Idéias para criar um canto só seu
por Adília Belotti em EspiritualidadeAtualizado em 11/11/2005 11:59:55
"Ou sai o papel de parede ou saio eu", teria dito o escritor Oscar Wilde, ao se registrar em um hotel de Paris. A bela Gisele Bundchen confessou recentemente: "sou maníaca por ordem" e Coco Chanel enchia seus salões de ramos de trigo para atrair boa fortuna... sim, os ambientes nos afetam de muitas e poderosas formas e os lugares onde vivemos dizem muito sobre nós...
Mesmo assim, quanta gente não carrega a casa nas costas, como um fardo arrastado entre choramingas e lamúrias pela estradinha sem graça da vida. E quantas outras abrem mão da possibilidade de expressar-se através do ambiente onde vivem e simplesmente delegam o assunto para os outros, condenando-se a viver em casas com almas emprestadas, em geral, do decorador mais fashion ou do arquiteto da moda. Que desperdício, hein?
Afinal, a imagem de casa está impressa na nossa imaginação, faz parte dos nossos mitos mais antigos. Casa: um lugar para onde voltar, um refúgio, um abrigo... e que seja quentinha, aconchegante e nos proteja dos tumultos da vida.
"Do momento em que nascemos somos chamados a viajar de volta para casa”, ensina o arquiteto americano Anthony Lawlor, conhecido por trazer alma para o design arquitetônico, e continua “Nos lugares e nas pessoas a gente busca aquela sensação difícil de definir de ser bem-vindo. O lar é o objetivo das jornadas épicas do espírito humano”.
Não dá para abrir mão da chance de criar um canto seu, com a sua cara, onde você possa “guardar os amigos, os livros e os discos, e nada mais”... assim, feito na música!
Então reunimos algumas idéias aqui para inspirar você a criar seu canto...
Faça sua casa acompanhar o ritmo das estações
É Chris Campos, no seu livro fofo, Casa da Chris, quem sugere. No verão, colchas de piquet, almofadas coloridas, flores da estação. Inverno pede mantas quentinhas jogadas nos braços do sofá, cores de terra, tapetes fofos, luzes de velas... trazer para dentro de casa elementos da natureza, que tenham a ver com as mudanças e os ritmos das estações torna seu canto vivo e faz sua alma brincar com o momento presente. Uma idéia: na próxima vez que for caminhar, preste atenção nas sementes caídas no chão. Algumas são enormes e ficam lindas juntas, formando um arranjo na estante, por exemplo...
Aprenda a criar cantos
Tenho uma amiga que é mestra nesta arte tão difícil: reunir objetos de modo a que eles formem um conjunto harmonioso, onde os olhos pousem um minuto, feito pássaros, e se encantem. O truque é agrupar objetos com tema ou cor ou forma semelhante em vez de deixá-los espalhados aqui e ali. Uma conchinha solta num móvel pode não ser nada, mas junte três, coloque-as numa cesta e veja como elas surgem diante dos seus olhos.
Ou divirta-se sendo minimalista
A jornalista Beth Lima, no seu livro gostoso e cheio de idéias “Como arrumar a casa”, ensina que a máxima minimalista cunhada pelo mestre Mies van der Rohe, “Menos é Mais” pode facilmente virar “Menos é Tédio”. Os japoneses são mestres em explorar as possibilidades dos espaços vazios. Mas, minimalismo sem alma é mesmo puro tédio. Por isso, vá com calma, experimente com detalhes. Gosto de colocar um único vaso imenso de vidro com uma flor amarela sozinha - uma gérbera, por exemplo, sobre um aparador encostado numa parede branca... parece que o arranjo puxa o olho - ou funciona como “ponto focal” no ambiente...
Não tenha tanto medo das cores
Siga o conselho de Beth Lima e ouse na escolha das cores, afinal, o pior que pode acontecer é você ter que comprar outra lata de tinta e pintar tudo de novo. Por outro lado, “bege não precisa ser sem graça”, ela adverte e acrescenta, “branco-sujo, 'taupe' (aquela cor meio café com leite) e marrom são repousantes e muito chiques”. E o último exemplar da Martha Stewart Living estava cheio de paredes daquele verdinho fresco da Tiffany's... Cor é uma delícia! Lembra da poesia de Adélia Prado? Impressionista...
Uma ocasião,
meu pai pintou a casa toda
de alaranjado brilhante.
Por muito tempo moramos numa casa,
como ele mesmo dizia,
constantemente amanhecendo.
Sinta sua casa
Ambientes são feitos de luz, de sombras, de cores, da paisagem ao redor, dos ruídos em volta... antes de fazer qualquer mudança, passeie por sua casa tentando sentí-la: em que canto está faltando luz, onde dá vontade de sentar e ler, e qual seria a janela ideal para você apreciar a vista enquanto escreve no seu diário, por exemplo. As casas têm alma e vontade próprias, não adianta forçar. Durante anos eu tentei fazer minha família usar a porta de entrada que dava na garagem, muito mais prática, fácil, à mão, melhor feng shui... não houve jeito! Todo mundo preferia dar toda a volta na casa e entrar pela cozinha... acabei desistindo e incorporei o hábito familiar, transformando um pedaço da cozinha num hall com mural de recados e tudo!
Coisas que falam de você
Os objetos afetam nosso estado de espírito e interferem no nosso humor. Mesmo sabendo disso, a gente acaba guardando coisas que não nos dizem nada, não fazem nenhum sentido, ficam ali, como se pertencessem a uma outra pessoa. Guardamos até objetos que nos trazem más recordações, simplesmente porque não conseguimos nos ver livres deles... aproveite a primavera para mudar isso. Dê uma voltinha pela sua casa tirando todos os objetos, fotos e enfeites que por alguma razão - qualquer razão - você não goste. Não precisa ser racional, ao contrário, tente ouvir o que sua intuição diz. Arrume tudo numa mala e deixe longe da sua vista por algum tempo. Depois desse tempo, aí sim você pode decidir o que vai manter e o que vai doar para alguém...
Andei lendo uns livros muito interessantes sobre casas, cantos, jeitos gostosos de viver...
- Como arrumar a casa, Beth Lima, Editora Record;
- link da Chris, Chris Campos, Editora Record;
- A Home for the Soul, Anthony Lawlor, Potter.