Acontece... em tempos de mudança profunda... de começar com questionamentos sobre as coisas que para mim eram verdade até então...
Numa dessas ocasiões, questionava as muitas roupagens diferentes usadas para simbolizar a verdade... e outras coisas mais... parecia que tudo dentro de mim estava em ebulição, sendo revolvido.
Era um daqueles tempos que limitavam o antes... e o depois... porque o que acontecia ali fazia tudo mudar, ou tudo continuar como estava, mas renovado, e de novo validado pelo coração...
Foi quando estava assim, com o coração tumultuado por esses questionamentos... que sonhei com Ela... A Verdade... que me apareceu como a Senhora das Verdades. Não me lembro mais se foi um sonho ou uma visão, mas foi assim...
Ela me apareceu lá no fundo da natureza onde eu me encontrava, em um tipo de altar muito bonito... em arco, cavado na pedra e esculpido... Ela não era nada bonita como as imagens que eu estava acostumada a ver nos altares... era uma velha, muito velha... e magra, muito magra... com os cabelos muito brancos e muito longos, era quase a imagem da morte...
A atmosfera era como a dos sonhos, com luzes e sombras que pareciam vivas... em pulsares que até hoje, muito tempo depois... me remetem àquele lugar como se ainda fosse hoje.
Ela pede para me aproximar... parecia que ia me revelar a Verdade.
Respirei fundo levando comigo todos os questionamentos e dúvidas e... quando me preparava para dar os primeiros passos em sua direção, percebi que o chão estava ardendo em chamas... o chão era puro fogo... Olhei encantada as chamas, mas, com medo e indecisa, olhei para Ela que continuava me chamando para avançar.
Assim fiz com a respiração, agora presa... como se qualquer movimento em falso pudesse ser fatal, mas... percebi que o fogo não me queimava... De novo respirando aliviada andei um pedaço sobre as chamas em direção ao altar da Senhora das Verdades...
Parei com medo quando em determinado ponto percebi que a partir dali eu via as brasas que davam origem ao fogo... e isso me impedia de ter coragem de continuar.
O medo de me queimar foi maior e me fez ficar ali parada um tempo... quase desistindo de encontrar a Verdade...
Olhei de novo para Ela que continuava me chamando... mas o fato de ver as brasas... a origem do fogo, me dava muito medo e não lembro quanto tempo fiquei assim...
Até que resolvi entregar o medo e avançar, e quando dei o primeiro passo percebi que as brasas também não me queimavam. Com o coração acelerado me vi aproximando mais e mais do altar...
Quando já ia alcançá-lo, olho para a Senhora das Verdades... e para meu espanto e desapontamento ela se desfaz em cinzas finíssimas bem diante dos meus olhos...
Nem me refiz do espanto quando vi surgirem e se desfazerem em cinza, no lugar onde ela estava no Altar, muitas outras imagens adoradas pelas várias religiões e culturas... Iam se criando e se desfazendo em cinzas até que o Altar se transformou no Grande Mistério...
O Grande Mistério se apresenta como o Espaço Infinito coalhado de estrelas...
Aquele altar... onde antes estava a senhora das Verdades e depois muitas outras representações da Divindade, agora se revelava para mim como um Portal para o Grande Mistério.
Olhei encantada essas possibilidades... quando vejo lá no infinito de estrelas a Senhora das Verdades me aparecendo de novo e fazendo sinal para encontrá-la... e finalmente eu vou...
Já sem o peso do corpo nem dos conceitos, ela me passa, sem falar, que... as muitas roupagens são caminhos para a Verdade, como setas... mas que muitos se perdem adorando os caminhos.
E, no silêncio, me falou muito mais coisas... que acalmaram minha Alma de novo... e segui viagem...