Anam Cara - Parte 1
por Wagner Borges em EspiritualidadeAtualizado em 10/10/2003 11:11:24
Sentado ao lado de sua cama, eu vi meu amigo partir do plano físico de volta para casa.
Seu corpo espiritual desprendeu-se suavemente, imerso em uma massa de luz lilás.
Olhando aquela passagem interdimensional, lembrei-me de tantos momentos inesquecíveis junto dele. Quantas risadas, cara. Quantas brincadeiras bolamos juntos.
Mas, surgiu o câncer e o seu sorriso silenciou. Seu corpo definhou ao longo dos meses.
Fico imaginando a dor que ele sentiu nesse tempo. Por vezes, peguei-o gemendo baixinho. Eu sabia que ele não queria alarmar a ninguém. Mas, sua dor era bem visível.
Sabe, sentirei saudades. Porém, continuarei rindo com os nossos amigos comuns. Sei que ele ficaria chateado se nós ficássemos fazendo drama só porque ele não está mais aqui. Inventaremos novas piadas e brincadeiras e lembraremos dele rindo muito.
Será que ele está vendo essa lágrima teimosa caindo aqui no cantinho do olho? Não é de dor e nem de desespero. É uma gotinha de amor, filha de nossa amizade.
Fico quietinho ao lado do seu corpo abandonado e ergo a consciência ao Amor Supremo, PAI-MÃE de todos.
Peço aos amparadores que guiem o meu amigo na jornada além da carne. Se possível, que lhe contem uma piada durante o trânsito interdimensional. Sei que ele gostará disso.
Se a sua família não se importasse, eu colocaria um som para rolar aqui no ambiente. Escolheria aquele disco do Pink Floyd que ele gosta tanto. Seria a trilha sonora de sua passagem.
Meu amigo foi morar "do outro lado da vida", foi levar seu bom-humor para o extrafísico. Tenho certeza de que ele fará os espíritos soltarem muitas risadas gostosas.
PS: Enquanto eu digitava esses escritos, rolava aqui no som a bela música "Ruthless Quenn", da banda holandesa de rock progressivo "Kayak" (cd. "Close To The Fire").
- Wagner D. Borges -
Rio de Janeiro, 18 de setembro de 2000.
Passando a limpo esses escritos, lembrei-me de um texto inspirado do sábio hindu Sri Aurobindo:
Notas: * Anam Cara (celta): "Anam" é a palavra gaélica para alma; "Cara" é a palavra para amigo. Assim, Anam Cara significa amigo da alma.
