à fantasia sexual, que realiza desejos frustrados, para um domínio muito mais amplo e rico da nossa vida interior. Está aberta a rota que fará da sexualidade um dos ingredientes principais da nossa criatividade e das nossas funções intelectuais em geral.