Felicidade
por Elisabeth Cavalcante em EspiritualidadeAtualizado em 13/12/2007 16:28:20
Todo aquele que inicia sua jornada no autoconhecimento, deve estar preparado para os desafios que encontrará pela frente. O principal deles é quando suas escolhas, decisões e opiniões, passam a se confrontar com as do restante do mundo. De modo geral, surgem conflitos com as pessoas mais próximas, como a família e os amigos, que não conseguem compreender suas atitudes, agora ditadas por seu guia interior.
Nesses momentos, podem surgir dúvidas quanto a essas escolhas, e o temor da rejeição por parte daqueles que se contraria. De fato, muitos poderão afastar-se de nós, e de outros nos afastaremos voluntariamente, já que não encontraremos nessa convivência a mesma sintonia de antes, quando éramos direcionados por nosso ego frágil e carente de aprovação.
O medo da desaprovação, aliás, é um dos motivos que leva muitas pessoas a agir de acordo com as expectativas que os outros nutrem a seu respeito, e não em sintonia com seu coração. Desse modo, garantem atenção e sentem-se pertencentes a um grupo, ainda que este não seja capaz de ajudar a preencher o seu vazio ou a reduzir a sua miséria interior.
É necessário coragem para romper com tais padrões de comportamento e, quando a dúvida surgir, basta lembrar-se que a felicidade deve ser sempre o critério a guiar nossas escolhas. Se estivermos infelizes, precisamos tomar decisões que nos libertem desta infelicidade, ainda que estas decisões contrariem o restante do mundo. Nem sempre podemos, a um só tempo, satisfazer nossos anseios e as expectativas que os outros alimentam sobre nós. Aliás, na maioria das vezes, esta conciliação não é possível.
Portanto, por mais que nos acusem de egoístas ou individualistas, o importante é termos em mente que o amor por si mesmo e a busca da paz interior deve ser sempre a nossa principal diretriz.
Se em algum momento tivermos de escolher entre nossa própria felicidade e a de outrem, devemos fazê-lo com total consciência. Aqueles que escolhem sempre o bem estar alheio, em detrimento de si mesmos, pagam um alto preço e mais cedo ou mais tarde, acabam cobrando dos outros por uma escolha que foi unicamente sua.
Perceber, a cada momento da vida, se estamos verdadeiramente felizes, exige uma consciência sempre alerta sobre nossos reais sentimentos. Este é o caminho mais seguro para que não tenhamos dúvidas quanto às nossas escolhas.
“Perguntaram a Shibli: ‘Quem o guiou no Caminho’?
Shibli respondeu: ‘Um cão. Um dia eu o vi, quase morto de sede, parado junto à água. Toda vez que ele olhava seu reflexo na água, ficava assustado e recuava, porque pensava ser outro cão.
Finalmente, era tamanha a sua sede, que abandonou o medo e se atirou para dentro da água; com isto, o reflexo desapareceu.
O cão descobriu que o obstáculo - que era ele próprio -, a barreira entre ele e o que buscava, havia se desvanecido.
Da mesma forma, meu obstáculo se desvaneceu quando eu soube que aquilo que eu pensava ser eu mesmo, era o próprio obstáculo. E o meu Caminho foi-me mostrado, primeiro, pelo comportamento de um cão’.
... Esta estória do Mestre Shibli é muito bonita.... Um homem que está pronto a aprender, pode aprender de qualquer lugar. Outro que não está pronto, não pode aprender nem mesmo de um Buda. Depende de você. Um cão pode se tornar um deus, se você estiver pronto a aprender. Mesmo um deus pode não parecer um deus, se você não está pronto.
No final de tudo, depende de você. Estar pronto a aprender significa estar aberto a todas as possibilidades, sem preconceito. ... De outro modo, quem observaria um cão? Você nem tomaria conhecimento, passaria por ele e perderia a oportunidade que fez de Shibli um homem transformado, que se tornou um guia.
‘Quem o guiou no Caminho?’, alguém perguntou a Shibli.
Jamais podia pensar que ele responderia: ‘Um cão. Um dia, eu o vi, quase morto de sede, parado junto à água':
Esse é o lugar onde todos vocês estão: junto da água, quase mortos de sede. Mas alguma coisa os impede, porque vocês não estão saltando para dentro. Alguma coisa os segura. O que é? É uma espécie de medo. Porque a margem é conhecida, é familiar, e pular no rio é ir em direção ao desconhecido.
O conhecido é sempre morto como uma margem e o desconhecido é sempre fluido, fluido como um rio.... O medo sempre diz: ‘Agarre-se àquilo que é familiar, conhecido’. E então o medo faz você se mover em círculos, porque somente um caminho circular pode ser familiar. Você se move sempre e sempre no mesmo traçado. Tudo é conhecido.
Alguém perguntou a Buda: ‘Você diz que a Verdade não pode ser ensinada. Então porque ensina? E diz que ninguém pode forçar qualquer pessoa a alcançar a Iluminação, então por que trabalha tanto com as pessoas’?
E dizem que Buda respondeu: ‘A Verdade não pode ser ensinada, mas a sede sim. Ou, pelo menos, você pode tornar-se consciente de sua sede - que está sempre presente, mas você a reprime’. Por causa do medo, você reprime a sede. Você continua reprimindo o que está continuamente ali. Um descontentamento profundo com tudo que está à sua volta. Um descontentamento divino, uma sede.
‘O cão descobriu que o obstáculo’ ... não estava fora, era ele próprio. ...Ele próprio era a barreira entre sua sede e a água, sua fome e a saciedade, seu descontentamento e a satisfação, sua busca e a meta, sua procura e o encontro. Não havia ninguém mais, exceto seu reflexo na água.
E esse é o caso, exatamente, o caso de todos vocês, com todos. Ninguém os está impedindo. Algo como uma espécie do seu próprio reflexo entre você e seu destino, entre você como semente e você como flor - não há ninguém mais impedindo, criando qualquer obstáculo. Portanto, não continue a jogar a responsabilidade nos outros. Essa é uma forma de se consolar. Deixe de consolar-se, deixe de ter autopiedade. Olhe profundamente no espelho. E todos são um espelho à sua volta. Olhe fundo - você descobrirá seu próprio reflexo em toda parte.
... Assim, seja qual for a situação, fique atento. E observe sem qualquer preconceito. Observe sem o passado, sem um pensamento de sua parte. Não interprete. Observe! Se seus olhos estão claros, se sua percepção está clara, e você observa silenciosamente, todas as situações o conduzem ao Divino. É assim que deveria ser! Cada situação, cada momento da vida, conduz ao Divino.
OSHO - do livro “Antes que você morra”.