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Sangue e Ritual

por Pandora do Vale em Autoconhecimento
Atualizado em 05/11/2002 16:27:40


Os rituais com a utilização de sangue, bem como os pactos, ditos de sangue, remontam uma simbologia muito antiga e comum em muitas culturas, perpetuadas inclusive no imaginário infantil pós-moderno.
Trata-se de selar com a Terra um determinado compromisso, a fim de que este possa ser materializado. A Terra devolve as bênçãos a ela depositadas, diria a canção ritual.

Quanto a imagem do Cristo, definitivamente e a despeito da redenção, passa por um conjunto de sentimentos que foram impingidos aos homens com o intuito de culpa, o que seria cuidadosamente preservados por religiões, cuja doutrina é baseada na ausência absoluta do prazer.

Na qualidade de professora de Mitologias e Culturas Comparadas, pude ter acesso à pesquisas dialéticas sobre a questão da anulação do prazer, por este estar diretamente relacionado as coisas diabólicas. Um exemplo clássico são as esculturas, em que santos, anjos e mesmo Jesus, jamais são mostrados rindo. Quem dá gargalhada é o Diabo ! E todas as formas de prazer, o que inclui alimentação, sexo, riso, amor, enfim ... foram configuradas para a anulação do prazer e profundo sentimento de culpa.

Ainda na Alta Idade Média, os monges católicos rezavam enquanto comiam, afim de que o prazer fosse retirado de suas mentes e rir ... isto seria resgatado por Leonardo da Vinci, esse genial renascentista, através da pálida Mona Lisa. Miguelangelo, o escultor, também renascentista, foi acusado pela Santa Inquisição por abusar dos tons vermelhos e quando descobriram que o artista era assexuado, acharam que tinha o demônio em si ! E a coisa toda não pára aí, se extendendo ou se afrouxando conforme o pretígio sócio-político da Igreja, a exemplo da Reforma, que gerou o Renascimento e a Contra-Reforma que redundou no Movimento Barroco, com sua ostensiva e pesadíssima Inquisição.

A Idéia do sofrimento preservado, tão comum nas culturas ocidentais, inclusive modernas, foi marcado a ferro e a fogo nas almas humanas que intuem o pecado como um Ser concreto que caminha atrás de nós todo o tempo promovendo maus pensamentos e atitudes. Ora, convenhamos... foram mais de mil anos de catequese em prol da aniquilação do prazer e os efeitos estão aí, com todo o peso da manipulação das massas.

Grande parte da humanidade foi e ainda é afetada por este tipo de verdade, construída com esmero pelas religiões e que acabaram por gerar mais maldade do que bondade, mais frustações do que felicidades e mais complexos do que liberdade. Funcionou, funciona e funcionará ainda, enquanto o Diabo não for desmistificado.

A propósito, sobre a imagem do Diabo, há algo a ser acrescentado. Foi criada durante as primeiras Cruzadas, quando batalhões inenarráveis dos "soldados de Cristo" invadiram os costumes pagãos, impondo a eles uma imagem bizarra e uma doutrina representada por um homem sangrando na cruz! O mesmo se deu com os índios das Américas, a fim de que perdessem os vínculos com seus deuses. A Igreja não possuia, ainda, uma imagem eficaz de demônio e, percebendo que as catequeses eram inúteis e incompreensíveis àqueles povos, forjaram a imagem ideal com base nos atributos dos inimigos da Santa Igreja. Eram eles: O tridente de Netuno, as pernas de Pan, os chifres dos povos bárbaros... eis aí o Diabo como ele é, senão vejamos:

O tridente de Netuno, deus dos Mares ... cujo domínio marítimo incitava os homens à descoberta de além-mar. ( Toda a mitologia, sobretudo a clássica, fora varrida das Igrejas e considerada anti-cristã). As pernas de Pan, deus da música, semelhantes as do bode ou cabra ... A música é um conduto sem precedentes para a percepção de outras realidades e, até bem pouco tempo aqui mesmo no Brasil, foi proibida, como foi durante mais de mil anos. A música, dita profana, não obedecia aos padrões exigidos pelos ecleseásticos...A Música Barroca não tem pausas, a fim de que os demônios não possam habitá-la!

O Povos Bárbaros do Norte, saqueadores dos bens da Santa Igreja e considerados inimigos dela, usavam um pequeno capacete adornado com chifres e não admitiam a riqueza ecleseástica em face à pobreza generalizada dos povos das planícies e das florestas, sendo martirizados, quando não mortos, por possuirem seus próprios cultos, herdados dos Druídas e dos rituais à Deusa, Thor, Odin ... conforme a região dominada.

O culto a Jesus pregado na cruz é uma representação horrenda da necessidade de impor culpa e por meio dela controlar a humanidade, entretanto Jeusus é ressuscitado e caminha livre no coração dos homens sorridentes e contritos, Jesus, cujo ensinamento, basicamente, se resume em Amar e contemplar! Amar ao próximo e contemplar a Obra...
O resto, fica à critério de mentes inescrupulosas que reiventam o pecado, diariamente, em nome do Pai, Filho e Espírito Santo ... e não se amam!

Pandora do Vale
Aho!

Nota de rodapé: Guardo comigo um desenho feito a carvão, que incomendado a um hippie, revelam o Jesus que em mim habita. Ele tem cabelos longos e possui, acima da mão sob o queixo, um imenso sorriso!


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clube Pandora do Vale é Celina Beatriz Villanova. Menestrel, escritora, professora de "Mitologias e Culturas Comparadas" e escreve sob o heterônimo de Pandora do Vale.
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