A jornada atemporal do filme Here

Autor Rodolfo Fonseca
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 14/04/2025 16:36:34
Uma reflexão espiritual sobre tempo, amor e resiliência
Tom Hanks e Robin Wright, os icônicos protagonistas de Forrest Gump (1994), reúnem-se novamente sob a direção de Robert Zemeckis em Here (2024). Se antes eles personificaram um amor inocente e persistente, agora encarnam Richard e Margaret, um casal cuja história atravessa décadas em um único espaço físico: a sala de uma casa.
Essa conexão artística de três décadas entre os atores é uma metáfora do próprio tema do filme: laços que transcendem o tempo.
Baseado na obra de Richard McGuire, Here desafia convenções ao fixar a câmera em um único ponto de vista, imóvel, enquanto séculos de histórias humanas se desenrolam no mesmo cenário. Da era dos dinossauros ao período colonial, da Segunda Guerra à pandemia de COVID-19, o filme tece um mosaico de vidas que, embora separadas por eras, compartilham emoções universais: amor, perda, esperança e resiliência.
A artificialidade visual - como o uso de CGI para rejuvenescer e envelhecer os personagens - não é um defeito, mas um convite à reflexão. A mesma sala que abriga risos de crianças em 1945 testemunha lágrimas de despedida em 2024. A efemeridade da vida é retratada não como tragédia, mas como ciclo natural, onde cada momento, por mais breve, é sagrado.
Atenção, lá vem spoiler...
Richard e Margaret enfrentam divórcio, demência e mudanças radicais, mas persistem. A cena em que Richard, já idoso, leva Margaret (agora com Alzheimer) de volta à casa vazia é um testemunho de que recomeçar é um ato de coragem, não de derrota. O filme nos lembra: "Ter medo do fracasso é humano; permitir que ele nos paralise é negar nossa própria luz".
As famílias que habitam a casa - dos Young aos Harris - mostram que os laços sanguíneos são apenas o início. A família escolhida, representada por amigos e cuidadores (como a governante Raquel, morta por COVID), revela que o amor verdadeiro transcende DNA. A casa, como metáfora do útero cósmico, abriga todas as formas de conexão.
O romance entre Richard e Margaret não é idealizado. Eles cometem erros, traem expectativas, mas reencontram-se no essencial. Como diz uma cena delicada: "Nós não nos amamos apesar das cicatrizes, mas por causa delas".
Em uma era de distrações digitais, o filme nos lembra que o presente é tudo que temos. A sequência em que Vanessa, neta de Richard, perde uma fita escolar - objeto insignificante que se torna símbolo de memória - ensina que a beleza está nos detalhes que ignoramos.
Alguns críticos apontaram que o filme é "ambicioso demais" ou "confuso" em sua estrutura temporal. Outros criticaram a representação superficial de famílias indígenas e negras. Entretanto, essas "falhas" podem ser relidas como metáforas da incompletude humana. A casa não pretende representar todas as vozes, mas sim iluminar fragmentos da vida de cada pessoa que morou nela.
Here não é um filme para ser assistido; é para ser vivenciado. Sua simplicidade narrativa esconde profundidade espiritual, convidando-nos a perguntar: O que deixaremos nesta sala cósmica chamada Terra? Se você busca uma obra que una cinema e meditação, este é seu chamado. Como diz Margaret em um diálogo tocante: "Não importa quanto tempo temos, mas quanta vida colocamos no tempo".