Individuação, um desafio para o Ego
por Elisabeth Cavalcante em EspiritualidadeAtualizado em 20/10/2003 12:41:51
Carl Gustav Jung definiu como individuação o processo pelo qual o ser humano chega ao autoconhecimento, e é levado a estabelecer contato com o seu inconsciente, não só com o inconsciente pessoal (integrando as sombras), mas também como o seu inconsciente coletivo.
Nessa integração, o que se faz é sempre a separação do que é consciente daquilo que é “não consciente”. Para integração dos arquétipos torna-se necessário fazer essa distinção, caso contrário os conflitos continuam ou se intensificam.
O objetivo desse processo ou sua etapa final é a chegada ao self, ao centro da personalidade. Quando chega a esse centro, o ser humano realiza-se como individualidade, como personalidade.
O self, que se apresenta como um projeto desde o início de nossa vida, é o modelo do ser humano completo, a matriz de todo progresso do ser, o padrão segundo o qual se desenvolvem as características de individualidade de cada um. Sua apresentação desde o início da vida se realiza através dos sonhos de crianças, sonhos em que aparecem imagens arquetípicas desse centro, ou seja, os símbolos do self.
A chegada ao self é, muitas vezes, precedida por angústia, ou por muita ansiedade, uma ansiedade à qual todo terapeuta deve estar atento. Essa ansiedade está associada à aquisição de uma maior consciência de si próprio, que o indivíduo está atingindo.
Aquele que ouve e dá atenção à grande tensão interior que precede o processo do autoconhecimento, terá a chance de alcançar as profundezas do seu ser, e “integrar” a vivência dos arquétipos de forma consciente.
A individuação geralmente é desenvolvida dentro de um processo terapêutico, mas também pode acontecer de forma natural. Não é impossível que alguns cheguem a realizá-la sozinhos. São Nicolau, na Idade Média, teve as visões do deus e da deusa, elaborou uma mandala (símbolo iconográfico do self) e trabalhou com o inconsciente coletivo sem auxílio.
Do mesmo modo, muitos outros homens altamente significativos para seu tempo chegaram a uma personalidade que nos parece completa, sozinhos, para o que é necessária uma ampla e intensa vivência interior.
Jung também chegou a se individualizar sozinho, mas através da psicoterapia junguiana, que ele mesmo descobriu, um método que foi experimentando consigo mesmo de forma totalmente intuitiva, sem que ninguém lhe tivesse ensinado.
A chave nesse processo é jamais ignorar os sentimentos, enfrentar as angústias, os medos e as dificuldades com coragem, buscando a raiz, a fonte de onde se originam tais problemas. Este processo de investigação interior pode se feito através de vários instrumentos como a terapia psicológica, que pode incluir a regressão psicológica à infância, (ou até mesmo à fase uterina), a consulta aos oráculos como forma de trazer à tona os conteúdos inconscientes, a meditação, processo pelo qual se realiza a conexão com o Eu Superior, aquela dimensão do ser que transcende o ego, que tudo sabe e compreende, pois é onde reside a sabedoria divina em nós.
Apesar de doloroso, o processo de individuação, é o que nos libertará de uma vida massificada, totalmente dominada pelo ego, em que seguimos o pensamento da maioria sem qualquer escolha pessoal. A tomada de consciência é essencial, mas não é tudo, ela nos torna mais responsáveis por nós mesmos e por nossos atos, e a partir daí cabe a cada um decidir se vai ou não aceitar essa responsabilidade.
Atingir o self, não significa chegar à perfeição, mas sim ter uma visão realista de si mesmo, e o entendimento de que o progresso interior é algo a ser trabalhado durante toda a vida, pois novos desafios surgirão o tempo todo durante nossa existência.
Porém, uma personalidade integrada enfrentará esses desafios com muito mais coragem, discernimento, equilíbrio e serenidade.