Cala a boca, cabeção!
por Rosana Braga em Almas GêmeasAtualizado em 15/01/2009 13:00:14
Desde que o filósofo francês Descartes escreveu, no século XVII, a tão difundida e venerada frase “Penso, logo existo”, muitas coisas estranhas têm acontecido no que diz respeito a este assunto.
De fato, passamos a pensar mais e mais e a considerar que quanto mais alguém pensa, mais esse alguém vive e, consequentemente, melhor esse alguém se torna. Ainda que haja certa verdade nesta idéia de que pensar é uma boa maneira de fazer o ser humano evoluir, creio que temos nos equivocado profundamente sobre a essência desta frase!
Basta observar para perceber: durante os últimos séculos e especialmente as últimas décadas, temos pensado cada vez mais, temos tido acesso a um número cada vez maior de informações, nunca estivemos tão expostos à tecnologia e ao avanço de diversas áreas técnicas. No entanto, que estranho... temos existido, genuína e essencialmente, cada vez menos.
Falo da existência plena, de estar conectado com o presente, vivendo o que está acontecendo agora. Falo de se dar conta das sensações que podem ser experimentadas neste momento, de conseguir olhar verdadeiramente para si e para o outro.
Falo de uma existência que só é possível quando a gente deixa aflorar algo que está muito além do exercício desenfreado do pensamento. Falo de sentir, de agir, de ser.
Felizmente, depois de Descartes, a voz do povo criou o provérbio: “Quem muito pensa, não faz!”. Neste, sim, eu aposto. Quantas vezes deixamos de dar uma idéia pro chefe porque entramos num redemoinho de pensamentos que gritam em nossa mente: “será que ele vai me ouvir?”, “será que é mesmo uma boa idéia?”, “será que não vão se aproveitar da minha criatividade?”.
Ou ainda, quantas vezes deixamos de viver um amor porque mergulhamos em pensamentos do tipo “e se eu não for correspondido?”, “será que é a pessoa certa?”, “e se eu me der mal?”.
Talvez você se identifique mais com algo assim: há tempos você se planeja para começar a freqüentar a academia, mas seus pensamentos lhe paralisam repetindo sorrateiramente “melhor deixar para o mês que vem que terei mais dinheiro disponível”, “já me sobra tão pouco tempo, que a academia só complicaria mais minha vida”, “poxa, ir sozinha não tem graça!”... e por aí vai!
E o pior de tudo é quando pensar não o deixa dormir. Você deita na cama se sentindo exausto, mas lá estão os seus pensamentos mais acordados do que nunca, perturbando seu sono, lhe roubando a tranqüilidade e fazendo com que você se transforme num pastel, rolando de um lado pro outro durante horas.
Note como você abandona seus planos e termina não realizando tantos sonhos simplesmente porque se deixa dominar pelo excesso de pensamentos inúteis. Observe como sua mente tenta prever o futuro para convencê-lo de que é melhor desistir, não arriscar.
E se isso faz sentido pra você, preste atenção: você se tornou um cabeção. Sua mente parece mais um hospício do que um templo, quando deveria ser justamente o contrário: muito mais silêncio e muito mais foco do que desculpas, nada mais que desculpas.
Da próxima vez que se encher de coragem para dar um novo rumo à sua vida e, em seguida, sua mente começar um bombardeio de “se”, “será?”, “deixe pra semana que vem”, “não tenho tempo”, “quando eu tiver dinheiro”, grite o mais alto que conseguir, para si mesmo: “CALA A BOCA, CABEÇÃO!” e simplesmente FAÇA!