Atenção ao Sábado
por WebMaster em AutoconhecimentoAtualizado em 22/10/2001 12:57:12
Recebido de Ana Cristina Rosado
Acho que sábado é a rosa da semana; sábado de tarde a casa é feita
de cortinas ao vento, e alguém despeja um balde de água no terraço;
sábado ao vento é a rosa da semana; sábado de manhã, a abelha no
quintal, e o vento: uma picada, o rosto inchado, sangue e mel,
aguilhão em mim perdido: outras abelhas farejarão e no outro sábado
de manhã vou ver se o quintal vai estar cheio de abelhas.
No sábado é que as formigas subiam pela pedra.
Foi num sábado que vi um homem sentado na sombra da calçada
comendo de uma cuia de carne-seca e pirão; nós já tínhamos tomado
banho.
De tarde a campainha inaugurava ao vento a matinê de cinema: ao
vento sábado era a rosa de nossa semana.
Se chovia só eu sabia que era sábado; uma rosa molhada, não é?
No Rio de Janeiro, quando se pensa que a semana vai morrer, com
grande esforço metálico a semana se abre em rosa: o carro
freia de súbito e, antes do vento espantado poder recomeçar,
vejo que é sábado de tarde.
Tem sido sábado, mas já não me perguntam mais.
Mas já peguei as minhas coisas e fui para domingo de manhã.
Domingo de manhã também é a rosa da semana.
Não é propriamente rosa que eu quero dizer.
Clarice Lispector