A Raiva
por Elisabeth Cavalcante em EspiritualidadeAtualizado em 24/03/2005 11:58:33
A raiva é um dos sentimentos mais fortes que o ser humano costuma cultivar. Ela surge quando nosso desejo é contrariado, quando nos sentimos desprezados, diminuídos ou desvalorizados.
Ou seja, todos estes sentimentos têm sua origem no ego, aquela porção dentro de nós que sempre quer levar a melhor numa discussão, que não pode jamais deixar uma ofensa sem resposta e se preocupa em demasia com o julgamento alheio a nosso respeito.
Combater essa parcela de nosso ser não é nada fácil. Exige em primeiro lugar uma atenção permanente, um exercício de observação interior que pode nos ajudar a detectar quando nosso ego negativo entra em ação. Uma das reações mais comuns do ego negativo é culpar os outros por nossas próprias dificuldades, sempre buscar colocar em algo exterior a responsabilidade por nossas limitações e problemas.
Ao contrário, o lado luminoso de nosso ser, nosso Eu divino, ajuda-nos a tomar consciência de nossas pequenas fraquezas, nossos medos e limitações, e a encontrar forças para vencer nosso ego negativo. Para isso, é necessário que acreditemos na existência desse Eu Superior que se oculta em nossa consciência, e busquemos diariamente o contato com ele, de modo a guiar nossas ações por sua sabedoria. Este é o caminho mais seguro para aprendermos a controlar a raiva e a analisar exatamente, a cada momento, qual a verdadeira razão que se esconde por trás de nossa raiva.
Osho tem um texto muito interessante sobre a raiva, que gostaria de compartilhar com vocês, pois ele pode ser de grande ajuda na análise e compreensão de nossa verdadeira natureza.
Compreendendo e liberando a raiva
“Quando a raiva surge, imediatamente ficamos ligados na pessoa que nos deixou com raiva e nunca naquele que está sentindo raiva. Se você é a causa da minha raiva, imediatamente começo a pensar sobre você e esqueço de mim completamente, embora a parte efetiva seja eu, que fiquei com raiva.
Aquele que causou a raiva foi apenas uma causa, uma desculpa. Ele não importa mais. Ele jogou um palito de fósforo e explodiu a pólvora que existe dentro de mim. A centelha seria inútil se não houvesse munição dentro de mim. O que eu vejo não é a pilha de munição dentro de mim, mas a centelha do adversário. Então sinto que foi ele que causou todo o incêndio dentro de mim. A verdade é: ele apenas jogou um palito; foram os explosivos em mim que incendiaram. E também é possível que o homem possa não ter atirado o fósforo intencionalmente. Ele pode nem sequer estar ciente da conflagração dentro de você!
Você coloca toda a culpa por esse fiasco na outra pessoa. Assim, muitas das vezes o pobre homem não pode entender porque uma coisa tão pequena lhe perturbou tanto! A dificuldade é sempre essa. O assunto em questão é sempre bastante trivial, mas a raiva que é inflamada é colossal.
Assim, aquele que causa a raiva fica sempre com dificuldade de entender como uma afirmação tão comum pode provocar tanta ira! Você mesmo pode, às vezes, ter ficado admirado de uma simples fala sua ter encolerizado tanto uma outra pessoa. Mas essa é uma falácia natural. Todo o fogo que queima dentro de mim, eu sinto que foi você quem criou. Você joga a fagulha e a pólvora que existe dentro de mim explode. O quanto ela se espalha, é difícil de contar.
Sempre que a raiva se apodera de nós, nossa atenção fica focada na pessoa que a causou. Nesse caso, é difícil sair da raiva.
Quando alguém provocar raiva em você, esqueça a pessoa imediatamente e concentre-se naquele a quem a raiva está acontecendo.
(...)
E comece a olhar para dentro – para aquilo que está acontecendo dentro! Não reprima. Permita completa liberdade ao que estiver acontecendo. Feche-se no seu quarto e mergulhe totalmente no que está acontecendo. É melhor ver o que está acontecendo, da forma mais clara possível.
Se a raiva vocifera dentro, grite, berre, pule, fale, murmure, faça o que lhe aprouver. Feche as portas e observe a sua própria loucura em sua inteireza, pois os outros já a testemunharam muitas vezes. Só você que não viu; os outros já se divertiram às suas custas. Você só toma ciência quando a coisa acabou, quando o fogo se foi e só restaram as cinzas.
(...)
Se você quiser observar a raiva em sua inteireza, você terá que observá-la sozinho, na privacidade de seu quarto. Então, sozinho, você pode vê-la na totalidade, pois, então, não haverá nenhuma limitação. É por isso que aconselho a (Quando você estiver com raiva, feche-se no quarto, e deixe a raiva vir para fora em sua totalidade. Pegue o travesseiro, soque-o, mate-o... Transforme-o na(s) pessoa(s) que provoca(m) sua raiva e faça o que quiser com ele. E não deixe o quarto até que toda a raiva tenha sido queimada.) meditação do travesseiro(*) para algumas pessoas, de modo que elas possam observar sua raiva na totalidade”.
OSHO, The Way of Tao, V.1, # 5