Chico Xavier: O Filme - Parte 2
por Acid em EspiritualidadeAtualizado em 07/04/2010 16:16:55
...continua
O filme termina e acontece algo inédito pra mim até então: as pessoas não se levantam, e continuam em silêncio assistindo aos créditos, enquanto Chico (o verdadeiro) dá sua entrevista ao Pinga-Fogo. Os créditos enfim terminam, e as pessoas saem em silêncio... Um lindo silêncio... E isso vem se repetindo em vários cinemas pelo Brasil.
A única falha do filme foi repetir nos créditos os trechos reais do Pinga Fogo, exatamente o que já havia sido falado no filme. Havia tanto o que partilhar de novo, que não tem como não achar um desperdício de oportunidade para os ensinamentos de Chico (na verdade Emmanuel, que estava do lado) chegarem ao grande público. Mas fica a semente, e quem quiser ver o programa Pinga Fogo em sua totalidade pode comprar o DVD (que tem, inclusive, a segunda participação que ele fez no mesmo programa, um ano depois) ou caçar trechos no Youtube (não tem tudo).
Deixando o filme de lado e falando sobre a pessoa Chico Xavier, podemos perceber que a entrada no Espiritismo (doutrina então obscura, vinda da França) se deu mais porque foi o único grupo que o acolheu e respondeu a seus questionamentos, dando um sentido ao que estava acontecendo com ele. Claro que isso não foi ao acaso, já que, observando toda a sua vida, vemos que foi um planejamento da espiritualidade para ele ser o introdutor (de fato) e modelo do Espiritismo no Brasil. Mas fico aqui a pensar, se ele tivesse tido acolhimento na Igreja Católica, se não teria sido o primeiro santo brasileiro. Afinal, a única "prática espírita" de Chico era a psicografia. A caridade, o amor, a visita aos presos, tudo isso são práticas cristãs que ele nunca negou como tais. Todo o desenvolvimento do corpo doutrinário do espiritismo, através dos livros psicografados por Chico, não foi o Chico que escreveu, como ele mesmo dizia. Então poderíamos dizer que ele foi um modelo de cristão para toda a humanidade.
Com isso em mente, comecei a procurar na bíblia como agiam os primeiros cristãos. Fiquei um tanto quanto desapontado, quando li em Atos dos Apóstolos o discurso de Pedro, com coisas como "Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para remissão de vossos pecados", ou "toda alma que não ouvir a esse profeta, será exterminada dentre o povo", e o efeito que isso causava: "Em cada alma havia temor, e muitos prodígios e sinais eram feitos pelos apóstolos". Fiquei meio ressabiado. Quando li a desventura do pobre e "vacilão" Ananias, meu estranhamento se transformou em repulsa:
Mas um certo homem chamado Ananias, com Safira, sua mulher, vendeu uma propriedade, e reteve parte do preço, sabendo-o também sua mulher; e levando a outra parte, a depositou aos pés dos apóstolos. Disse então Pedro: Ananias, por que encheu Satanás o teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo e retivesses parte do preço do terreno? Enquanto o possuías, não era teu? E vendido, não estava o preço em teu poder? Como, pois, formaste este desígnio em teu coração? Não mentiste aos homens, mas a Deus. E Ananias, ouvindo estas palavras, caiu e expirou. E grande temor veio sobre todos os que souberam disto. Levantando-se os moços, cobriram-no e, transportando-o para fora, o sepultaram. Depois de um intervalo de cerca de três horas, entrou também sua mulher, sabendo o que havia acontecido. E perguntou-lhe Pedro: Dize-me, vendestes por tanto aquele terreno? E ela respondeu: Sim, por tanto. Então Pedro lhe disse: Por que é que combinastes entre vós provar o Espírito do Senhor? Eis aí à porta os pés dos que sepultaram o teu marido, e te levarão também a ti. Imediatamente ela caiu aos pés dele e expirou. E entrando os moços, acharam-na morta e, levando-a para fora, sepultaram-na ao lado do marido. Sobreveio grande temor a toda a igreja e a todos os que ouviram estas coisas.
(Atos 5:1-11)
Isso não parece coisa de Cristo. Parece mais o modo de operar de certas denominações evangélicas. Ananias e sua esposa certamente não venderam sua propriedade de bom grado e com certeza no coração; me pareciam mais constrangidos a tal (provavelmente pelo tal " (Palavrinha que aparece CINCO vezes só em Atos dos Apóstolos.) temor(*) a Deus e ao Espírito Santo"). Jesus não veio implantar o comunismo compulsório, nem dízimo, nem o medo de Deus. Por que então seus apóstolos se deram esse direito?
Chico Xavier seria, então, um cristão, no sentido de "apóstolo de Cristo"? Um homem que trocou o "temor" pelo "amor" (como, aliás, fez Jesus) não merece ser confundido com práticas doutrinárias distorcidas de milênios atrás. Como Jesus ensinou, "não se põe vinho novo em (Esses vasilhames eram de pele ou couro de animais, feitos em diversos moldes e utilizados como garrafas. Ninguém pensaria em pôr vinho novo num odre velho que já perdeu a elasticidade, pois certamente se fermentaria e arrebentaria. Já Alexander B. Bruce defende que `Jesus não estava pensando absolutamente em vinho fermentado, intoxicante, mas de mosto, uma bebida não intoxicante, que podia ser mantida com segurança em recipientes novos de couro, mas não em velhos odres que haviam guardado vinho ordinário antes, porque partículas de matéria albuminóide aderida ao couro produziriam a fermentação e desenvolveriam o gás com uma enorme pressão´) vasilhames velhos(*), do contrário se arrebentam. Perde-se o vinho, e perde-se o vasilhame. Mas põe-se vinho novo em vasilhames novos, e assim ambos se conservam". E é por isso, então, que Chico Xavier está melhor denominado como "Espírita". Em um sentido não tão próximo do estipulado por Kardec (mais racional e menos emotivo), mas sim do exemplo de Jesus. Infelizmente Chico acaba sofrendo do mesmo mal que assolou Jesus: a idolatria. Em vez de seguirem seu exemplo, a maioria se satisfaz em idolatrá-lo, colocá-lo num altar, fazer pedidos e achar que com essa babação estão "salvando sua alma". Chico é um guia, como muitos que vieram à Terra pra nos mostrar o caminho através de ações. Do que precisamos mais na Terra: De "Lady Gagas" ou "Chicos"? E como estamos educando nossas crianças? Pra admirar e se espelhar em um, ou outro?
Nos sites sobre Chico encontrei um relato de Daniela Assunção, que comove pela singeleza e como uma criança foi tocada pelo amor desse médium. Nos lembra o quanto estivemos "perto" dele, do quanto ele estava presente em nossas vidas, na nossa (pelo menos a minha) geração.
"Quando tinha por volta de 10-12 anos, meu nariz sangrava sem motivo algum durante a noite. Procurei médicos e fiz exames, que nada constataram de anormal. Minha mãe ficou sabendo na época que Chico Xavier prescrevia medicamentos através de cartas, que deveriam ser escritas de próprio punho pela pessoa que tivesse qualquer tipo de problema de saúde. Assim o fiz, escrevendo apenas, com minha letrinha infantil, meu nome completo, data de nascimento e idade. NADA MAIS. Enviei pelo Correio com outro envelope já endereçado e selado para resposta. Em menos de 15 dias, recebi uma carta, uma espécie de receita médica, com um medicamento (não lembro agora o nome) e uma vitamina. Fomos à farmácia e lemos a bula. BINGO! Era exatamente o que eu precisava: algo que tinha a ver com o tal sangramento, com problema de coagulação... Perdoem-me por não lembrar de todos os detalhes. Eu era criança e isso já faz mais de 20 anos. Só me lembro que fiquei realmente impressionada por não ter escrito NADA sobre o problema que tinha e não ter estado na presença dele para receber esta cura. Sou muito grata a Chico Xavier e a todos que trabalharam com ele e faziam ser possível atender a tantas pessoas, de formas diversas, por tanto tempo. Mesmo doente, fraco... ainda assim se doava aos outros cumprindo sua missão nesta vida. Qualquer outro comentário a respeito de sua personalidade é pura falta de foco pra não se olhar para a verdade. Obrigada por esta reflexão".
Infelizmente isso é verdade. Porque é mais fácil (e bonito) venerar o brilho do diamante lapidado do que lapidar a pedra bruta em nós.
Referência:
Programa Pinga Fogo;
Chico Xavier, charlatão?