Não faz a menor ideia do que seja amor?
por Rosana Braga em Almas GêmeasAtualizado em 08/04/2020 11:35:12
Aposto que um dos maiores enganos do ser humano seja acreditar que o pensamento traz a resposta certa. Aposto também que existe uma enorme diferença entre pensar e saber. A mente pensa. O coração sabe.
Claro, pensar é importante. Muito importante. Mas fundamental mesmo é se manter em sintonia com o coração. É silenciar a mente com frequência. É meditar justamente onde o pensamento não está. Onde só tem lugar para a essência. Difícil? Com certeza. Mas com vontade e treino, é muito possível. E vale a pena. Inclusive, talvez seja um dos exercícios que mais dê sentido à vida.
A gente pensa na tentativa de entender. E quer entender pra ter a sensação (absolutamente irreal, diga-se de passagem) de que temos o controle. Não temos! Vale a reflexão sobre duas afirmações. A primeira é do filósofo e matemático René Descartes. A segunda é da escritora e jornalista Clarice Lispector:
"Penso, logo existo".
"Não tente entender. Viver ultrapassa qualquer entendimento".
Fico, sem sombra de dúvidas, com a segunda. Aliás, tenho me exercitado cada vez mais para abandonar o vício da primeira. Não existo no meu pensamento. E disso tenho certeza. Existo quando, enfim, consigo me sintonizar com o que quero, o que sinto, o que sei de mim e da minha verdade, ainda que ela possa mudar. Existo não na sensação de que entendi, mas sim, na coragem que tenho de viver.
E eis que um amigo me solta essa: "Rô, não faço a menor ideia do que seja amor". Sorri um sorriso que disse: "nem eu!". Mas de tão viciada que a maioria é nessa bobagem de acreditar que o pensamento recorrente, insistente e agonizante nos conduz à melhor resposta, busquei adjetivos. Nada mais que tentativas de entendimento. Nada mais que a ilusão do controle.
Entrega, perdão, fazer pelo outro, fazer por si? Isso é amor? Ok, vamos ao dicionário: "Sentimento que predispõe alguém a desejar o bem de outrem". Boa definição. Desejar o bem é sempre sinal de amor. Deveria bastar. Deveria explicar. Mas talvez não satisfaça quem aposta que não tem a menor ideia do que seja.
Eu fico com: Olhar adiante. Seguir o fluxo. Deixar rolar. Esse é meu mantra pessoal de amor. E quando consigo praticá-lo, através de atitudes, escolhas, palavras e comportamentos, SEMPRE dá certo! Seria ótimo se não carecesse de explicações. Mas talvez careça. Justamente porque ainda somos dependentes do pensamento. Então, lá vai.
Olhar adiante: saber o que você quer. Saber e querer estão além do pensar. Precisa de uma conexão com o coração, com a intuição, com o conhecimento de si e de sua história. Olhar adiante requer sintonia com a própria alma. E isso significa retirar da frente todas as cracas (pensamentos) que não ajudam em nada. Que só contam histórias que nos paralisam. Que mentem para a nossa mente. Olhar adiante é conseguir enxergar o próprio horizonte.
Seguir o fluxo: é parar de brigar com a vida. É confiar que não entendemos tudo. É abrir mão da tentativa de controlar. É escorregar no agora, aqui, neste momento. É estar inteiro, julgando menos, muito menos. E sentindo mais, muito mais. É absorver o que está acontecendo para saber (sem ter de tanto pensar) o que fazer no próximo instante, quando ele for o presente.
Deixar rolar: sabendo o que você quer, sem brigar com a vida, fazendo a sua parte de modo coerente com sua alma, deixar rolar é carregar em si a certeza de que cada dia sendo vivido é um minúsculo capítulo da grande e verdadeira história. Qual história? Não faço a menor ideia. E é por isso que deixo rolar. Assim, fica muito mais leve, muito mais fluido e muito mais intenso e profundo.
Amor, para mim, é isso - sintonia. Sem as interferências que só servem pra fazer chiar tudo ao nosso redor. E se isso ainda lhe parecer vazio demais, acredite: é só porque você anda sentindo de menos e pensando demais.