Segredos da paixão
por Adília Belotti em AutoajudaAtualizado em 09/06/2006 11:31:47
“Querida esposa, amante querida. Onde estás? Vai! Volta para o meu pranto!” (“Cara sposa, amante cara. Dove sei? Dai! Ritorna ai pianti miei!”), chorava o contratenor Daniel Taylor, na apresentação dos Concertos Bank Boston. Ali no palco, a voz rara – contratenor é a versão erudita de vozes masculinas como a de Ney Matogrosso, viu? – fazia ressoarem pela sala belíssimos lamentos de amor e ninguém na platéia que uma única vez tivesse se apaixonado deixaria de reconhecer o poder evocativo destes versos. Em algum lugar lá no fundo, a gente lembrava com um arrepio de um momento assim em que amor e sofrimento se encontram e se reconhecem... E ficamos nós assim perdidos, zonzos e pasmos diante da perda do ser amado... brrrrr!!!!
Os apaixonados são meio bobinhos, falam numa língua que, cá pra nós, é um tanto over e beira o melodramático, sofrem feito cães vadios e se alegram por quase nada, em geral, nada do tipo “ele se virou para me olhar passar”, “ela riu da piada que eu contei”, “ele me emprestou a caneta”, “ela passou por mim assim de um jeito...” Enamorados, além de crédulos, também sofrem uma súbita - e graças a Deus passageira - perda de senso estético. Só isso explica a enxurrada de objetos possíveis de serem decorados com corações, de preferência grandes, vermelhos e “fofinhos”, que acompanha o Dia dos Namorados... enfim, quem nunca sofreu por amor que atire a primeira pedra...
Amor correspondido é o céu, amor não correspondido é o inferno. A vida é verdadeiramente simples assim. Afinal, por que a gente ama?
E se você achava que ninguém tinha resposta para isso, saia correndo daí, compre o livro da antropóloga Helen Fisher, “Por que amamos: a natureza e a química do amor romântico” e mergulhe nas mais fascinantes revelações sobre nós... e o amor!
Para começo de conversa, a antropóloga explica que tudo que você sabia sobre o amor, feliz ou infelizmente é verdade e, em geral, está associado às necessidades evolutivas da nossa espécie. Um exemplo: sim, em matéria de amor romântico, os homens são mais possessivos do que as mulheres. A razão? Milhões de anos tentando proteger as fêmeas grávidas de irem embora com outro macho que não fosse o pai dos filhotes... os homens definitivamente detestam a perspectiva de criarem os filhos de outro achando que são seus!
Biólogos, químicos, neurocientistas, antropólogos e estudiosos do universo amoroso reafirmam aquilo que o coração da gente já estava cansado de saber: o amor faz sim a gente se sentir mais cheio de energia e também faz o ser amado aparecer especial e sem defeitos diante dos nossos olhos; quando a gente ama, não consegue pensar em mais nada, sente-se mais leve só de passar por perto do objeto do nosso amor e, junto com ele, esquece do tempo; quem está apaixonado sofre bruscas mudanças de humor e passa seus dias procurando pistas para saber se é correspondido.
Se ainda assim você não sabe se está mesmo apaixonada, o livro até traz um teste para ajudar você a descobrir...
Mas os estudos da pesquisadora também revelam que o amor à primeira vista existe sim, e até entre os animais; o poeta estava certo e é melhor aproveitar enquanto o sentimento dura. Porque assim como chega de repente, o amor vai embora de repente. A magia do amor dura entre 12 e 18 meses, durante este tempo, o estar juntos e a união com o ser amado vão transformando esta chama. E, se tudo der certo, ao final deste período, vocês vão estar prontos para viver outra grande aventura: a ligação.
Passear por esta geografia do amor é um exercício fascinante e nem me dou conta de que o tempo passou e o espaço desta coluna também acabou.
Mas deixo você com alguns conselhos da pesquisadora americana paraprolongar a chama do romance muito depois do prazo de validade:
Comprometa-se
Ouça ativamente seu parceiro
Pergunte
Responda
Aprecie
Mantenha-se atraente
Continua crescendo intelectualmente
Inclua-o na sua vida
Dê a ele privacidade
Seja sincera e digna de confiança
Conte ao parceiro o que você precisa
Aceite as imperfeições dele
Fique sempre atenta aos seus modos
Exercite seu senso de humor
Respeite-o
Faça concessões
Discuta de forma construtiva
Nunca ameace partir
Esqueça o passado
Diga “não” ao adultério
Não pressuponha que o relacionamento vai durar para sempre
Construa um dia de cada vez
Nunca desista
E finalmente o mais importante conselho segundo a autora de “Por que amamos”: “façam coisas novas e desafiadoras juntos”, isso eleva os níveis de dopamina, algo essencial para vocês usufruírem juntos da maravilhosa sensação de bem-estar que só quem ama sabe como é...
O resto, você lê no livro...
“Por que amamos, a natureza e a química do amor romântico”, de Helen Fisher, da editora Record.