20 de junho, foi dia de São Pedro, festa no mar. Na foto, uma imensa estátua de São Pedro avança pelo mar durante a procissão anual em homenagem ao santo padroeiro dos pescadores na cidade de Valparaiso, no Chile. Todos os anos, em várias cidades à beira-mar espalhadas pelo mundo cristão, os pescadores aprontam os barcos, enfeitam os mastros de fitas e saem para festejar o apóstolo mais "humano" de Jesus...
“E Jesus, respondendo, disse-lhe: Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque isto não te revelou a carne e o sangue, mas meu Pai, que está nos céus.
Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela;
E eu te darei as chaves do reino dos céus; e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus.” Mateus 16:17-19
Você lembra desse trecho do Novo Testamento? Pedro e pedra, Pedro e as chaves do céu, Pedro e a construção da Igreja Católica. Os versículos de São Mateus que você acabou de ler são considerados há séculos a prova de que Cristo instituiu o apóstolo Pedro como cabeça da sua futura igreja e, de que, em função disso, ele seria o responsável pela unidade dessa congregação (igreja, vem do grego ecclesia, a comunidade ou o templo dos cristãos), pela sua firmeza diante das tempestades -- daí a associação com a pedra – e pelo seu crescimento nos séculos que viriam.
Uma missão e tanto para o apóstolo, que nos evangelhos aparece como um pescador, espontâneo e impulsivo, capaz de defender seu Mestre e, logo adiante, fingir que não o conhece. Esse personagem fascinante e contraditório se transformará, depois da morte do mestre, no líder sólido e determinado da recém-nascida comunidade de cristãos. Pelo menos é isso que os poucos relatos que temos de sua vida – e de seu martírio – mostram.
Pedro na verdade chamava-se Simão, um nome que faz adivinhar sua origem grega. Além do grego, é quase certo que também falava aramaico, porque era judeu. Seu sobrenome é Petros, em grego, Képhas ou Chépha, em aramaico. E significa rocha. Jesus o chama Bar Jonas, que é uma expressão em aramaico que significaria “filho de João ou de Jonas”, um jeito bem comum na época de construir sobrenomes.
Depois da morte do mestre, Pedro viaja muito, mas permanece morando em Jerusalém. Por volta do ano de 44, ele é preso por ordem de Heródoto Agripa, mas consegue escapar miraculosamente (“as portas da prisão se abrem e as cadeias tombam”). O apóstolo anuncia que vai partir para “outro lugar”, mas não diz para onde. Isso é uma complicação, porque, se até então o que acontece está registrado direitinho nos Atos dos Apóstolos da Bíblia, depois desse momento, os registros são bem poucos. O fato é que ele deve ter viajado mesmo e muitas igrejas, em toda a região ao redor do Mar Mediterrâneo pretendem ter sido fundadas por ele.
O apóstolo Pedro, embora não tenha sido o fundador da comunidade cristã de Roma, passou lá seus últimos anos e foi martirizado, durante a perseguição aos cristãos promovida pelo imperador romano Nero, por volta do ano 64. Dizem que Nero colocou nos cristãos a culpa do famoso incêndio de Roma. Por conta disso, os cristãos foram caçados violentamente. Pedro foi crucificado de cabeça para baixo, em um grande espetáculo promovido pelo imperador nos jardins do palácio, no monumental Circo de Nero, que ficava na região do Vaticano, na margem direita do rio Tibre.
No lugar onde Pedro foi enterrado, o imperador Constantino mandou erguer uma basílica no início do século 4. Durante toda a Idade Média, esse templo foi local de peregrinação e, hoje, ao seu redor, se ergue a imponente Basílica de São Pedro, construída no século 16. É aí que o papa vive. Mas o Pedro dos pescadores, esse vive lançando suas redes no mar...
A foto é de Eliseo Fernandez, da Reuters
por Adília Belotti
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Sobre o autor
Adília Belotti é jornalista e mãe de quatro filhos e também é colunista do Somos Todos UM. Sou apaixonada por livros, pelas idéias, pelas pessoas, não necessariamente nesta ordem...
Em 2006 lançou seu primeiro livro Toques da Alma. Email: [email protected] Visite o Site do Autor