Em busca da serenidade
por WebMaster em AutoconhecimentoAtualizado em 10/05/2002 11:05:13
Enviado por Elisabete Cavalcante
Enquanto os livros do Dalai-Lama são sucesso nas livrarias, vários monges tibetanos circulam pelo Brasil dando palestras e seminários sobre assuntos budistas. Um deles, o Geshe Sherap, vem todos os anos ao Rio de Janeiro. Geshe significa “mestre da virtude”. Um monge passa de 15 a 20 anos estudando numa universidade budista para ganhar esse título e participa diariamente de debates que duram horas, refinando o conhecimento e a maneira de expressá-lo. Se convidarem para assistir a uma palestra dele, você certamente pensará que vai ouvir falar sobre religião. Errou: o Geshe avisa logo que seu objetivo não é converter ninguém. Mas então vai falar de quê? Bem, diz ele com simplicidade, talvez das muitas maneiras de nos tornarmos pessoas melhores.
- Melhores como?, pergunta alguém.
Para começar, responde ele, mais calma. A calma abre espaço para a compreensão, nos deixa amáveis, pacientes conosco e com os outros, atentos aos nossos próprios processos e ao que está se passando em volta. Nos põe aqui e agora. E, se nos sentimos bem aqui e agora, vamos levando esse bem-estar para os momentos seguintes. Assim, quando alguma perturbação acontece, podemos identificá-la antes que cresça e tomar providências para restabelecer a serenidade.
- Mas como conseguir essa calma?, perguntamos de novo, já impacientes.
Bem, continua calmamente o Geshe, para começar temos que ter mais consciência de como a mente funciona porque é ela que não nos deixa em paz. Como um cavalo selvagem, fica correndo sem controle pelos campos. Passa um pensamento, ela vai atrás. Um perfume desperta lembranças e ela viaja para outro lado. Algo excita a imaginação, e ela se perde de novo. Para ter paz, é preciso antes treinar a mente. Como? Primeiro, diz ele, simplesmente observando o fluir dos pensamentos – sem agarrar nenhum. Só para nos tornarmos mais conscientes dos movimentos mentais. Segundo, trazendo a mente para estados cada vez mais profundos de concentração. Dois exercícios simples servem para começar.
- Um é recordar, antes de dormir, tudo o que aconteceu ao longo do dia, todas as coisas comuns e extraordinárias com que nos envolvemos. Assim podemos perceber, por exemplo, se num certo momento nosso estado de espírito mudou. Algo aconteceu entre uma coisa e outra, e lá se foi nosso bom humor. O que exatamente? Não lembramos. Ou será que sim? Quanto mais pudermos lembrar, diz o Geshe, mais saberemos que estávamos atentos naquela hora, não distraídos.
Ou seja: a mente estava atrelada àquele momento, e não alhures.
- O outro exercício leva cinco minutos. Não exige lugar especial nem postura difícil. Basta estar sentado, com a coluna ereta, de olhos fechados, fazendo o que não pode deixar de fazer: respirar.
O objetivo é concentrar a mente na inspiração, na expiração e nas pausas que vamos colocar entre elas. Assim: tape com o dedo a narina direita e inspire pela esquerda. Depois de uma breve pausa, passe o dedo para o outro lado do nariz, tape a narina esquerda e expire pela direita. Pausa. Sem mover o dedo, inspire agora pela narina direita. Pausa. Tape novamente a narina direita e expire pela esquerda. Pausa. Aí inspire e expire uma vez pelas duas narinas e dê uma pausa maior. Recomece então o ciclo das respirações alternadas, sempre tapando primeiro a narina direita para inspirar pela esquerda, e depois repita ainda uma vez, fazendo três séries ao todo.
Durante pelo menos dois meses, diz o sorridente Geshe Sherap, bastam esses cinco minutos, de manhã e à noite: é de pequenino que se torce o pepino – o exercício vai fazendo efeito e começamos a nos concentrar melhor em todas as outras coisas. Ou seja, a perceber melhor tudo o que estamos fazendo, sentindo, pensando. Em contato com nossas motivações reais e livres da pressão mental que nos deixa ansiosos e estressados, como se fosse impossível viver em paz.
Matéria publicada na revista Bons Fluidos, edição março/2002