Enfrentando uma Grande Perda
por WebMaster em Almas GêmeasAtualizado em 09/07/2020 15:20:00
Muitas situações na vida nos trazem a sensação de um mal irreparável, geralmente envolvendo perdas ou grandes mudanças: doenças, morte de alguém, mudança de cidade, de emprego, de condição social, separação, perda de um sonho ou ideal e outras. As situações mais dolorosas referem-se à perda de um ente querido.
As pessoas ficam com a sensação de terem sido roubadas em algo a que tinham direito. Passam por um processo doloroso que envolve sofrimento, medo, revolta, raiva, culpa, depressão, isolamento, desinteresse pelas atividades costumeiras ou excesso de atividades (fuga); apresentam sintomas físicos e psicológicos de estresse, podendo até vir a adoecer.
O tempo requerido para o "luto" (fase de maior sofrimento) e a maneira de vivê-lo depende muito das circunstâncias da perda, o significado desta para a pessoa, seu modo particular de lidar com situações de crise, apoio disponível no seu meio familiar e social, como a comunidade onde vive encara esta perda, suas próprias crenças e outros aspectos.
A recuperação de uma perda significativa leva de alguns meses
a dois anos e, mesmo aí, alguns aspectos podem continuar não muito
bem resolvidos.
Mas, além da tristeza, as situações dolorosas podem fazer
com que descubramos em nós mesmos forças antes desconhecidas,
faz com que repensemos nossas vidas e nossos valores, passando a perceber o
que realmente é importante e o que é supérfluo, e podem
nos transformar em pessoas mais ricas espiritual e emocionalmente.
Apesar das pessoas sentirem e reagirem diferentemente, existem pontos em comum nas situações de perda, quando geralmente passam por fases semelhantes. Quando descobrem que estão com uma doença grave ou isto acontece com uma pessoa muito próxima, a morte inesperada de alguém que amam, ou com quase todos os outros tipos de perda, primeiro passam pelo estágio de choque e negação, não querendo acreditar na realidade. Depois vem a fase da raiva, revolta (contra tudo, todos e até contra Deus) e muita mágoa. Mais tarde passam a negociar com Deus e com a vida, tentando fazer trocas e promessas; depois ficam deprimidos, perguntando-se "por que eu?", "por que ele (ou ela)?" ou "por que comigo (ou conosco)?". A seguir a tendência é retraírem-se por algum tempo, afastando-se dos outros, enquanto buscam alcançar um estado de entendimento, paz, de aceitar aquilo que não pode ser mudado. (E. Kubler-Ross). Muitos param em determinada fase e não vão adiante na superação da perda que já aconteceu ou, no caso de doença, irá ocorrer; alguns pulam de uma fase para outra, podendo retornar a fases anteriores; outros caminham para a superação. Isto vai depender muito do suporte que recebem do meio, dos amigos, de terapeutas ou orientadores; do entendimento que têm sobre a vida e sua finalidade, de suas crenças filosóficas e/ ou religiosas e outros aspectos.
A Dra Ross estudou também 20 mil casos de pessoas de várias culturas que passaram por experiências de quase morte (EQM), e notou muita semelhança no que percebem naqueles momentos de "morte", as vivências e sensações são agradáveis e os pacientes percebem que na realidade a morte não existe, é uma passagem para um plano de vida diferente, como a borboleta que deixa o casulo. Se começarmos a ver a vida de maneira diferente, com maior entendimento, veremos que a morte jamais deve representar sofrimento, mas uma continuação da vida e da evolução.
Seguem-se algumas sugestões que podem ajudar nesta fase difícil:
1 - Fale sobre sua perda e sua dor
Nos primeiros meses muitos têm esta necessidade, deixe que os outros saibam
que este assunto não deve ser evitado e que lhe faz bem falar sobre isto,
abrir-se com alguém de confiança, ajuda no entendimento e na aceitação.
Quando os amigos entendem o processo, percebem que ouvindo e compartilhando
o sofrimento, estão ajudando; e você vai se sentir melhor desabafando.
Entretanto, em algumas situações, ou com algumas pessoas, quando
não quiser falar sobre o assunto, também diga isto claramente.
2 - Enfrente o sentimento de culpa
Quando se perde alguém importante é difícil sentir que
se fez o bastante. Discutir este sentimento com alguém compreensivo e
de confiança vai ajudar a distinguir a culpa real e irreal e, aos poucos,
esta começa a diminuir. Não pode se sentir responsável
por não prever os acontecimentos, ou culpa como se tivesse tido a intenção
de prejudicar alguém. Além do mais, temos que aceitar a realidade
de que ninguém é perfeito, fazemos o possível de acordo
com nossa capacidade.
3 - Trabalhe os sentimentos de raiva e revolta
Estes sentimentos existem em face de uma grande perda; é importante percebê-los
e expressar os sentimentos de raiva e amargura. Não adianta negá-los
ou envergonhar-se deles, são normais e irão desaparecendo com
o tempo e a aceitação do fato.
4 - Idealização
Há uma fase em que a pessoa pensa em suas falhas como pai, mãe,
filho, cônjuge, irmão, namorado ou amigo... e vê a pessoa
que se foi como um ser perfeito. Com o tempo, começará a vê-la
como um ser humano real, com suas qualidades e defeitos, assim como todos nós.
5 - Não se isole
Mesmo que não se sinta à vontade para compartilhar seu sofrimento
e prefira ficar sozinho, precisa buscar a companhia de outras pessoas. Amigos
e familiares que o estimem podem ajudar muito. Não se esqueça
que não está só; muitos o estimam, querem lhe dar amor
e conforto, assim como precisam do seu amor e atenção. Isto consola,
renova suas forças e ajuda na construção de novos objetivos
e, com o tempo, a recuperar a alegria de viver. Estas pessoas podem fazer muito
por você e você por elas.
6 - Mudança de valores
Diante da morte ou de uma grande perda, a pessoa tende a repensar seus valores,
a reavaliar seus objetivos de vida; deixar de lado coisas que anteriormente
valorizava e que agora percebe que são insignificantes e/ou fúteis,
e a valorizar aspectos que percebe serem realmente mais importantes. Muitas
vezes implementa mudanças positivas na sua maneira de ser e de viver,
tornando-se menos preocupada com o ter e mais com o SER, evoluindo moral, emocional
e Espiritualmente.
7 - "Nunca mais serei o mesmo"...
É freqüente haver um grande sofrimento neste pensamento que pode
ser real, mas isto não significa que nunca mais possa ser feliz. Embora
esta idéia possa parecer inaceitável no período do sofrimento,
as transformações podem nos enriquecer. Geralmente é isto
que acontece, quando a pessoa aceita trabalhar e superar a fase de mágoa
e revolta, decidindo que pode e deve viver o melhor possível.
8 - Evite decisões importantes ou grandes mudanças
O primeiro ano após a perda, geralmente não é um período
adequado para tomar decisões importantes ou fazer grandes mudanças,
a menos que as circunstâncias o exijam. Uma pessoa amargurada tem a capacidade
de julgamento diminuída. Se algumas mudanças forem necessárias
e inadiáveis, peça a ajuda de alguém competente e não
envolvido emocionalmente com os problemas.
9 - Reserve períodos e local para lembranças
Não fique o tempo todo pensando e vendo objetos da pessoa que se foi.
Coloque alguns pertences dela numa caixa ou armário, não os deixe
espalhados. Tente reservar algum período específico do dia (no
início), da semana ou do mês, para pensar na pessoa e no seu luto,
quando também poderá rever os objetos. Evite fazer isto o resto
do tempo, pois nada de bom e útil se consegue com a tristeza contínua.
Para algumas pessoas isto não é fácil de conseguir, mas
é necessário à sobrevivência e recuperação.
10 - Prevendo dias e datas difíceis
É útil saber que vai sentir-se mais triste, solitário e
infeliz em certos dias e datas do que em outros, isto mesmo após já
ter-se passado algum tempo e com a vida mais estabilizada. Estes dias especiais
geralmente envolvem datas de aniversário, Natal, passagem de ano, Páscoa
e outros, onde a falta da pessoa se faz mais presente. Planeje passá-los
com amigos ou familiares, pois é provável que fique mais triste,
choroso e deprimido que em outras ocasiões. Não se isole, é
bom que esteja em companhia de pessoas que o estimem.
11 - A crença de que a vida transcende nossa estada na terra e num
Ser Superior
Desde a antigüidade, a maioria dos povos de todas as regiões do
globo, com culturas e religiões diferentes, acredita na imortalidade
da alma ou espírito e na existência de um Deus ou "Algo Superior".
Isto é quase que uma intuição que trazemos desde o nascimento.
Um Ser com Amor Incondicional e Sabedoria, perfeito e justo, não castiga
as pessoas, mas sempre quer o seu bem, sua evolução, mesmo que
muitos de nós ainda não tenhamos a capacidade para entender o
porquê de muitos acontecimentos. Hoje, mais do que nunca, temos tido provas
da imortalidade do espírito e de que tudo na vida tem um propósito
positivo, que nada acontece por acaso. Mesmo que não sejamos religiosos,
esta crença traz consolo. Pensar que a pessoa não acabou, mas
apenas deixou seu corpo e transferiu-se para um tipo de vida diferente, em outro
plano, faz com que as pessoas sintam-se melhor diante da perda; e significará
que a separação é temporária, não definitiva.
12 - Culpa por sentir-se bem
É comum as pessoas não se permitirem alegria após uma grande
perda, não aceitando convites de amigos, ou evitando atividades agradáveis.
Não lute para continuar sendo ou parecendo infeliz. Perceba que sentir-se
contente, ter novos objetivos, não é deslealdade nem significa
que não ama ou está esquecendo o ente querido. Conseguir prazer
em algo significa que está trazendo um pouco de alívio ao seu
sofrimento; retomando ou recomeçando a construir sua vida. Além
disso, se a pessoa que se foi o estima, com certeza gostaria de vê-lo
bem e não sofrendo, preferiria vê-lo contente e isto lhe daria
mais tranqüilidade. Procure investir em seu bem estar, engajando-se em
atividades produtivas e que lhe são agradáveis, e poderá
tornar sua vida melhor ainda do que antes, se aprendeu algo com o acontecido,
se cresceu com o sofrimento e compreensão do que é realmente mais
importante na vida.
13 - Reajuste-se à vida e ao trabalho
Tirar alguns dias ou semanas para reequilibrar-se e, depois, uma folga ocasional,
quando necessário, é perfeitamente normal. Mas as atividades devem
ser retomadas assim que for possível, pois são importantes no
processo de recuperação. Seja paciente consigo mesmo, porque nos
primeiros meses sua capacidade física e mental podem não ser as
mesmas. Deve diminuir sua carga horária ou o número de atividades,
se sentir que é excessiva; mas a inatividade prolongada faz as pessoas
repetirem ou prolongarem a fase depressiva sem nenhum benefício. Com
o tempo poderá também perceber que é importante utilizar
um pouco da sua energia em uma atividade que possa ajudar outras pessoas e/ou
instituições, saindo um pouco de seu pequeno mundo e percebendo
a importância e bem estar que traz ajudar ao próximo, de conseguir
tornar outros um pouco mais felizes e menos carentes física e psicologicamente.
14 - Liberte-se de expectativas irreais
Acreditar que a vida deveria ser diferente, não envolvendo escolhas dolorosas,
sofrimentos e perdas é irreal e só traz revolta, o que só
prejudica. Tornando nossas expectativas quanto a nós mesmos, aos outros
e à vida mais realistas, fica mais difícil nos frustrarmos e mais
fácil nos adaptarmos. Ninguém passa por situações
que não mereça por puro acaso; nem enfrenta uma carga maior do
que a que tenha capacidade para carregar. Saber que não vivemos num mundo
desorganizado pois existem leis universais, que "nada acontece por acaso"
e tudo tem uma razão de ser justa e produtiva, nos leva a encarar os
acontecimentos (com relação a nós e aos outros envolvidos),
mesmo os mais difíceis, como oportunidades de aprendizagem e crescimento.
15 - Integrando a perda
As pessoas não "têm" que ser "vítimas",
qualquer que seja a perda, por pior que tenha sido. Situações
de muito sofrimento podem ser transformadas em aprendizado. É preciso
deixar de lado as perguntas centradas no passado (que é imutável)
e no sofrimento ("Por que isso aconteceu comigo"?) e começar
a fazer perguntas que abrem as portas para o futuro: "Agora que isto aconteceu
o que posso e devo fazer? O que posso aprender com isto? O que posso fazer para
Ser e sentir-me melhor?". Geralmente quando chegamos na fase da aceitação,
atingimos a compreensão e crescemos com a experiência, a dor se
vai. Fica a saudade de uma pessoa com a qual convivemos e que nos proporcionou
bons momentos e ensinamentos, tanto com suas qualidades, como com seus defeitos;
com a qual compartilhamos uma parte de nossa vida. Só se tem saudade
de algo que foi bom ou nos trouxe algo de positivo. Deve ser mais triste não
ter de quem sentir saudade, seja de uma pessoa deste ou de outro plano.
16 - Pesar excessivamente longo
Quando um sofrimento excessivo consome alguém por mais de um ano, geralmente
o problema principal não é a perda em si, mas algum outro aspecto
que precisa ser entendido. Muitas vezes isto ocorre quando havia uma dependência
excessiva em relação à pessoa que se foi, quando a culpa
por algum motivo é um componente muito forte na situação,
problemas emocionais pessoais ativados ou reforçados pela perda ou outras
razões significativas. Amigos, conselheiros ou um psicólogo podem
ser necessários neste caso.
17 - Procure ajuda profissional, se necessário
A maioria dos que procuram ajuda de psicoterapeuta não são doentes
mentais, são pessoas comuns enfrentando problemas, passando por uma crise
e muitas delas sofrendo uma perda. Um profissional da área é alguém
com quem você pode dividir seu sofrimento, sua revolta, seu medo, suas
lembranças dolorosas, sua culpa e seus conflitos; que pode compreendê-lo
e ajudá-lo. As sessões de terapia podem ajudá-lo também
a tomar decisões práticas que o farão sentir-se melhor.
Você pode precisar de apenas algumas sessões, muitos meses para
superar a fase mais difícil, ou mais tempo; tudo vai depender do significado
individual da perda, da maneira como reage às crises e à terapia.
No início do pesar, uma das formas mais comuns de manifestar o sofrimento
é resistir a crescer com ele. A vida pode ser prejudicada ou fortalecida
por uma perda. Ninguém permanece o mesmo. Cada situação
é única e só a própria pessoa pode buscar e encontrar
respostas relativas ao "outro eu" e à outra vida que vão
emergir.
Cada pessoa decide se vai ou não crescer com essa experiência dolorosa, e quando.
Maria José Gomes da Silva Nery, Psicóloga Clínica - Campinas (SP)