Festas de luz
por Adília Belotti em EspiritualidadeAtualizado em 20/12/2007 15:08:22
Fico pensando que entre as visões que habitam o coração da alma, uma das mais primordiais deve ser a experiência da luz e da sombra, do dia e da noite... é a partir dessa vivência que a gente vai dando forma ao sagrado, rosto para o divino...
É claro que talvez entre os povos das selvas, acostumados à penumbra da mata, o "céu aberto" pode ser tão ameaçador quanto um poço profundo. Mas, de modo bem geral e correndo um certo risco de perder todas as nuances que tornam a vida da alma tão extraordinária, dá para a gente dizer que nossos ancestrais recebiam o Sol que nascia confiantes e esperançosos. A luz trazia a certeza da vida, as gentes despertavam junto com o Sol, para um dia sempre novo, porque eternamente ameaçado pelas trevas, pela sombra, por aquele entre parênteses de inconsciência chamado A Noite.
As crianças sabem disso até hoje, "O que é que tem atrás do escuro, mãe?". "Nada, filho. Não tem nada atrás do escuro que já não estivesse lá enquanto estava claro". Está bem, mas no fundo, no fundo, quem acredita? As trevas parecem conjurar o mistério. E mesmo em tempos tão feéricos de luzes artificiais, como os nossos, apagar a luz de um quarto e mergulhar na sombra, ainda deveria, e talvez até seja ainda, uma experiência fundamental, uma ousadia...
Deve ser essa a origem das "celebrações da luz", momentos em que nossos bisavós exorcizavam o medo do escuro e da morte, acendendo fogueiras, velas, tochas e invocando a proteção dos deuses, fontes de luz, quando não o próprio Sol.
Chanucá, o festival de oito dias que os judeus começaram a celebrar ontem, ao anoitecer, é uma destas antiquíssimas "festas da luz". A palavra quer dizer "dedicação" e a festa celebra, na verdade, uma revolução, a revolta de um pequeno grupo de camponeses contra a profanação do Templo de Jerusalem, transformado em jardim sagrado dedicado ao deus grego Zeus. Depois de vencer um exército inteiro, o minúsculo grupo, quase que só uma família, liderado por Judas, o Macabeu, preparou-se para a mais sagrada das tarefas, limpar e purificar o santuário.
Ao acender no altar a primeira das luzes do castiçal (menorá) que deveria durar oito dias, eles se deram conta de que não havia azeite suficiente para queimar. Mesmo imaginando que todo o ritual seria perdido, eles terminaram a purificação do templo. E as luzes do menorá brilharam milagrosamente durante os oito dias. Chanucá é o nome do menorá, e significa "dedicação".
A foto mostra o rosto cheio de expectativa do garoto na Hungria, esperando que a luz do menorá, o Chanukiá gigante de Budapeste seja acesa. A luz, essa graça diária, é mesmo o maior dos milagres!