Novos hábitos - podem ser já?
por Conceição Trucom em AutoconhecimentoAtualizado em 17/09/2004 12:42:30
"Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura" ou "O hábito faz o monge".
Sempre falo nas minhas palestras e atendimentos de orientação alimentar, que tudo deve começar pela Alimentação Desintoxicante, mas vocês já perceberam que vigiar e transformar os hábitos também é determinante para o sucesso? Trata-se daquele 50% de suor.
A Alimentação Desintoxicante diária está mais voltada para o período do desjejum, quando o organismo está biologicamente preparado para a mobilização, ou seja, eliminação dos excretos. É o que costumo chamar de “O banho matinal interno”.
Mas, se reduzimos a carga de intoxicação ao longo do dia, também estamos ajudando no processo de desintoxicação.
Assim, a reeducação de alguns hábitos negativos, típicos de nossa sociedade, é um ponto que iremos abordar agora.
- Mastigação x Digestão
Sua influência em nossa saúde é muito maior do que podemos imaginar. Na mastigação inicia-se a função digestiva. Quando mastigamos, os sólidos são transformados em partículas, que são misturadas com a saliva, que contém uma enzima responsável pela digestão dos alimentos ricos em amido.
Se não mastigarmos bem, dificultamos a digestão, causando fermentações, azia e gases. Além de um dispêndio maior de tempo e energia para triturar com enzimas e ácidos aquilo que não foi bem mastigado e salivado.
Em contrapartida, se o alimento passa por este processo corretamente – cerca de 30 mastigações por garfada - não sentimos necessidade de beber líquidos nas refeições.
Ao triturarmos bem os alimentos, evitamos um trabalho excessivo do estômago e a fermentação gástrica que forma toxinas no organismo. A correta mastigação resolve a maioria dos problemas de gases e gastrite.
Para a saúde dos dentes a mastigação é importantíssima. Se não utilizamos devidamente os dentes, estes perdem sua função e enfraquecem.
A mastigação também serve como um excelente medidor para a quantidade adequada de alimentos que devemos ingerir. Durante o processo de mastigação o corpo vai recebendo avisos e se preparando quimicamente para a assimilação dos nutrientes, até o momento em que dá sinais de apetite saciado.
Desta forma, sem enchermos demais o estômago, ele terá espaço para movimentar-se, liberando o suco gástrico que irá se misturar com a comida.
Quando comemos muito rápido, engolindo a comida, o ponto de satisfação será quando o estômago estiver bem cheio, dolorido de tão dilatado. Engolindo pedaços grandes de comida aumentamos o trabalho do estômago e não o preparamos bioquimicamente para realizar um bom trabalho digestivo.
- Mastigação x Paladar
Paladar - sentido através do qual tomamos consciência do que ingerimos e que está intimamente ligado ao nosso instinto de sobrevivência - é importantíssimo para selecionarmos, do meio em que vivemos, o que é importante ou não para que nosso organismo funcione com harmonia.
Por esse motivo o gosto deve ser muito percebido e o alimento bem saboreado, até a última partícula. E, para sentirmos o paladar, a mastigação tem aqui outro papel importantíssimo: mastigando com tranqüilidade, identificamos o sabor de cada alimento e, pela nossa sensibilidade, poderemos reconhecer a função de cada alimento e tempero em nosso organismo.
Pelo sabor, o estômago e os intestinos começam a liberar enzimas digestivas. Mas existem alguns fatores que nos impedem de cumprir corretamente esta função: compulsão, gula, ansiedade, tensão, preocupação e correria.
Depois que engolimos não há mais sabor e o prazer do paladar desceu goela abaixo. O ser humano tem este problema de fugir dos seus prazeres pela pressa.
E, o que tenho percebido é que só desenvolvemos plenamente o sexto sentido, depois que apuramos os cinco sentidos.
Mas pergunto: Quanto nos permitimos vivenciar nossos sentidos com um prazer longo e verdadeiro?
A maioria das pessoas que têm compulsão alimentar nem percebem o sabor daquilo que estão ingerindo.
- "AliMenditação"
Para a prática da mastigação adequada, necessitamos de autocontrole, de nos acalmarmos alguns instantes e exercitarmos a paciência e o auto-amor. Praticar uma atitude de tranqüilidade.
Medite: O meu corpo está “sentindo” o prazer dos sabores, aromas e cores. Perceba o desfrutar desta experiência tão corporal. Afinal, os cinco sentidos só existem quando temos um corpo físico.
Nos primeiros dias será difícil, mas com o tempo o hábito será desenvolvido de forma a tornar-se uma valorização da vida. A cada refeição ou lanche, procurar mastigar com calma, saboreando, até transformar o sólido em líquido, só engolindo quando não sobrar qualquer partícula de alimento.
Vale mais a pena uma refeição pequena, mas bem mastigada do que engolir da forma a que estamos habituados, em que boa parte do alimento não é aproveitada.
Escolha um horário em que tenha mais tempo, alimente-se com calma, celebrando o momento. Mastigar também é um exercício de meditação, autocontrole e concentração que, por sua vez, reduz ansiedades.
Mastigar é uma simples atenção que pode modificar totalmente o rumo dos hábitos alimentares.
Ah! Não esqueça do visual da refeição. E que tal uma música divertida?
Alerta! A humanidade está com sérios problemas em seu chacra da garganta (laríngeo). Se não mastigarmos muito bem o que ingerimos, machucamos ainda mais este centro de energia.
Comer significa colocar qualquer coisa goela abaixo. Alimentar-se é nutrir-se. De tudo. Inclusive e necessariamente de paz.
- Alimentar-se com tranqüilidade
Tenha sempre em mente que o ato de se alimentar deve ser de prazer e satisfação. Procure estar sempre em local agradável e bem acompanhado.
Mas, às vezes, “é preferível estar só do que mal acompanhado”. Quando só, procure ouvir música relaxante e concentrar-se no ato da mastigação e do prazer de estar alimentando-se.
Também: evite preocupações, tensões, discussões, brigas etc., pois estas emoções (adrenalina) paralisam o sistema digestivo. Pare e pense: estou celebrando a vida, não é hora de desarmonias.
Caminhar após as refeições principais é uma atitude muito sábia, principalmente se for ao ar livre. Evite deitar ou dormir logo após as refeições, pois esta atitude só irá retardar o processo digestivo e excretório.
- Ingerir alimentos “vivos”
O vigor físico é determinado pelo que ingerimos diariamente e não por panacéias que ingerimos ocasionalmente. Por isso é importante dar preferência aos alimentos mais completos e vivos como as frutas, legumes, brotos e verduras frescos e crus. Eles deveriam idealmente ser 50% do nosso consumo diário.
O retorno aos alimentos integrais e crus pode ser o seu grande passo no caminho de uma vida mais saudável e feliz. Se não resolvemos exercer o direito de co-criar a nossa saúde, estaremos diminuindo a nossa qualidade e tempo de vida. Uma nutrição pobre não pode ser compensada com pílulas milagrosas.
As vitaminas naturais dos alimentos vivos são projetadas pela natureza para fornecer nutrição altamente qualificada. Os legumes e verduras sãos restauradores, enquanto as frutas são depurativas e verdadeiros armazéns solares.O organismo humano assimila esses nutrientes em minutos e se enche de vitalidade, além de ficar muito pronto para eliminar os seus dejetos.
- Ingerir fibras
Bom, este é o tema principal deste livro. Espero que ao terminar esta leitura você sonhe, deseje e apaixone-se pelos alimentos frescos e integrais. Somente as frutas, verduras, legumes, sementes e cereais integrais contêm fibras.
Poderia colocar uma tabela com teor de fibras dos alimentos, porque alguns possuem mais e outros menos. Algumas fibras são hidrossolúveis e outras não. Mas isso não importa. O que vale é pautar sua alimentação com bastante alimentos ricos em fibras, preferentemente crus, frescos e isentos de agrotóxicos.
Sou fã da variedade e da biodiversidade. Aqui no Brasil, um país tropical e pleno de verdes e amarelos, isto é totalmente possível. Aliás, custa mais barato este tipo de alimentação do que os alimentos isentos e pobres de fibras.
Não espere encontrar fibras nas carnes, laticínios, ovos e produtos refinados. Quanto mais processado é um alimento, menos nutrientes ativos e fibras ele conterá.
A ausência de fibras dificulta o funcionamento de tudo e principalmente dos intestinos. O consumo dos alimentos ricos nos mais variados tipos de fibras, irá promover a sensação de saciedade, de integração com a natureza, dificultar a obesidade e todas as demais doenças.
- A quantidade altera a qualidade
É importante sairmos satisfeitos da mesa, mas nunca com o estômago totalmente cheio, porque quando se inicia o processo digestivo a saciedade aumenta.
Quando "comemos" em excesso, falta espaço para o correto processo digestivo. As fermentações serão inevitáveis. A demanda de ácidos e enzimas aumenta e fica faltando energia para a lucidez (inteligência) e produtividade.
Os orientais são muito sábios ao usarem o "rashi", aqueles palitos de madeira, como talher. Com eles, necessariamente modulamos melhor a quantidade de alimento que realmente irá nos satisfazer.
Perceba. Aquele alimento que ingerimos a mais, por gula ou conveniência, não tem o mesmo sabor que tinha no início da refeição. E este é um bom sinal. Quando não há mais prazer é hora de parar.
- Ficar muito tempo sem alimentar-se e depois comer demais
Quanto mais alimentos forem ingeridos, mais lenta será a digestão. O ideal é fazer quatro ou cinco refeições por dia, com alimentos conscientemente balanceados.
Não é legal ficar mais de cinco horas sem se alimentar. Os alimentos devem ser pensados como medicamentos, ou seja, provocam saúde.
Portanto, a cada 4-5 horas devemos estar reabastecendo a máquina.
Jamais deixe de tomar o desjejum ao levantar, pois esta é a principal e primeira refeição do dia após oito horas de repouso e reposição celular. Mas sabe como? Com um belo, nutritivo e saboroso suco desintoxicante.
- Não beber líquido durante as refeições
A ingestão de líquidos durante as refeições é um hábito massacrante, criado pela industrialização dos refrigerantes. Esse é o pior momento para beber.
Como visto acima, se salivarmos bem na mastigação, não precisaremos ingerir líquidos. Durante o processo digestivo os alimentos são rompidos para que os seus elementos nutricionais sejam utilizados. A natureza nos deu uma saliva quimicamente ativa e sucos digestivos para ajudar neste importantíssimo processo. Adicionando líquidos ao alimento, diluímos, enfraquecemos e dificultamos todo o processo. Fermentações irão fatalmente ocorrer.
Se adquirirmos o hábito salutar de beber mais água, chás e sucos durante o dia (6 a 8 copos), dificilmente será necessário ingerir líquidos durante a refeição. A grande realidade é que nos hidratamos ao longo do dia de forma muito pobre, e aproveitamos para acertar este alimento no momento mais inadequado.
Uma exceção: quando ingerimos um lanche, geralmente um sanduíche, que é um alimento basicamente mais seco, recomendo o uso de um copo pequeno de suco natural, uma xícara de chá ou mesmo água vitalizada. Mas, lembre-se, sem excesso.
Uma dica: substituir o líquido por uma bela xícara de chá digestivo, como de canela, boldo, carqueja ou hortelã, para fechar uma refeição.
- Postura correta
Se a coluna vertebral está encurvada, devido às poltronas "confortáveis" e macias, ou à má postura, será produzida alteração no tubo digestivo, fazendo com que saia de sua posição correta. O estômago será pressionado, dificultando dessa forma seu trabalho, retendo a comida por mais tempo no órgão.
Com a coluna ereta, os órgãos da digestão estarão na posição correta, facilitando a ação da gravidade em puxar a comida para baixo, completando seu trajeto de forma natural.
Ah! Alimentar-se vendo TV... nem pensar.
- Alimentos excessivamente quentes ou gelados
Evite. A digestão do alimento só é iniciada quando ele alcança a temperatura do organismo, podendo atrasar, inclusive, a digestão daqueles alimentos que já estavam no estômago. Devemos fazer com que atinjam a temperatura ideal quando ainda estiverem na boca, misturando-os bem com a saliva.
- O Jantar e o Lanche Noturno
O sono é o momento de descanso, quando recuperamos as energias gastas durante o dia. Mas é durante o sono que o corpo cresce e rejuvenesce, porque é neste momento de repouso que ele aproveita para fazer as reposições e construções celulares. Minha avó dizia: Quem não dorme, não cresce!
Quem tem o mau hábito de fazer um jantar tardio e farto, pode até acordar no dia seguinte com alimentos sendo digeridos no estômago, pois quando dormimos a digestão é muito lenta. Três coisas são malfeitas: 1) O ato de dormir, pois o corpo não descansará, 2) O ato da reposição celular (rejuvenescimento), pois o corpo estará desviando energias e atenção para algo que ele não deveria estar fazendo, e 3) O ato de digerir, pois não é o momento biológico para isso.
Repito: Deitar-se logo após as refeições não é legal. O ideal é se movimentar como caminhar, jogar com as crianças, dançar (mesmo que seja no banheiro). Isto porque a posição vertical e o movimento do corpo facilitam o esvaziamento do estômago. Ou seja, a atividade física eleva a capacidade vital e digestiva.
Na prática da Alimentação Desintoxicante, recomenda-se um jantar light baseado num caldo ou sopa de legumes, e um lanche leve realizado cerca de 30 minutos antes do deitar-se.
Com este procedimento, é comum acontecer da pessoa dormir menos horas/noite, e despertar bem disposta. Ou seja, o que mais importa é a qualidade do sono, perfeitamente e regenerador, e não a quantidade. A outra vantagem é acordar com vitalidade e apetite no dia seguinte, gerando o hábito saudável de tomar um bom e saudável desjejum.
- O prazer do ar livre
Nosso corpo necessita de exercício moderado, sol e ar livre. É por isso que devemos sair de casa diariamente para ter contato com a natureza, com o sol. Caminhar, correr, praticar um esporte, meditar ou mesmo contemplar.
Podemos também pensar em jardinagem ou um passatempo agradável.
Este texto faz parte do livro Alimentação Desintoxicante – Conceição Trucom – Editora Alaúde