Existir bem, no seu agora
por Silvia Malamud em EspiritualidadeAtualizado em 13/02/2004 14:39:53
Em nossa jornada aqui na Terra a todo momento somos confrontados por situações que insistem em nos mostrar a real importância do nosso existir. Infelizmente, como na maioria das vezes, já estamos acostumados a usar um véu espesso sobre os nossos olhos, acabamos por tentar grudá-lo cada vez mais forte sempre que algo ameaça a possibilidade do despertar de uma visão mais eficaz de realidade.
Penso no fluxo do tempo e me situo entre o espaço de tempo em que passei vivendo como um autômato e no momento em que fui percebendo a força de um agora permanente.
Pergunto-me se ter permanecido no estado anterior terá sido muito demorado.
Não sei se foi, mas tenho certeza de que mudar de um local para outro é um divisor de águas. Este tipo de mudança nos impõe o fato de estarmos ininterruptamente num lugar onde passado/presente e futuro se tornam um. É o lugar em que sabemos e sentimos um montante vivencial, onde a todo instante uma transformação torna-se viável.
Não tenho respostas claras para que se destina a nossa vinda para este plano. Nem ao certo do porquê existimos. Apenas sei que somos acometidos por um imenso prazer quando criamos, quando adquirimos conhecimento e quando sentimos amor. A vida faz sentido e vale a pena quando estes três fatores - nas suas várias amplitudes - estão acontecendo simultaneamente.
Sinto, porém, que estamos em meio a algo que é infinitamente maior do que a nossa reduzida percepção sobre o que significa o nosso existir. Leis, escritos e religiões nem de longe alcançam uma explicação que satisfaça a humanidade neste outro lugar alcançado. Não existem verdades impostas que sejam absolutas.
Sei que determinados assuntos que nos vêm à consciência com grande intensidade e lucidez nos mostram uma certa urgência em se atualizar neste plano e que estes assuntos podem estar muito além dos três motivos acima citados. Sei também que, embora haja empecilhos, a urgência do viver com qualidade e prazer na possibilidade de se expandir, torna esta possibilidade mais do que uma simples e fortuita experiência do existir. Esta questão, pela amplitude em que se apresenta, nos coloca numa urgência a ser vivida, evidenciando cada vez mais que, sem a concretização da experiência requerida pela consciência, tudo permanecerá em preto e branco. Por vezes a emergência da lucidez acontece se sobrepondo a cenários com “belas” aparências, exigindo da pessoa um resgate trabalhoso.
Podemos continuar vivendo em preto e branco, fazendo de conta que é colorido? Sim, como sabemos, podemos tudo, até nos enganarmos tentando acreditar a qualquer custo que estamos corretos em nome de uma pseudo-segurança construída através de um ideal de família ou de trabalho, por exemplo; mas estaremos corretos em quê? E para quê?
Novamente vejo que, existindo sob esta vertente, estamos como que mergulhados no mar existencial do sono anestésico que assola este planeta. Ao perseguirmos “metas precisas”, sem nos darmos o espaço de existirmos de fato nos aspectos que colorem de verdade as nossas existências, estaremos totalmente atolados no que mais trava nosso verdadeiro crescimento.
Deste modo, a vida e a existência em si caminham de maneira fria e precisa e acabamos por embutir os nossos mais preciosos momentos e sentimentos que na certa poderíamos expressar em sua plenitude.
A nossa existência é multidimensional e a nossa consciência tem a capacidade de viver seus aspectos no seu melhor patamar onde quer que esteja focada. Talvez esta seja uma fórmula para simplificarmos tantos eus atuantes em outras lâminas de realidades, ou uma forma de não sentir a morte iminente em vida, seja em que dimensão de tempo/espaço estivermos, porque, afinal, tudo é uma coisa só.
Por exemplo, não são poucas as vezes em que acordamos de um suposto “sonho” e ficamos impressionados com determinadas vivências que tivemos, sendo que na grande maioria das vezes, estes sonhos não passam de aspectos nossos ainda não concebidos por nós mesmos e, portanto, não atualizáveis neste plano. Deste modo estes mesmos aspectos podem aparecer do “outro lado” de modo impreciso e por meio de simbolismos repletos de pacotes emocionais devido a situações pessoais mal resolvidas.
Dar-se a oportunidade de viver pelo prazer e sustentar este estado não é fácil para ninguém, porque bancarmos um estado ótimo não é costume, ou talvez ainda não saibamos o que é este estado, ou temos medo, por mais incrível que possa parecer, de sermos felizes. Temos medo também de entrarmos em contato lúcido com os porões das nossas consciências bancando tanto o melhor como o pior que existe dentro de nós.
Tentamos driblar a morte quando deixamos para depois o que pode ser feito agora, imaginando que sempre haverá um tempo a mais. Por mais experiências extrafísicas que tenhamos, a morte existe nesta realidade como um conceito de finitude, portanto de limite. Deixamos de fazer o que nos é importante porque assim inventamos para nos mesmos a nossa imortalidade na terra, deixando o bem-estar e o viver bem para depois... Mas quando para depois se a vida é apenas o momento do agora no qual estamos existindo?
Já pensou que você sempre terá só isso, ou seja, o seu agora e que isso é o seu tudo? E que se você não mudar o seu padrão, que o seu agora permanecerá o mesmo por toda uma eternidade e que isso sim é que é a morte propriamente dita?