Felicidade X Suicídio
por Adília Belotti em AutoconhecimentoAtualizado em 19/09/2008 00:48:09
Pesquisas... meu sogro costumava dizer que se alguém conseguisse cruzar todas as pesquisas que saem nos jornais descobriria que o mundo está muito longe de fazer algum sentido!
Minha amiga, Lélia me manda uma notícia: o número de suicídios aumentou 60% nos últimos 45 anos! A informação vem de uma pesquisa divulgada essa semana pela Organização Mundial de Saúde, como parte de uma campanha de conscientização lançada no Dia Mundial de Prevenção do Súicídio, 10 de setembro.
A cada dia, informa a OMS, cerca de 3 mil pessoas se suicidam no mundo. Para cada suicídio, no entanto, contam-se algo como 20 tentativas frustradas. O objetivo da campanha da OMS é justamente sinalizar a necessidade de políticas de saúde pública que incluam o acompanhamento de pessoas que tentaram se matar logo na primeira vez. Fingir que não aconteceu nada e varrer o problema para debaixo do tapete é, sem dúvida, a pior opção, alertam os autores do estudo.
O suicídio é a terceira causa de morte entre pessoas de 25 e 44 anos e, em 90% dos casos, está relacionado a problemas mentais. Questões familiares e crises sócio-econômicas também podem ter aí um certo papel, mas o fato é que a maioria das pessoas que resolvem tirar a própria vida, faz isso sem uma razão externa aparente, ou seja, as estatísticas não dizem que em zonas de guerra as pessoas se suicidam mais, por exemplo. Nem tampouco informam que nas favelas do mundo a taxa de suicídios é maior. Nada disso, o aumento do número de suicídios aparentemente tem a ver com países desenvolvidos ou em desenvolvimento e afeta cada vez mais os jovens.
E como a gente junta isso com a pesquisa da semana passada, da World Value Survey Organization, que concluía que as pessoas andavam mais felizes?
Meu sogro diria: “cuidado, ler pesquisas não é coisa tão simples”, e ele teria razão…
Porque veja só. O estudo da WVS foi feito com foco nos países, tentando relacionar felicidade da população e nível sócio-econômico. O estudo da OMS, ao contrário, olha para as pessoas e para suas razões individuais.
Isso nos deixa com algumas perguntas penduradas: será que esse aumento do número de suicídios não estaria ocorrendo justamente nos países nos quais as pessoas se disseram menos felizes? E isso teria algo a ver com aquele tal “tédio de consumo” sobre o qual falavam os autores do estudo da WVS? Por que os jovens? Lembram que no outro estudo os especialistas relacionavam oportunidades pessoais, capacidade de realizar alguns sonhos e o senso de pertencer a uma família, a um grupo, como sendo das coisas importantes para se medir a felicidade? Será que os jovens estariam perdendo esse vínculo com suas comunidades? Seria esse um fenômeno geral ou ele estaria relacionado, por exemplo, às grandes cidades, aos países mais desenvolvidos…será que essas coisas todas estão relacionadas: tédio, jovens, perda de vínculos, falta de horizontes, suicídio?
Pesquisas, para mim, elas trazem mais perguntas do que respostas, meu sogro diria: “é para isso que elas servem”, e ele teria razão…