Peça arrego antes que seja tarde demais...
por Rosana Braga em Almas GêmeasAtualizado em 12/08/2005 14:53:31
Tenho um único irmão, um tantinho mais velho que eu. Quando éramos crianças, brincávamos de ‘lutinha’ (eu era um verdadeiro moleque). A brincadeira consistia basicamente em ‘lutar’ até que um dos dois não agüentasse mais.
Não me lembro se havia outras regras, mas de uma não me esqueço: quando um dos dois dissesse ‘água’, o outro tinha que parar. Era um código de honra. Tinha de ser respeitado.
Quando eu estava ‘ganhando’, ou melhor, conseguindo bater mais do que apanhar (o que era bem raro!), e ele pedia ‘água’, eu tinha vontade de fingir que não estava ouvindo. Nessas raras vezes, meu prazer era sádico. Sentia-me forte, orgulhosa de mim mesma, capaz de dominá-lo. Mas tínhamos um acordo. ‘Água’ era o fim da brincadeira. Tanto eu quanto ele sempre cumpríamos o combinado.
Cada um para o seu lado, rostos vermelhos, braços arranhados, respiração ofegante e, quase sempre, uma longa gargalhada que devia ser mais por ironia do que por alegria. Um ria de nervoso, por ter sido obrigado a parar a brincadeira. O outro, de raiva, por ter perdido a ‘luta’.
E assim crescemos, até que deixamos de brincar de ‘lutinha’ e hoje nos amamos e nos respeitamos demais. Mas o que queria dizer, exatamente, é que seria tão bom se as brigas de casais tivessem um ‘código de honra’, não é?
Algumas relações – em especial as de casamento – se tornam tão dolorosas, repetitivas e cansativas que mais parecem lutas, batalhas de guerra. E quanto mais a briga ‘esquenta’, mais forte um e outro deseja parecer. Ninguém quer pedir arrego. Ninguém quer pedir ‘água’.
Demonstrar que está doendo, que o outro é importante a ponto de nos atingir com suas palavras e até com seu silêncio é se rebaixar demais. Pedir uma chance, propor um acordo, ceder um pouquinho é se humilhar demais. Nenhum dos dois quer!
Melhor, então, continuar com essa situação sadomasoquista. Não que um seja o sádico e o outro, o masoquista. Cada um sabe bem como ser os dois. Fazer sofrer e submeter-se ao sofrimento faz parte desta estafante dinâmica. Até que chega o dia em que um dos dois já não agüenta mais. Desiste!
Se você nunca esteve nesta situação, pode estar pensando que, enfim, alguém pediu ‘água’. Não conte com isso! Em palavras pode até ser, mas em atitudes e mudanças é raro, muito raro. A maioria prefere fazer as malas e partir. Diagnóstico: separação, fim!
Só que o que muitos deles não sabem é o quanto dói. O quanto é frustrante ver os sonhos desabando, a ‘casa caindo’, os planos afundando. O que muitos deles não sabem é que poderiam ter pedido arrego antes... antes que fosse tarde demais.
Então, o meu apelo é pra você que está na ‘lutinha’. Peça ‘água’ agora. Não somente com palavras vazias, mas com comprometimento, com vontade de fazer dar certo. Eu sei que não é fácil, sei mesmo; mas é possível e vale a pena! Tente mais uma vez.
É provável que você esteja pensando: “ele bem que poderia ler isso!”; só que é você quem está lendo. Peça você uma chance. Mude você de atitude. Como??? Ouvindo o que o outro está pedindo. Mais atenção? Aceitá-lo como ele é? Menos cobranças? Um pouco mais de privacidade? Ouça o pedido dele como nunca se dispôs a ouvir antes. Realize-o. Aposte num recomeço.
E se ainda assim o outro quiser continuar a ‘luta psicológica’, então apenas repita o seu desejo de salvar a relação e espere. Espere que ele se decida, que ele descubra que pode haver bem mais felicidade no amor do que na dor. Mantenha-se firme no intuito de seu coração.
E acredite: a chance de se sentir bem melhor com esta atitude é sua, acima de tudo. Aconteça o que acontecer.