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Agora que voltei para casa - Capítulo 32

por Angela Li Volsi em Espiritualidade
Atualizado em 17/12/2004 11:31:44


Foi assim que entrei em contato com S.

Estava preparada para receber um novo tipo de massagem, certamente mais forte e dolorida de todas as que conhecia.
Mal sabia eu que S., sem encostar um só dedo em meu corpo, me deixaria como se minha alma tivesse sido atravessada por um raio. Foi uma hora e meia de sermão, lembrando-me tudo aquilo que tinha feito ou deixado de fazer para chegar ao ponto em que estava, e alertando-me contra futuras conseqüências se insistisse em minha atitude de omissão comigo mesma.
Fiquei chorando o tempo todo enquanto ele falava. Basicamente, o que ele me lembrava era quanto tinha me afastado de mim mesma, colocando todas minhas expectativas nos outros, cobrando-me excessivamente e ignorando minhas verdadeiras necessidades. Em nenhum momento senti que ele estava sendo duro demais, eu estava chorando por reconhecer uma a uma todas as falhas que ele estava apontando. Senti como se meu eu superior estivesse falando pela sua boca.

Aquele também foi o ano em que minha mãe faleceu.
Uma vez alguém me disse que a morte coloca cada um em seu devido lugar.
Foi exatamente o que aconteceu comigo. É como se tivesse recebido uma ordem peremptória de que agora não havia mais desculpas para protelar certas providências que deveria ter tomado há mais tempo.
A primeira foi conseguir mudar de apartamento, coisa que estava tentando há muitos anos sem poder encontrar a energia suficiente.
A segunda foi enfrentar com coragem o novo trabalho comigo mesma que S. me apontava.
Entrei a fazer parte de um grupo que se reunia, uma vez por semana, na clínica de S., sob a coordenação da filha dele, A.
Desde o primeiro momento em que entrei naquele ambiente, senti que meu barco tinha finalmente encontrado seu porto seguro.
Nunca tinha estado num lugar tão despojado de marcas exteriores, e ao mesmo tempo tão aconchegante.

Ali não se reverenciava ninguém, não havia rituais nem roteiros pré-estabelecidos. Havia um pequeno grupo de pessoas, sentadas no chão, que aprendiam a ouvir a linguagem da própria alma.
O que me parecia incrível é que, mais uma vez, eu tinha sido guiada, sem que eu procurasse propriamente, para um lugar que só depois fiquei sabendo que se chamava SER, onde as pessoas faziam um trabalho de “auto-reconhecimento”.
Não só não perguntei de que se tratava antes de entrar, mas me pareceu a coisa mais natural do mundo estar ali, eu que precisava, justamente, me auto-reconhecer.
Tenho plena consciência de que é impossível transmitir os passos de um processo pessoal muito sutil, baseado em algo que não tem cartilha nem receita.
É exatamente essa característica que me prende até hoje a esse trabalho, e que faz toda a diferença com tudo o que experimentei até agora.
O fato de não haver um mestre iluminado, mas apenas cada um de nós, todos no mesmo pé de igualdade, faz com que me sinta suficientemente à vontade para tentar vencer minhas resistências.

O que S. nos leva a auto-reconhecer é aquilo que somos e representamos em termos de eternidade, para nos lembrarmos daquilo que viemos fazer nesta vida atual.
O diferencial que caracteriza este nossos trabalho é o fato de se levar em conta que viemos para esta vida com um propósito pré-estabelecido por nossa alma imortal e que nosso objetivo é lembrarmos dele para, a partir daí, fazer o que precisa ser feito. Partindo dessa premissa, todas as questões da vida assumem proporções muito relativas.
A armadilha mais comum é nos deixarmos envolver pelas questões terrenas, a ponto de esquecer o verdadeiro motivo que nos trouxe aqui. No fundo, é a eterna luta do ego contra a essência. Todo o trabalho consiste em resgatarmos nossa verdadeira essência, removendo todos os obstáculos que foram criados para nós mesmos pelo nosso ego.

Com a ajuda do grupo, conseguimos localizar estas armadilhas e, dependendo de nossa determinação, temos pelo menos uma chance de desmontá-las.
Não pretendo reproduzir o que acontece numa sessão, seria impossível e talvez inútil. Assim mesmo, vou tentar transmitir aquilo que me parece poder ser compartilhado, na esperança de que possa ser útil para alguém.

Eu vejo cada oportunidade de estar junto do grupo como um grande garimpo, em que cada um de nós pode descobrir preciosidades, dependendo de seu grau de comprometimento com o trabalho.
As pessoas que estão à nossa volta formam as peças de um grande mosaico que vai se formando à medida que o trabalho avança.
Com o passar do tempo, também fica cada vez mais claro que o grupo se forma segundo um desígnio superior. Ou seja: nada acontece por acaso (essa será uma máxima recorrente o tempo todo, e sempre verdadeira).
Todo o trabalho com o grupo se resume a prestar o máximo de atenção àquilo que cada um suscita em nós. É um exercício sutil de escuta, para aprendermos a acessar nossos verdadeiros sentimentos. Aos poucos, nos damos conta de que cada um de nós representa para o outro um espelho, em que vemos refletidas nossas questões, principalmente aquelas que nos recusamos a enxergar em nós mesmos.
Demorei para entender que quando alguém ou alguma coisa nos incomoda particularmente, em lugar de nos livrar do incômodo, é aí que devemos prestar mais atenção, porque certamente algo de muito importante de nós mesmos está sendo mobilizado.
Minha primeira dificuldade foi reaprender a compartilhar com os outros informações sobre mim mesma que não estava acostumada a revelar a ninguém.
Fiquei tempo demais guardando só para mim as coisas do meu “íntimo” (que não deve ser confundido com “intimidade”).
Certamente essa dificuldade minha tem a ver com o medo do julgamento, que por sua vez está ligado ao meu velho hábito de julgar tudo e todos, a começar por mim mesma.
No estágio em que me encontro, diria que minha dificuldade é tripla: uma, a de perceber o que estou sentindo; outra, a de acreditar que aquilo que estou sentindo é pertinente; terceira, a de conseguir expressar sem medo o que está vindo à minha mente.
E aí está o grande desafio: como deixar de filtrar tudo pela mente e permitir que seja o sentimento a se manifestar...


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clube Angela Li Volsi é colaboradora nesta seção porque sua história foi selecionada como um grande depoimento de um ser humano que descobriu os caminhos da medicina alternativa como forma de curar as feridas emocionais e físicas. Através de capítulos semanais você vai acompanhar a trajetória desta mulher que, como todos nós, está buscando...
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