Como superar a dor (dilacerante) de uma traição?
por Rosana Braga em Almas GêmeasAtualizado em 08/04/2020 11:35:29
Era abril de 2003 e eu estava (ou pensava estar) num relacionamento sério há pouco mais de 2 anos. Fazia planos para o futuro e realmente sentia, enfim, aquela sensação de que tinha encontrado a pessoa certa.
Algumas importantes afinidades e uma vontade quase cega de que tudo desse certo me faziam crer que "tudo ia muito bem, obrigada!"
Até que comecei a perceber alguns sinais da vida. Mensagens sutis que me faziam questionar sobre aquela sensação de que estava tudo bem. Será? "Sim, sim, estava. Claro que estava", rapidamente eu dizia a mim mesma.
Rejeitei vários sinais. Ignorei minha intuição repetidas vezes. Afinal, eu realmente queria que, desta vez, desse certo!
Finalmente, chegou o dia em que já não dava mais para fingir. O meu castelo desmoronou. Descobri que estava sendo traída. E, para piorar a situação, o meu par estava me traindo com alguém que eu considerava uma grande amiga. Alguém que eu tinha ajudado num momento bastante delicado de sua vida.
Sabe como me senti? Destruída. Dilacerada. Naquele momento, uma completa idiota. Acreditei que tinha me desmanchado. Não me reconhecia. Não encontrava palavras para explicar todos os sentimentos ruins e difíceis que experimentei.
Chorei durante cerca de oito meses. Um pouco menos a cada semana. Mas ainda me sentindo bastante vulnerável, desacreditada, brava e muito, muito dolorida.
Mas a vida segue. E por mais que isso pareça cruel algumas vezes, é, na verdade, a nossa grande salvação. Minha vida seguiu junto. E tudo foi se tornando mais claro, menos difícil.
Sim, mais devagar do que eu gostaria, mas graças à terapia, aos amigos, aos cursos, às leituras e à minha busca incansável por saber mais sobre o amor (especialmente o próprio) e os relacionamentos, os anos foram me fortalecendo e me fazendo compreender que até mesmo aquela dor - que até então parecia ter sido causada por "ele"e "ela" - tinha tudo a ver comigo e com as minhas escolhas.
Tinha a ver com meu medo, a dinâmica com que me relacionei, as vezes em que abri mão de mim. Tinha a ver com o quanto eu precisava viver e amar de forma mais autêntica e segura.
Não que eu fosse responsável pelos atos dele e dela, mas eu estava ali e não dava para dizer que não tive nada a ver com a história toda. Não me posicionei. Não me ouvi. Não me respeitei diversas vezes. E, por isso, permiti que eles fizessem o mesmo.
Mas, sabe o que? O tempo é Mestre. Não só porque cura, mas, sobretudo, porque ensina. Basta estarmos atentos e de olhos abertos e voltados, em primeiro lugar, para dentro.
Tive um início de depressão e, por mais fracassada que me sentisse, aceitei ser medicada. O tratamento levou oito meses e, quando terminou, eu era uma nova mulher.
Ainda não tinha encontrado um amor. Estava ora sozinha, ora experimentando um novo encontro. Mas a cada experiência, eu sentia que já não estava comprometida com a obsessão por ter alguém. Estava comprometida com minha felicidade e com tudo o que eu merecia.
Errei outras vezes, mas de um jeito diferente. E nunca desisti de acreditar. Até que, em 2008, dei de cara com alguém que fez meu coração sorrir. Agora de um jeito tranquilo. Com uma clareza inédita de que aconteceria exatamente o que tivesse de acontecer, desde que eu me sentisse feliz comigo mesma.
A partir de então, já se vão quase 11 anos de construção de um amor que me faz crescer e descobrir que posso ser uma amante melhor e mais madura a cada dificuldade. E que posso ser uma mulher mais amada e feliz a cada suave encaixe.
E o que tudo isso tem a ver com o fato de ter sido traída e com a dor dilacerante que senti? Muito. Tem muito a ver.
Foi a partir desta dor que entendi que uma traição é só uma interpretação que fazemos da atitude do outro. A escolha do outro é do outro. O modo como interpretamos é nosso. Sim, dói, sobretudo porque somos possessivos. Mas a dor não mata. A dor nos fortalece, capacita, lapida, valoriza.
Então, só tem um jeito de superar a dor de uma traição: mudando a interpretação da escolha do outro. Olhando para você. Respeitando seus sentimentos, suas percepções, seus desejos e seus limites.
Permitindo-se tão somente viver um dia de cada vez com a certeza de que você merece ser feliz. E que vai ser o que tiver de ser, desde que você não se ignore e nem a sua intuição.
Não somos vítimas. No final das contas, com uma boa dose de autoestima, sempre sabemos o que fazer.
Você sabe se deve partir, se deve ficar, se deve se dar mais uma chance, se deve esperar. Você sabe! E a sua escolha precisa ser sempre por você. Só assim a dor é superada e você descobre em si uma luz até então desconhecida!
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