Até breve... Na vida além da vida...
por Wagner Borges em EspiritualidadeAtualizado em 24/01/2008 16:49:34
(Quando os Corações se Encontram no Grande Coração)
Olá.
Em primeiro lugar, nada de dar o tradicional “meus pêsames” a vocês.
Não sei fazer isso, ainda mais sabendo que ninguém morre.
Nem tenho como mensurar a dor da perda de um filho.
E acho que os pais não deveriam passar por algo assim.
Nenhum filho deveria desencarnar antes de seus pais.
Mas, quem sou eu para dizer o que deve acontecer ou não.
Há leis maiores que transcendem os nossos sentidos comuns.
E há coisas que não sabemos aqui nesse plano terrestre.
Não tenho uma mensagem dele para confortar vocês.
Mas, se me permitem, tenho uma mensagem minha mesmo:
“A dor da perda só é processada quando há aceitação do fato.
Sem aceitação, não há nenhuma superação, só revolta e sofrimento.
Não posso provar para vocês que há vida após a morte.
Só posso contar o que vejo nas viagens espirituais.
Se eu pudesse, levaria vocês comigo numa delas.
Então, vocês veriam todo mundo vivo ‘do lado de lá’.
E depois, voltariam para o ‘lado de cá’, cheios de alegria e de vida.
Vocês ainda sentiriam falta do rapaz, mas administrariam isso bem melhor.
Pai e mãe, - se é que posso chamá-los assim -, também sou pai.
Assim como há um Pai de todos nós, que está em tudo.
E não estou falando de um cara ‘lá em cima’, mas dentro de cada coração.
É Nele que penso agora, por vocês e pelo seu filho, para iluminá-los.
Ah, como eu gostaria de abraçar a vocês, por seu filho, para curar essa dor...
Ele sabe que vocês o amam muito. E está bem vivo, mais do que nunca...
Não está dentro de cova alguma, pois nada segura o espírito, que é luz.
Ele quer que vocês se lembrem do olhar dele, com brilho e clareza.
Sim, é isso. O grande olhar límpido dele, tão conhecido de vocês.
E vocês sabem da generosidade dele e de seu gosto espiritual.
Pai e mãe, é isso. Algumas palavras podem curar. Ninguém morre!
Não tenho como dizer mais, mas sei que vocês compreenderão o essencial.
Nada de pêsames ou cemitério. O lance da luz é no coração. O amor é maior!
E vocês se encontrarão, na hora certa. Por enquanto, apenas aceitem e se curem.
Vocês são bons pais e ele é um bom filho. Então, está tudo bem.
Confiem nesse amor de vocês e toquem a vida, do melhor jeito possível.
Que O Grande Espírito abençoe essas linhas e leve luz a vocês”.
PS: Desculpem-me se não posso dizer mais do que isso, mas não tenho nenhuma autoridade espiritual para atravessar os caminhos fora do momento em que o Alto determinar. Só posso lhes dizer que o grande olhar brilhante do seu filho continua brilhando por aí, tão vivo quanto antes, como deve ser...
Paz e Luz.
São Paulo, 18 de dezembro de 2007.
- Nota: Esses escritos foram direcionados para um casal que perdeu seu jovem filho único, assassinado durante um assalto em São Paulo. O rapaz freqüentava minhas palestras abertas sobre experiências fora do corpo e espiritualismo no IPPB. Em muitas delas o seu pai estava junto.
Para dar uma levantada no astral dos pais, escrevi essas linhas e enviei-as por e-mail para eles. E foi bem legal. Tanto que eles passaram os escritos para outras pessoas que também perderam filhos.
Depois, conversando com o pai do rapaz e sabendo que esses escritos tinham feito bem para outras pessoas, pedi permissão a ele para repassá-los em aberto para todos. Então, estou veiculando-os e torcendo para que cheguem a outros pais e filhos.
Oxalá, essas linhas renovem outros corações por esse mundão de Deus...
Obs.: Enquanto digitava essas linhas, lembrei-me de um texto presente na introdução do excelente livro “Consciência Cósmica”, do médico e escritor inglês Richard Maurice Bucke, em que ele homenageia o filho, que havia ido morar “do lado de lá”, no ano anterior. É uma dedicatória interplanos, cheia de amor e admiração, que não fala de saudade mórbida, mas de ânimo e consciência luminosa. Então, para iluminar seus corações, reproduzo o texto na seqüência. DEDICATÓRIA DA PRIMEIRA EDIÇÃO DO LIVRO “CONSCIÊNCIA CÓSMICA”
(Dedicado a Maurice Andrews Bucke; 1868-1899)
Querido Maurice:
Há um ano, nesse dia, na aurora da juventude, da saúde e da força, em um segundo, terrível e fatal acidente o levou para sempre desse mundo onde sua mãe e eu ainda vivemos. De todos os jovens que conheci, você era o mais puro, o mais nobre, o mais honrado, o de melhor coração. Na empresa da vida, você era laborioso, honesto, leal, inteligente e digno da mais ampla confiança. Como nos sentimos por ocasião da sua perda – como ainda nos sentimos – não o registraria, ainda que o pudesse. Desejo falar aqui de minha esperança confiante, não de minha dor. Eu diria que, mediante as experiências que constituem a base desse volume, aprendi que, a despeito da morte e da sepultura, apesar de você se achar além do alcance de nossa vista e audição, embora o universo sensorial testemunhe a sua ausência, você não está morto nem de fato ausente. Você permanece vivo e bem e não se acha longe de mim, nesse momento. Se me tivesse sido permitido, não entrar, mas – pela estreita fresta de uma porta entreaberta – lançar um rápido olhar nesse outro mundo divino, certamente eu poderia, então, estar apto para viver aquelas iluminadas palavras de Montana que o tempo apenas imprime cada vez mais profundamente em meu cérebro.
Agora, falta apenas um pouco mais para que estejamos juntos outra vez e, conosco estarão aquelas outras almas nobres e bem-amadas que partiram antes. Estou convencido de que o encontrarei e a elas também; você e eu conversaremos sobre mil coisas e também sobre aquele dia inesquecível e sobre tudo o que aconteceu depois; e perceberemos, claramente, que tudo fazia parte de um plano infinito que no seu todo era sábio e bom. Você me vê e aprova, enquanto escrevo essas palavras? Pode bem ser que sim. Você lê, bem dentro de mim, o que agora sinto e penso? Nesse caso, você sabe o quanto o queria enquanto viveu o que, aqui, chamamos de vida, e como se tornou ainda mais querido desde então.
Em razão dos liames indissolúveis de nascimento e morte, forjados entre nós pela natureza e pelo destino, por causa de meu amor e de minha tristeza, acima de tudo, em razão da confiança inextinguível e infinita que há em meu coração, dedico esse livro a você. Apesar de cheio de imperfeições, que o tornam indigno de sua aceitação, originou-se na certeza divina nascida da mais profunda percepção dos mais nobres membros de sua raça.
Até breve, meu querido rapaz!
- Seu Paii>
Por Richard Maurice Bucke
08 de dezembro de 1899.
- Texto extraído da introdução do livro “Consciência Cósmica”, de Richard Maurice Bucke, publicado no Canadá em 1901. Trata-se da melhor obra já produzida sobre o fenômeno da expansão da consciência – também chamada de samadhi (do sânscrito).
Esse grande livro foi publicado pela primeira vez no Brasil pela Editora Rener, do Rio de Janeiro, em 1982. Posteriormente, foi publicado pela editora da Ordem Rosacruz - AMORC. É obra de referência sobre o tema da consciência cósmica.
Para mais detalhes sobre a obra, favor ver no site da AMORC: link
Obs.: Há outro livro com o mesmo título, publicado pela editora Lorenz, de autoria de Rosabys Camaysar. É um bom livro, mas nem chega perto do tratado que o autor inglês realizou.